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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 203 668

onde a maioria deles iria constituir família e viver o resto de seus dias.
Continua hoje, com o fervor de sempre, a obra dos padres portugueses na América a manter, entre os seus paroquianos de origem portuguesa, a noção dos valores espirituais herdados e o carinho pelas tradições culturais que por destino lhes pertencem.

Sr. Presidente: A messe é enorme e os trabalhadores são muito poucos. Em 1950 havia nos Estados Unidos da América apenas 62 sacerdotes portugueses, 24 dos quais chefiavam paróquias separadas, quantas vezes, de grandes distancias e incapazes, portanto, de satisfazer as necessidades de assistência religiosa aos 500000 luso-americanos. Mesmo que os agrupamentos de população luso-descendente se concentrassem em regiões pouco extensas, ainda caberia a cada sacerdote a protecção espiritual de 80645 almas !
Foi a partir de 1911 que começaram a fixar-se na América do Norte mais padres portugueses, idos dos Açores - o primeiro a entrar ali (em 1869) foi João Inácio de Azevedo, natural da ilha do Pico; actualmente, o número de sacerdotes e de paróquias nacionais está cada vez mais em desproporção com as exigências espirituais dos Luso-Americanos, não só porque a nossa população não cessa de crescer e as dioceses da metrópole não dispõem de muitos sacerdotes -tão desfalcadas elas continuam após as perseguições religiosas da segunda década do corrente século-, mas também porque, e contrariamente às determinações papais, autoridades eclesiásticas e até simples párocos americanos se têm oposto à presença dos nossos padres nos Estados Unidos da América.
E tal resistência vai ao ponto de em igrejas edificadas por portugueses e situadas em centros urbanos - onde os nossos colonos perfazem 80 a 90 por cento dos católicos- serem empossados padres estrangeiros, regra geral irlandeses.
E natural que, tanto pelos motivos apontados como pela circunstância de falarem deficientemente o inglês - estando por isso impossibilitados de seguir os actos litúrgicos e outras práticas religiosas celebradas por sacerdotes estrangeiros-, muitos colonos portugueses vivam arredados da fé dos seus maiores, se descristianizem ou caiam no indiferentismo, se é que não se convertem ao protestantismo, a religião da grande maioria dos americanos de origem.
Porque o amor de Deus se confunde com o amor da Pátria, os luso-americanos não assistidos por padres nacionais perder-se-ão irremediavelmente para Portugal.
Sr. Presidente: precisamos de salvar para a Nação os 500 000 luso-americanos, e só o faremos com mais paróquias e escolas nacionais, mais padres e professores de origem portuguesa. Problema de tamanha transcendência espiritual e política, e também de importância económica, carece de ser encarado de frente; a tarefa é difícil e morosa, mas susceptível de conduzir-se a bom êxito.
Do equacionamento de tão grave questão e dos meios que julgo capazes de solucioná-la cuidarei brevemente nesta Casa.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente:-Estão nesta altura presentes 74 Srs. Deputados.

Continua o debate sobre o aviso prévio do Sr. Deputado Daniel Barbosa acerca do problema económico português.
Tem a palavra o Sr. Deputado Camilo Mendonça, para concluir as suas considerações, ontem iniciadas.

O Sr. Camilo Mendonça: - Sr. Presidente: depois de ter tentado fazer uma síntese das considerações do Sr. Deputado Daniel Barbosa, procurarei ver, seguidamente, dentro de que limites toda esta formulação é compatível entre si e adequada ao fim em vista, em que medida se diferencia ou se distingue dos rumos que v6m sendo seguidos, qual ou quais os contributos novos trazidos à solução do nosso problema do desenvolvimento económico.
Antes, parece-me necessário referir um ponto que me permito julgar fulcral nesta matéria do crescimento económico - a distribuição do produto nacional entre o consumo e o aforro. É que as verificações da história, mesmo próxima, confirmam quanto a teoria claramente postula a este respeito.
Não é possível, simultaneamente, aumentar o investimento e o consumo. O sacrifício do consumo provocado por aumento de investimento será normalmente maior do que parece à primeira vista dentro do quadro institucional em que os processos se desenvolvem e a repartição se opera.
Mas aludi a experiência histórica. Que nos diz ela, tanto pelo que respeita à revolução industrial inglesa como à recente industrialização russa ou à que está em curso nos países do Leste europeu ?
Diz-se essencialmente que, independentemente das circunstâncias de tempo e de lugar, a industrialização - que constitui o elemento preponderante do desenvolvimento- se fez sempre a expensas de um sacrifício de consumo, de um subconsumo da população, em grau tanto mais acentuado quanto mais célere foi o processo.
Estas consequências verificaram-se por igual, tanto no sistema capitalista como no colectivista, e não atingiram em menor grau os Russos do que haviam sido sentidas pelos Ingleses. Deve, aliás, acrescentar-se que os progressos do conhecimento cientifico e, particularmente, económico, tanto como da técnica, não bastaram para alterar os resultados, uma vez que os benefícios advenientes foram inteiramente absorvidos pelas novas dificuldades resultantes de modificações psicológicas e dos níveis de exigências das populações. Se fosse preciso dar exemplo mais claro ou manifestação mais evidente deste asserto, não seria necessário mais do que recordar os factos recentes recentissimos- das ocorrências registadas nos países satélites do Leste europeu, onde, se é indiscutível haverem pesado principalmente factores extra-económicos ligados às exigências mais elementares da dignidade e liberdade humanas, a verdade é que não parece haverem sido despicientes todos os factos e circunstancias decorrentes da pressa que a U. R. S. S., por motivos óbvios, vem evidenciando em transformar aqueles países mártires também no domínio industrial.
Se é esta a verificação da história, outra não é a formulação da doutrina económica - todo o esforço de investimento para além dos níveis de poupança normais processar-se-á, inevitavelmente, a expensas de um sacrifício de consumo, ou, por outros termos, o aumento do consumo e o do investimento são, a curto prazo, objectivos incontroversamente incompatíveis.
Mas a longo prazo? Sim, a longo prazo as coisas são diferentes: a par e passo que a melhoria das condições vai permitindo graus de satisfação maiores, a produtividade do trabalho se acresce em todos os sectores da produção e os hábitos se modificam de sorte que o volume de aforros se eleve, então cada vez poderão