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3616 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 144

Nunes Barata apresenta muito oportunamente para debate um aviso prévio sobre b assunto, em Moçambique, por feliz coincidência, como que em prolongamento do estudo de um problema que não interessa apenas ao Portugal da Europa, mas a toda a Nação Portuguesa, realizou-se nos dias 19 a 21 de Fevereiro, na cidade da Beira, a primeira reunião provincial de turismo.
Escusado será salientar a importância e a necessidade de uma reunião deste -género para se traçarem as? linhas básicas em que há-de assentar a acção turística da província e para se estruturar e definir o plano em que há-de desenvolver-se o verdadeiro turismo moçambicano, que, até hoje, tem vivido descoordenado, um pouco ao acaso das improvisações e das boas vontades dos que a ele arriscam o dinheiro e o entusiasmo.
Se na verdade alguma coisa já se tem feito oficialmente pelo turismo em Moçambique, o que se fez está ainda muito longe de corresponder às inúmeras possibilidades daquela grande província do Indico, cujas belezas já foram efusivamente exaltadas nesta Câmara por alguns Srs. Deputados, sem que, contudo, tenham podido esgotar o abundante manancial de riquezas turísticas, muitas das quais ainda por explorar, com que a providência brindou aquela distante terra portuguesa.
Falar das belezas de Moçambique, desde a Ponta do Ouro, no Rui do Save, às regiões de Vila Cabral, junto cio lago Niassa, é percorrer toda uma extensa região de contrastes, em que ao mar se opõem as montanhas e os planaltos, em que as cidades do litoral, com as suas praias de areias douradas, contrastam com as planícies a perder de vista e as densas e inexploradas florestas percorridas ainda despreocupadamente por abundantes o variadas espécies de animais selvagens, em que enfim, aos requintes da civilização ocidental e europeia se contrapõe o exotismo dos hábitos, dos costumes e da cultura africana dos povos das regiões do interior, alguns dos quais tão expressivos e espontâneos nas suas manifestações artísticas que bem merecem que estas sejam olhadas com especial cuidado e mais carinho.
Mas não basta que a Providência tenha sido pródiga em conceder-nos tantos e tão variados motivos de atracção para que nos sintamos satisfeitos e orgulhosos com as potencialidades turísticas de Moçambique.
De que nos valerá tudo isso se não tivermos estradas em número suficiente e em condições de alcançarmos, com o mínimo de conforto, as enormes distâncias que medeiam entre os principais centros turísticos da província? Se o viajante, exausto da viagem, não encontrar, pelo caminho, acolhedoras pousadas onde .possa repousar, para depois prosseguir, reconfortado, o resto da longa jornada? Pousadas asseadas, simples e alegres, ao jeito bem português, que não toscamente copiadas dos moldes e figurinos estrangeiros. Pousadas que manifestem a quem nelas se acolhe um gosto delicado o um cuidadoso arranjo, que traduzam significativamente a cultura- europeia e africana, vivendo lado a lado, misturando-se até harmoniosamente sem que nenhuma delas perca o que tem de característico e genuíno.
Nas terras da metrópole, graças ao S. N. I. - é justo que recorde neste momento o nome do grande impulsionador que foi António Ferro - e a algumas iniciativas particulares, já se encontram espalhadas pelo País fora, a maior parte das vezes em lugares privilegiados, típicas pousadas, que sobrepõem ao luxo a simplicidade e graciosidade do gosto rústico das diferentes e variadas regiões do País. Km Moçambique, porém, elas são ainda escassas.
Se sairmos da capital ou das principais cidades onde se encontram os hotéis e pensões, dos mais luxuosos aos mais modestos, a caminho de outros lugares, dificilmente encontramos pequenas pousadas onde apeteça ficar. Julgo que seria conveniente que se olhasse seriamente para este aspecto do turismo de Moçambique ; construindo-se, à semelhança do que em boa hora se empreendeu na metrópole, algumas pousadas, através da província, escolhendo-se para isso os lugares de maior interesse turístico, quer sob o ponto de vista paisagístico e climático, quer sob o ponto de vista cinegético, piscatório ou outros. Poder-se-ia interessar nisso as empresas privadas ou os particulares concedendo-se-lhes facilidades, subsídios ou prémios na construção de tais pousadas que seriam, no entanto, orientadas pelo Centro de Turismo quanto à sua arquitectura e decoração, para que resultassem funcionais, convidativas e módicas, em vez de luxuosas mas de mau gosto e caras, corno, por vezes, sucede.
A poucos quilómetros de Lourenço Marques situa-se a Namaacha, região de uma altitude média, de cerca de 600 m, estância de repouso que nunca alcançou, porém, o lugar que verdadeiramente merece no turismo de Moçambique.
Apenas com um hotel a poucas pensões, construídas ao acaso por particulares que de mistura com o negócio mantêm, por vezes dificilmente e quantas vezes com negligência, o restaurante e os quartos de aluguer, a Namaacha não oferece ainda hoje outros atractivos que não sejam a sua privilegiada situação montanhosa, povoada de abundantes matas de pinheiros e eucaliptos, o seu clima fresco e agradável, mesmo nos dias em que na cidade o calor aperta, a sua água límpida e leve a brotar dedicada e teimosamente de uma apagada fonte ou a cair em cascata de um rochedo.
Porque não aproveitar esta região, tão perto da capital, onde o clima é saudável, a terra fértil para a cultura, vendo-se a cada passo as mais variadas flores e árvores carregadas de apetitosos frutos europeus e africanos, porque não aproveitar, digo, esta vila de abundantes recursos naturais e fazer dela uma verdadeira estância turística com as comodidades e atractivos necessários?
A Namaacha continua a ser um modesto cartaz turístico da província aonde o turista vai de Lourenço Marques, em pouco mais de uma hora, admirar a beleza da paisagem e pouco mais ... Porque não construir-se aí uma pousada acolhedora e convidativa que atraia mais forasteiros?
É já tempo de que a Namaacha, com os seus tão belos e bons recursos naturais, saia da modesta condição de estância monótona e mal servida de hotéis e de atractivos para se tornar num verdadeiro centro turístico.
Já não penso naquele tão famoso comboio a ligar a capital a esta próxima vila e que, segundo consta, foi uma ilusória ambição dos antigos moçambicanos e é ainda hoje um velho sonho de alguns ...
Ao falar dos turistas, não me refiro apenas aos estrangeiros, que esses, vindos da vizinha Suazilândia, da África do Sul ou das Rodésias, possuem nos seus territórios lugares semelhantes à Namaacha ou mesmo inferiores com beleza mas turisticamente bem aproveitados para- repouso e vilegiatura nas montanhas. Esses, geralmente, preferem o mar, com as suas amplas praias, o sol quente e os demais encantos que estas lhes oferecem.
Refiro-me, sim, aos nacionais que habitam as cidades ou as regiões do interior da província e que, no tempo mais quente, geralmente a coincidir com as férias escolares dos filhos, necessitam de uma região de altitude onde, fugindo ao calor, possam retemperar as forças ao mesmo tempo que distraem o espírito.
Para esses, para os nacionais, também é preciso desenvolver o turismo, lá como cá.