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13 DE ABRIL DE 1957 677

firme duma política nesse particular, esse facto não podia ser visto separadamente de outro mais grave - o do emprego.

O Sr. Daniel Barbosa: - Eu apenas citei um caso que me lembrei e sei bem que V. Ex.ª não está contra o que eu disse, embora o tivesse acentuado com uma certa ironia.

O Orador: - Seria p caso do aumento simultâneo do consumo e do investimento, bem como da melhoria solidária do produto e o poder de compra pelo critério da rentabilidade dos investimentos - se bem entendi os raciocínios feitos.
Mas a questão deve ainda ser vista por outro ângulo.
Em que medida as soluções diferem dos caminhos que vêm sendo seguidos ou trazem novos contributos para o problema do nosso crescimento a curto e a longo prazo?
Aqui temos de concluir que, para lá de tudo quanto se refere a afeiçoar métodos, melhorar a sua eficiência e definir prioridade» para determinados problemas, requer um esforço no tempo para a solução de questões já em estudo ou mesmo legisladas não poderem encontrar-se rumos diferentes nem contributos novos. Havemos de convir que seria, aliás, muito difícil nesta matéria inovar, além de que não pode ter sido esse o objectivo do Sr. Deputado ao apresentar o problema numa assembleia política. Outro procedimento seria natural apenas em instituições apropriadas - de economistas ou de técnicos.
Seja como for, a verdade é que, verificada a impossibilidade de por via do investimento encontrar solução pronta para o nosso problema, a questão estava praticamente resolvida. Não seria certamente de esperar dos meios de aumentar a eficiência dos investimentos um contributo decisivo, como não seria legítimo admitir que tudo resolveria magicamente a coordenação.
Sr. Presidente: estuda-se presentemente um novo Plano de Fomento, que virá continuar o que se encontra em curso. Esse plano não deixará de alargar os seus objectivos nem de aproveitar a experiência do anterior.
Pela exposição que o Sr. Ministro da Presidência fez ao Conselho Económico tomámos consciência de que uma e outra coisa não foram esquecidas, que o problema do nosso desenvolvimento será procurado dentro de uma definição precisa doa objectivos primordiais da nossa gente.
Não me parece da exposição feita que os problemas postos não tenham sido considerados, articulados no seu quadro próprio, resolvidos na medida em que outros objectivos não tenham aparecido como prevalentes. Nada de novo neste particular. Mas nada de novo?
Não! Seria cometer uma injustiça concluir pela negativa.
O Sr. Deputado Daniel Barbosa, para lá do valor das soluções -que, aliás, desmerecem na medida em que se dilatam no tempo e os problemas se põem com acuidade- traduziu nesta Gamara o anseio do País. Seria imperdoável que o não entendêssemos. Seria imperdoável que desconhecêssemos esse anseio. Seria imperdoável que não compartilhássemos desse anseio-anseio de melhoria das nossas condições, de maior e mais rápido progresso e bem-estar a que os Portugueses têm legítimo direito.
Na medida em que tenha contribuído para abrir perspectivas para o futuro, para esclarecer o País sobre o caminho que importa trilhar, as dificuldades e o tempo que é preciso vencer e também sobre a proporção da ansiedade que pode ser satisfeita, terá o Sr. Deputado Daniel Barbosa prestado relevante serviço.
Para lá deste aspecto e correlacionada com ele outra grande conclusão me parece forçoso tirar do seu discurso.
O problema do nosso desenvolvimento económico não é apenas uma tarefa do Governo, mas do próprio País. É indispensável a colaboração consciente de todos, a mobilização das vontades e inteligências de todos os portugueses -técnicos, operários, empresários, consumidores-, para que a obra ingente da modificação das nossas condições de vida se execute no melhor ritmo e com mais proveito.
Se em todos os portugueses que nos escutam ou acompanham tiver ficado uma ideia clara a este respeito, não terá sido perdido o tempo nem importarão as más interpretações.
Sr. Presidente: não tenho o direito de abusar mais da paciência benevolente de V. Ex.ª e da Câmara. Vou terminar. Faço-o agradecendo a atenção que VV. Ex.as se dignaram dispensar-me e renovando os meus cumprimentos sinceros ao Sr. Deputado Daniel Barbosa. Faço-o relembrando ser árduo o caminho do crescimento das estruturas subdesenvolvidas, árduo e longo, dado implicar modificações estruturais que constituem a sua própria essência.
Nestas condições, todas as esperanças de rápida e pronta modificação são tão inconvenientes como o conformismo fatalista perante as dificuldades da natureza e a pobreza do nosso solo.
Teremos de caminhar com segurança e acreditar na nossa capacidade, confiar nas virtualidades de uma política que provou bem quanto pode contar-se com a disciplina e o apoio dos Portugueses.
Terei sido, porventura, friamente realista nas minhas palavras, terei parecido até apostado em desfazer ilusões, em arrefecer entusiasmos indispensáveis, em pintar tão negro o quadro das dificuldades a vencer como pode ter sido interpretado o das necessidades a satisfazer como foi traçado pelo Sr. Deputado Daniel Barbosa. Puro engano, num como noutro caso. Pertenço ao número dos que têm fé. Dos que têm fé e acreditam nas virtudes do povo português, na nossa capacidade de realização, no regime político em que vivemos, no nosso desenvolvimento económico.
Mas, então, porque terei procedido deste modo? É simples.
Disse o Sr. Deputado Daniel Barbosa que sob o ponto de vista político um Governo se afirma junto das grandes massas populacionais muito mais pelas realizações do que pela sua doutrina. Em parte, assim será.
Mas para mim acredita-se bem mais pela realização do que pelo que promete. E não pode prometer-se mais do que aquilo que pode realizar-se!
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Carlos Mantero: - Sr. Presidente: o aviso prévio do Sr. Deputado Daniel Barbosa, como o compreendi, é essencialmente um brado de alarme sobre a lentidão do nosso crescimento económico e um apelo à coordenação.

O autor, depois de largamente se referir à base social e ao estado de atraso da economia portuguesa, mostra-nos o que pode vir a ser o Portugal de amanhã no aproveitamento racional do enorme potencial de riqueza ao nosso dispor na metrópole e no ultramar, mas torna o sucesso em tudo dependente da coordenação e do coordenador.