10 DE DEZEMBRO DE 1963 2551
Foi assim, neste clima instável, gerado no Ocidente pela política hesitante dos Estados Unidos, que foram dados os primeiros passos para a constituição de uma terceira força, a do Ocidente europeu.
Estimulando a América do Norte, no decorrer da aplicação do Plano Marshall, a união económica dos vários países do Ocidente europeu e mais tarde o franco apoio dado por este país à Comunidade do Carvão e do Aço e às várias instituições subsequentes, tendentes ao desenvolvimento das actividades produtivas e comerciais da Europa, levou os responsáveis europeus, progressivamente, à definição de um mercado comum.
Este grande espaço económico, já excepcionalmente evoluído e englobando os principais países industriais do continente, progrediu rapidamente no decorrer da liberalização alfandegária de inúmeros produtos das actividades industriais.
Embora dificuldades várias, especialmente ligadas à posição da comunidade britânica, tivessem levado à formação de uma zona de comércio livre, e assim retardado a constituição de uma confederação económica europeia, o que é facto é que as maiores resistências para se atingir um tal objectivo devem estar em breve vencidas.
Haverá ainda que resolver, é um facto, outras dificuldades para se atingir plenamente esse fim. E o caso, por exemplo, das produções agrícolas oriundas de territórios de diferente fertilidade e, consequentemente, com custos de produção muito diversos. Daí as reacções alemãs à generalização das normas do Mercado Comum aos produtos oriundos da agricultura.
Não será fora do admissível que dentro de breves anos esta associação europeia abranja já alguns países do Leste que estiveram ligados durante muito tempo aos grandes mercados consumidores da Grã-Bretanha, da Alemanha e da França. A recente iniciativa alemã de investimentos vultosos a aplicar na Alemanha Oriental, sem qualquer contrapartida política, deve ser vista sob este ângulo.
Se a posição americana foi, assim, durante largo período, estimulante da iniciativa de uma união europeia de feição económica, desde, porém, que o potencial económico da Europa ultrapassou o dos Estados Unidos, começando a afectar as suas actividades agrícolas e industriais dominantes, começaram, desde logo, a verificar-se em vários meios políticos desse grande país reacções profundas contra esta tendência.
A guerra do frango, como a dos têxteis, como ainda a invasão do Volkswagen no mercado americano, provocando graves perturbações na economia das indústrias automobilísticas desse país, são alguns dos sintomas deste mal estar, a pôr de sobreaviso aqueles que julgavam possível formar um todo económico no bloco ocidental, embora cindido pelo Atlântico.
Se a exterisificação de um mercado é, de facto, condição fundamental para a diminuição de custos de produção e correlativamente para o acréscimo de níveis de existência, essa extensificação tem, contudo, um limite, que se verifica até nos domínios da empresa e que é função das possibilidades de racional gestão.
Isto significa que em cada bloco diferenciado do mundo moderno tenderá a constituir-se, possivelmente, um conjunto económico em grande parto auto-suficiente, é um facto, mas terá de manter, porém, com os outros blocos, relações bilaterais destinadas a colmatar deficiências mútuas.
O que fica dito são, contudo, porém, ainda hoje, simples antevisões de caminhos do futuro susceptíveis, segundo penso, de conduzir a humanidade a melhores dias. Não devemos esquecer, para avaliar a urgência de mudar de rumo, que, no presente momento, apenas um terço da humanidade tem alimento e agasalho suficientes. Os dois terços restantes, cerca de 1 300000 almas, apenas vegetam e sofrem os rigores do clima e as injustiças dos seus pares afortunados.
Resumindo: estas são, nas linhas gerais, as principais características da actual conjuntura e que definem, genericamente, o momento que passa no mundo da política internacional.
Os três blocos político-económicos hoje diferenciados têm, neste momento, as seguintes posições quanto a valores humanos. Delas se poderá concluir algo sobre relatividade de situações.
O bloco Russo chinês e dos países satélites compreende cerca de 800 milhões de viventes, com um predomínio acentuado da China comunista, que, só por si. engloba 600 milhões de amarelos. Há que atender que em zona geográfica vizinha se verifica já o reaparecimento do poderoso centro demográfico japonês, dotado de um potencial económico não inferior, antes, pelo contrário, superior sob vários aspectos, ao que possuía antes da guerra mundial.
O bloco europeu, hoje em via de diferenciação activa, compreende cerca de 200 milhões e o americano do norte aproximadamente este número. Os restantes povos, indonésios, indianos - este o maior conjunto, embora ètnicamente muito heterogéneo - e ainda africanos, americanos do sul e outros, perfazem a diferença para os 2 biliões que se julga povoarem, no presente, a terra emersa. Isto, é claro, grosso modo, para fazer, apenas, ideia do balanço demográfico dos blocos diferenciados em presença.
Agora, em mancha rápida, a situação económica e social de cada grupo.
O espaço russo, de certo modo o mais extenso, embora não o mais densamente povoado, está presentemente afectado por dissensão política grave com o conjunto chinês por razões de diferenças nítidas quanto a concepções políticas dentro dos ideais marxistas, o que representa, por parte da Rússia, viragem acentuada no sentido de um socialismo de Estado mais mitigado sob certos aspectos, ultrapassando, em grau de afastamento das teorias de Lenine, a posição tomada pela Jugoslávia.
No sector da vida industrial podemos afirmar, de acordo com o Dr. Martinho Nobre de Melo, que a revolução industrial do Ocidente ultrapassou em benefícios sociais, largamente, a revolução social marxista, e os soldados russos durante a guerra tiveram inúmeras ocasiões de o constatar.
Por outro lado, a colectivização da agricultura, destruindo em grande parte a iniciativa privada da família camponesa e mais sensivelmente nos domínios da cultura e pecuária intensivas, levou às portas da falência a agricultura soviética.
Esta diminuição acentuada do poder económico e o mal-estar social na Rússia levaram os dirigentes soviéticos, embora dispondo de supremacia de certas armas atómicas, a uma atitude de menor intransigência em relação a problemas que, anos atrás, não admitiam qualquer solução de compromisso com o Ocidente. Estão neste caso a posição da Rússia perante a Alemanha Oriental e o caso de Berlim, o recuo indiscutível na crise de Cuba e a retirada das missões diplomáticas do Congo Belga perante a situação criada pelo assassinato de Gizenga e ainda a neutralidade mantida no conflito indo-chinês. quando a América e a Grã-Bretanha tomaram, nitidamente, a posição de auxílio à República Indiana.
Já as recentes tentativas de importação de quantidades maciças de cereais panificáveis americanos devem ser