2284 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 90
tendências rotineiras o sistemas tradicionalistas que, sistematicamente, o levam a deixar-se entregue ao triste ou risonho destino do que a Natureza lhe oferecer. Há que quebrar individuálismos arreigadamente entranhados e tirar o melhor fruto da boa colaboração entre a lavoura e a técnica, e não só desta, como da sã cooperação entre os próprios lavradores.
Exemplo flagrante do resultado desta cooperação é o da acção das adegas cooperativas, que, expandindo-se em unidades e agregados progressivamente crescentes, começam a fazer sentir os efeitos benéficos não só sobre produtos como na economia nacional dos vinhos. Essa acção; consubstanciando-se para já na garantia de colocação de produções, poderá incidir ainda no aspecto da melhoria e selecção das mesmas. E defendendo e até valorizando os preços, por isso mesmo poderá vir a promover o equilíbrio destes rios mercados produtores, garantindo uma melhor rentabilidade a quem está na base do ciclo económico do seu comércio.
O aspecto de financiamento de produções u o de promoção de recolha de colheitas o seu tratamento, com uma organização que assegure uma actuação a tempo, em qualquer lugar e sempre que necessária, será de resultados extremamente vantajosos.
Por isso, todo o entusiasmo com que se conjuguem os esforços dos lavradores e o apoio que a técnica dos serviços oficiais dispensar a estas iniciativas são de desejar e de, saudar.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: é o milho, como referi, unia das culturas tradicionais do lavrador minhoto.
O delicado problema do milho, já tão decantado e debatido, tem visto a sua solução arrastar-se por tempos longos, e bem mais do que seria permitido à nossa economia.
Uma análise cuidada do mesmo, em todos os pormenores, levar-me-ia muito longe, tal a soma de reflexos com que repercute na economia do País.
Deixaremos aqui breves apontamentos apenas para justificar, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a necessidade de se promover, com brevidade, a viragem já delineada e que importa levar a cabo.
As questões que ressaltam podem resumir-se nos pontos fundamentais de selecção de terrenos, processos de cultura, utilizações de cereal e industrialização.
Quanto aos dois primeiros, sem nos alongarmos, note-se que algo haverá a rever, uma vez que a produção por hectare média para o distrito de Braga não atinge normalmente os 1400 kg/ano, números estes que nos Estados Unidos da América são considerados os mínimos para cobrir o custo de produção.
Frise-se que para atingir aquela média alguns concelhos há onde a produção média por hectare atinge e excede até os 3000 kg/ano.
Contudo, a produção de milho tem-se processado em números crescentes, que, cifrando-se em cerca de 446 0001 anuais no quinquénio de 1951 a 1956, subiu para cerca de 450 000 t, em 1960.
Desta produção foram destinadas à panificação cerca de 250 0001 e o restante utiliza-se na alimentação de gados; e, se a primeira aplicação não é onerosa para a economia nacional, outro tanto se não poderá dizer em relação à segunda, pois que o Fundo de Abastecimento vem suportando um encargo de $48 por quilograma para que os seus utilizadores possam receber a cotação aceitável e compatível copa a do gado a que o destinam.
Note-se que o preço de venda na lavoura é de 2$10, quando a sua cotação na mesma origem se fixava em 1 $60 em 1940.
O desequilíbrio manifesto que todos os números apontados traduzem leva-me a exprimir a necessidade de se dar breve realização aos planos de racionalização e mecanização da cultura deste tradicional cereal, cuja exploração, muito generalizada, cobre cerca de 6 por cento da superfície territorial metropolitana, cabendo ao Minho e Douro, praticamente em partes iguais, cerca de 42 por cento da produção total metropolitana.
Por outro lado, de recomendar o necessário incremento a dar no nosso país aos programas da sua industrialização.
Pela mesma se dará a devida valorização dos subprodutos que o milho poderá proporcionar, extraindo-se para a panificação a farinha mais racional e rica, desprovida de tantos elementos que à alimentação humana nada aproveitam, e frustrando-se o sacrifício, no destino à alimentação dos gados, de elementos ricos, com outras possibilidades de valorização que as rações para animais não permitem.
Registe-se que em França, por exemplo, onde o consumo de pão de milho é irrelevante, a produção deste cereal, bem como as áreas da sua cultura, tem aumentado em números muito apreciáveis, em razão fundamental da atenção votada à sua valorização industrial.
Do milho é possível extrair farinhas limpas, sêmeas para a destilaria de espirituosos, sêmolas para cerveja, amidos, dextroses, dextrinas, xaropes, óleos, pudins instantâneos, tourteaux, etc.
As aplicações subsidiárias, não só em indústrias alimentares como noutras das mais variadas, permitirão uma notável produtividade em cadeia, que bem se reflectirá na valorização do produto e da economia em geral.
Alta missão a cumprir, pois, a de encaminhamento deste cereal para linhas de fabrico actualizadas, com é pleno reconhecimento de que a qualidade pela justa e racional utilização é bem mais seguro aproveitamento do que a quantidade com manifestos aspectos de desperdício.
Aproveitados em larga escala os produtos ricos que o milho pode oferecer, podemos estar certos de que os subprodutos destinados à pecuária terão, em paralelo, substancial aplicação, dada a forçosa evolução com que esta acompanhará o desenvolvimento crescente das explorações agrícolas.
O conjunto de considerações que expendi em relação a dois produtos fundamentais das explorações agrícolas do nosso Minho bem explicam a preocupação dominante dos mais responsáveis na gestão dos seus destinos, na luta pela melhoria das condições de apoio técnico e estímulo empreendedor ao nosso lavrador. Por isso daqui formulamos os nossos melhores votos para que possam colher os frutos de incondicional apoio que, seguramente, lhe poderão votar os serviços oficiais e entidades particulares em todas as iniciativas que possam promover a realização dos seus anseios. Enquadro neste aspecto a justa pretensão da criação urgente, no distrito de Braga, de um centro-piloto de adestramento agrícola.
A região precisa de técnicos, muitos técnicos, agrícolas dos diferentes graus de preparação, e sobretudo de práticos, que dia a dia vivam com a lavoura, desimpregnados de práticas rotineiras ou tradicionais.
Por isso esta pretensão com vista a breve e pronta formação de capazes e habilitados gestores e caseiros, formação que, bem de desejar será, possa ser acompanhada pelo decidido apoio de todos os proprietários agrícolas, a alguns dos quais apenas importa que a Natureza não seja demasiado pródiga para que as «rendas», intactas, sejam pontualmente pagas até aos Santos ...