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5 DE DEZEMBRO DE 1963 2535

O Orador: - Comentava um acontecimento triste que então se tinha passado no Norte do País, e comentava-o, porque não hei-de confessá-lo?, no sentido desfavorável à posição do Governo. Logo o Sr. Arcebispo me veio cortar as minhas considerações, lembrando que nem eu nem o autor do incidente que se estava processando tínhamos passado o que ele tinha passado, porque senão não falaríamos daquela maneira.
Sr. Presidente: deve ser agradável a V. Ex.ª, que foi um dos obreiros da Concordata portuguesa, saber que o Sr. D. António Bento Martins Júnior, embora entendesse que esse instrumento jurídico tinha aspectos que precisavam de ser revistos, nomeadamente no que se refere à educação, o considerava como modelo que no futuro deveria presidir em todo o Mundo às relações entre o Estado e a Igreja.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: o meu saudoso prelado, disse-o há pouco, era sem dúvida um grande servidor da Igreja. Mas nunca esqueceu a tradição dos arcebispos de Braga, a tradição dos bispos portugueses, e era também um grande, um egrégio patriota. Nós vimo-lo sempre acompanhar os Chefes de Estado, os Ministros, dar a sua presença em todas as manifestações cívicas. Quero recordar, e recordá-lo com grande saudade, o momento em que o Sr. Presidente do Conselho atravessou as naves da. Catedral de Braga numa cerimónia a que V. Ex.ª, Sr. Presidente, deu também à minha terra a honra de assistir. E quando os crentes que enchiam a catedral perturbavam a paz própria do templo, erguendo-se em aplausos ao Sr. Presidente do Conselho, estou a ver o espelho da sua bondade e da sua indulgência - o sorriso que lhe aflorou aos lábios.
Era desejo do Sr. Arcebispo Primaz que as suas cinzas repousassem ao lado do seu ilustre antecessor, que considerava como seu mestre, à sombra dos muros da Sé de Braga.
O Governo tem obrigação e é dever de justiça fazer com que se cumpra a vontade do Sr. Arcebispo e o venerando cabido primacial quer sem demora satisfazer.
Neste momento e neste lugar, apelo para o Sr. Ministro das Obras Públicas, por quem o seu saudoso prelado tinha muita especial consideração, no sentido de se fazerem na Sé os obras necessárias, e imediatamente, de modo que no 1.º aniversário do passamento do Sr. Arcebispo, todos nós, todos os de Braga, e Braga, volto a repeti-lo, vai do Minho até ao Ave, possamos, com Portugal inteiro, prestar homenagem ao Sr. Arcebispo, ao grande patriota, ao homem que sempre soube honrar a tradição dos seus antecessores, João Peculiar Pais Mendes e o Beato Lourenço, que repousa também numa capela da Sé de Braga, ao lado dos primeiros valores de Portugal, o conde D. Henrique e a rainha D. Teresa.
Deste último se diz que D. João I, no fragor de uma batalha -a de Aljubarrota- perguntou: «Quem é aquele audaz e tão destemido cavaleiro?» E responderam-lhe: «Não sabemos senão que se chama Lourenço e que é de Braga».
Sr. Presidente: vou terminar as minhas considerações. Eu tinha, e tenho, pela figura do meu saudoso prelado, veneração carinhosa muito especial; senti muitas vezes estender-se para mim a sua mão amiga, sempre cheia de compreensão e afecto, e quando recebi a notícia da sua morte, a notícia de que a orfandade me tinha de novo batido à porta, corri, como era meu dever, cheio de dor, ao Paço Arquiepiscopal.
Na sala estavam ainda poucos: o venerando bispo auxiliar, hoje. administrador apostólico, membros do El mo Cabido e outros membros do clero, e já alguma gente humilde, gente que ele soube sobremaneira amar. Filho da Dia cepa rural, o Sr. Arcebispo sabia com a mesma naturalidade pisar os tapetes de veludo dos palácios dos grandes, como os caminhos humildes das aldeias sertanejas, que todas se cobriam de festa para o receber. Era o Pastor amado que vinha em nome do Senhor.
Eramos poucos, ouvia-se soluçar, e as minhas lágrimas molharam as. mãos venerandas daquele santo, que da penitência fazia regra de vida. Ele, que era tão bondoso, sem esquecer a justiça, sem a qual não pode haver santidade, devia, nessa altura, estar contente, por ver na minha dor testemunho de fidelidade mantida na vida e que continuava assim depois da morte.
Muito o amarguraram as desditas e injustiças que nesta hora chovem sobre a nossa pátria. Na pátria celeste não deixará de rezar por Portugal, que sobremaneira amou. Eu acredito que assim é, e daqui, desta tribuna, para os altos dos Céus, lhe dirijo uma palavra: meu querido e venerando prelado, nós continuamos fiéis ao teu testamento - por Deus e pela Igreja, pela Pátria, pelo nosso Portugal e pela grandeza da Arquidiocese de que somos filhos.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr.. Presidente: - Srs. Deputados: creio interpretar os sentimentos da Câmara afirmando a minha e a sua homenagem ao grande português que foi o Sr. D. António Bento Martins Júnior.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Vai passar se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade o projecto de lei do Sr. Deputado Amaral Neto sobre o reembolso, pelos subsequentes usuários, dos custos de linhas ou instalações novas que os consumidores de energia eléctrica hajam pago às entidades distribuidoras.

Tem a palavra o Sr. Deputado Virgílio Cruz.

O Sr. Virgílio Cruz: -Sr. Presidente: ao encerrar o debate deste projecto de lei, quero testemunhar ao ilustre Deputado proponente o meu apreço pela sua eficiente actuação parlamentar, uma vez- mais demonstrada neste trabalho que apresentou e defendeu com inteligência, senso realista e espírito construtivo, qualidades bem características do nosso distinto colega Sr. Eng.º Amaral Nefco.
A Assembleia Nacional, sempre atenta aos problemas do País, vai agora debruçar-se sobre este, de interesse para muitos futuros consumidores de electricidade, e sobre ele fazer considerações que traduzam o bem comum, de que devemos ser nesta Câmara os intérpretes e defensores.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: o princípio preconizado no projecto de reembolso, pelos subsequentes usuários, dos custos de linhas ou instalações novas que os consumidores de energia eléctrica hajam pago às entidades distribuidoras é justo e fomentador da electrificação.

Vozes: -Muito bem!