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18 DE ABRIL DE 1963 2331

A África Negra não é nenhum mistério para os portugueses, pois o mistério rendeu-se desde logo a esta gente vaticinada para apaziguar raças e amalgamar cores.

Os nativos da África Portuguesa sabem que mais ninguém os poderia tratar com este espírito tão bafejado de humanidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A hora da África não soou agora para nós no chamado relógio da história. Soou há muito e há muito a escutamos e seguimos.

Mas nessas parcelas, onde chegámos sem ideias de as trair, depois de lhes termos afirmado a nossa presença, também nasceram e não cessam de nascer brancos que não enjeitam a vida, lado a lado com os homens de cor, e antes se mesclam e trabalham, acalmando dia a dia a angústia da terra. Também esses sabem, e sabem muito bem, através de duras provações e. de alguns heroísmos, que já são ouro da nossa história, o que já lhes custou a guerra desencadeada de fora e o que lhes custaria amanhã a vitória dessa mesma guerra, se em vez de pegarem em armas pactuassem com o inimigo, acreditando nas suas promessas eivadas de enganos mortais. Rematada loucura seria a de fecharem o entendimento à decisiva lição dos exemplos. Sem ir mais longe, bastará recordar que no caso da Argélia se celebraram acordos depois de reunidos uns e outros para negociarem e acertarem os termos da famigerada autodeterminação. E depois, os franceses da Argélia, que eram 1 200 000, ficaram reduzidos até agora ao que sobra do milhão.

Do que era património de franceses, conseguido dia a dia, de labuta em labuta, pouco resta, além do que foi já confiscado.

Dentro em pouco raros ou nenhuns dos antigos construtores da Argélia se poderão contar entre os usufrúidores da Argélia de hoje.

Que é feito das palavras, das promessas, das negociações, dos acordos?

A norma é a de prometer para ganhar, de ganhar para não cumprir, de não cumprir para escorraçar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Os provadores portugueses da África portuguesa sabem isto, e sabem que a demagogia é possível em toda a parte, e mais ainda nos trópicos, onde lhe é mais fácil progredir, como o fazem os vinhos capitosos.

Já não sei onde li que a pior tirania é a da demagogia e que, por consequência, não há pior tirano do que o demagogo.

Devemos, porventura, o que temos a alguém para nos acharmos na obrigação de negociar o nosso débito com quem quer que seja?

O maior e o mais cruel erro do mundo que nos guerreia é o de não querer admitir que para os portugueses nunca existiu a dificuldade de convivência com as gentes de cor.

Sempre soubemos, como ninguém, conciliar a nossa presença em todos os continentes com a presença das populações nativas. Isso jamais constituiu para nós um fardo, mas uma missão. Nem sequer tem sido a prática de um justificável esforço, mas o exercício de um manifesto dom.

Impressionado, certamente, com esta inata e actuante diferença, aquele «branco» que nasceu e viveu mais de vinte anos em África e é o autor do livro Aujourd´hui PAfrique, não olvidou que na origem da nossa expansão povoadora «se encontra uma preocupação de cristianismo e um sentido de catolicidade».

Que nos deixem, pois, com o fundamento apostólico da nossa missão de difundir a língua e a cultura, que elas sempre ressoaram e ressoam a Ocidente não orgulhoso do poder, mas iluminado no ofício de converter almas e moldar génios.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Às vezes, pensando em que esta afirmativa de resistir sem tibiezas, este tema patriótico de sermos como fomos, anda a ser implacavelmente atacado, julgo ver ceder o menos animoso e darem mostras de transigência certos teóricos da liquidação a curto ou a longo prazo.

Mas a Pátria não admite negócio nem cedência. Não é nenhum balcão para mercadores. À sua volta não se pode consentir o arruído da oferta nem o tilintar do preço.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tão pouco é cerne para ser dilacerado por facções internas, embriagadas de ambição, ou por bandos externos, ávidos do comando ideológico, ou por chusmas de terroristas, famintas de bens a saque, ou por interessados poderosos, sedentos de mais dinheiro.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Entre a Pátria e o negócio; entre a Pátria e os partidos; entre a Pátria e os comunistas; entre a Pátria e os terroristas; entre a Pátria e os falsos profetas das falsas independências; entre a Pátria e a finança do exterior, desalmada e triturante, não há paz admissível.

Venha donde vier o inimigo, a Pátria é fortaleza, e não campo de experiências. Muito menos campo de dúvidas, de incertezas, de hesitações.

Não entendo, não compreendo esses patriotas que falam de Portugal como se o tivessem no coração e se propõem diminuir Portugal como se o tivessem na algibeira.

Sou um homem de paz, mas não sou um homem que deseja a paz à custa da entrega para já ou seja para que dia for.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - A paz não se aceita - defende-se. Não se aceita por abolição das nossas reservas morais; defende-se por mobilização das nossas faculdades para a luta.

A mim apraz-me fundamente saber que os nossos soldados se batem valorosamente pela segurança das nossas fronteiras de além-mar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas o facto não me apraz de forma a caber só nas palavras. Sou daqueles que não conhecem formalismos verbais para a expressão do que sentem, mas explosões do próprio sentimento que as palavras vão traduzindo à medida que o fogo da verdade as modela e articula.

Não sei falar por falar, mas dizendo o que sou.

Como português, sinto-me orgulhoso por ver portugueses confiantes em Portugal, sustentando-o com as armas nas mãos contra o ódio e a cobiça que nos buscam.

O patriotismo desses portugueses é um patriotismo lúcido, um patriotismo que não é anemia, nem derrotismo, nem cálculo vergonhoso, nem desvio de conceito, nem brecha para traidores, nem suicida proposição de paz a