2552 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 103
levadas à conta, julgo, embora contra o parecer de muitos, não como sinal de debilidade económica, mas antes como manobra tendente a concentrar nos silos russos material estratégico de excepcional valor.
Por outro lado, a atitude dos dirigentes russos perante a China comunista, cerceando-lhe possibilidades técnicas para o fabrico da bomba atómica e para o desenvolvimento das indústrias pesadas, bem como os ataques ideológicos dirigidos à China nas reuniões dos partidos comunistas, são de facto, como já disse, indícios de uma viragem indiscutível do regime russo, mais por necessidade de defesa perante o colosso chinês, em marcha ascendente de poder militar e industrial, do que propriamente por simpatia com os ideais do Ocidente.
O Russo não ignora que do outro lado das suas fronteiras se, acantona um povo de civilização muito antiga, compreendendo cerca de três vezes a população do seu país.
E agora o que se passa para a bandas do Ocidente?
Aí, o grande bloco norte-americano está hoje flanqueado, perigosamente, desde Cuba até aos confins da América Austral, por um espaço onde o comunismo vem desenvolvendo intensa acção, actuando com completa indiferença perante as inofensivas organizações de defesa interamericanas. Tendo como ponto de apoio fundamental a ilha de Cuba, onde técnicos militares e da guerra psicossubversiva russos e chineses actuam num à-vontade completo, agentes latino-americanos oriundos das diferentes repúblicas da América do Sul vão sendo preparados, cuidadosamente, para a revolução marxista do grande espaço americano.
Os casos da agitação comunista na Venezuela e no Brasil silo, entre os mais recentes, dos mais típicos. E é exactamente nas nações onde estas actividades são mais sensíveis que a ofensiva dirigida pelos agentes russos toma a feição actuante mais dissolvente, criando um clima de intensa reacção contra os monopólios americanos.
Não é, assim, difícil encontrar nas destruições maciças levadas a cabo na Venezuela, em instalações petrolíferas de companhias americanas e em outras unidades industriais, a mão subversiva dos agentes russos, actuando, é claro, como normalmente acontece, através de elementos isolados ou de grupos políticos, mal se adivinhando, contudo, nestes, a sua filiação marxista.
Não é pois de admirar que na procura dos verdadeiros responsáveis pela morte do presidente dos Estados Unidos, cujo cobarde assassinato causou horror em todo o mundo civilizado, se encontrem várias pistas, que vão desde a de fidelistas cubanos até à de segregacionistas texanos, em qualquer das hipóteses, contudo, por via de agentes manejados pelos serviços de espionagem da Rússia Soviética. Esta a razão por que o K. russo e o Fidel cubano sacudiram logo a água do capote.
Não tivesse esse país e seus satélites escolas de vários graus, e até universidades, para preparar esses sabotadores e agentes da subversão internacional, que levaram a cabo, nos últimos tempos, não só esse horroroso crime praticado na pessoa do presidente americano, mas também os morticínios perpetrados, com a maior selvajaria de centenas de famílias portuguesas no decurso dos acontecimentos de 1961, em Angola. São tudo exemplos frisantes do valor actuante desses laureados escolares do assassínio.
A grande América debate-se ainda, como vimos, perante um outro grave problema, o da sua posição, ainda não dominante, na luta pela supremacia das armas estratégicas de longo alcance. E não se sabe até que ponto é que os próprios satélites artificiais, em que a Rússia conquistou notável avanço sobre a posição americana, podem vir a ser utilizados como perigosas armas de destruição.
As recentes declarações do secretário da Defesa dos Estados Unidos deram, na realidade, uma certa confiança ao Ocidente. Mas a atitude de abandono de inúmeras bases de apoio na Europa pode significar, por parte dos Estados Unidos, o cumprimento compulsivo de disposições do acordo de Viena de Áustria e levar, assim, à consecução de um erro, que julgo grave - o de concentrar em espaço limitado todos os meios defensivos e ofensivos de um país.
Psicologicamente, contudo, o efeito de uma tal medida é o do abandono da Europa aos seus próprios destinos. Assim se acentuará a tendência para reforçar a política de alguns dirigentes europeus no sentido da criação de forças nucleares independentes. Isto quanto à preparação bélica dos Estados Unidos.
No domínio económico haverá que notar que a América do Norte, dispondo de equipamento que, no presente, mercê do progresso das actividades industriais europeias e japoneses, já não está sendo utilizado na sua máxima capacidade, circunstância que desperta nos responsáveis dessa grande nação. profundas preocupações pelo avizinhar de grave crise de emprego, que o sector agrícola, pelos atocha acumulados e pelos baixos preços oferecidos ao produtor, pode ainda vir a tornar mais saliente.
Finalmente, o bloco europeu.
Este denuncia, desde a recuperação industrial da bacia do Ehur, uma subida constante do seu processo de reconstituição económica, atingindo, porém, já hoje, níveis também muito próximos da saturação. Isto leva, quer no campo industrial, quer no agrícola, a difíceis e demoradas decisões no seio das várias organizações económicas europeias. São, entre outros sintomas desta situação, a posição alemã no Mercado Comum, no sentido da defesa da sua agricultura, caracterizada por altos custos de produção, e a luta da França no sentido da exclusão da comunidade britânica, como defesa das actividades industriais e agrícolas desse país.
Contudo, o que é indiscutível é que a velha Europa, hoje económicamente remoçada e socialmente com nível bastante evoluído, dispõe já de um potencial económico e financeiro superior a qualquer dos dois blocos, oriental e ocidental americano, e as suas disponibilidades técnicas e culturais permitem antever progressos ainda mais significantes no futuro.
Daí o receio dos dois grandes que a flanqueiam, por ocidente e por oriente, e, talvez, explicação simplificada de atitudes concordantes de Russos e Americanos em vários problemas de interesse vital para a vida política e económica da Europa.
Expresso, nestas breves notas, certamente mal alinhavadas, pelo complexo do enredo e insuficiência de engenho do expositor, o panorama político e económico mundial da actual conjuntura, analisemos agora a posição de Portugal perante este quadro estrutural, como vimos, bastante sombrio.
Disperso o território português por quatro continentes e formada a sua população por fusão íntima de variadas etnias, o multirracialismo e a dispersão geográfica da nossa pátria constituem dois aspectos dominantes da estrutura político-económica nacional.
Tem sido esta circunstância, nos tempos presentes, motivo, porém, de generalizados ataques, no seio de vários organismos internacionais, orientados estes, sempre, pelos que desejariam beneficiar de uma redistribuição de territórios. Seria um novo mapa cor-de-rosa, a traçar na segunda metade do século XX. Apenas os herdeiros presuntivos não seriam, certamente, os mesmos que desenharam o primeiro mapa desta pálida cor.