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3628 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 144

Pois bem: existe no Centro do País uma estância termal, mesmo sobre o risco fronteiriço, com capacidade hoteleira de algumas centenas de camas, distribuídas por dois bons hotéis e outras razoáveis unidades secundárias, e ligada a Castelo Branco por uma boa estrada com traçado e pavimento há pouco refundidos.
Refiro-me a Monfortinho.
Se, num plano de entendimento com os espanhóis, só lançar uma pequena ponto sobre o rio Erges e se construir um reduzido troço de estrada para Cória, donde irradiam ligações rodoviárias com Plasencia, Cáceres e Madrid, bastaria então deslocar para Monfortinho o posto aduaneiro de Segura, pessimamente instalado e com péssima estrada a servi-lo, para desde logo se verificarem algumas consequências de inegável interesse.
A primeira seria a procura e utilização da estância termal e, portanto, permanência demorada pela população espanhola da área circunvizinha.
Depois fluirá pela fronteira de Monfortinho um turismo externo de passagem, com provável permanência do dormidas ou refeições, atraído pelas vantagens e recursos do equipamento hoteleiro de Monfortinho e encurtamento da distância, utilizando-se aquela fronteira, entre o Centro de Espanha, incluindo Madrid o Lisboa.
E deste facto resultará nova e benéfica consequência. É que desde Monfortinho até Lisboa, passando por Castelo Branco, Abrantes e Santarém, e a partir de certa altura, com a alternativa de um percurso por uma ou outra margem do Tejo, se proporcionará a uma vasta região a passagem, e porque não uma ou outra permanência, de um movimento turístico externo até aqui inexistente.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Esta eventualidade poderá ainda ser reforçada se na Guarda, com a simples colocação de adequadas placas de sinalização de estradas, se der a conhecer ao turismo entrado por Vilar Formoso a possibilidade da alternativa de atingir Lisboa por um outro traçado diferente do que agora é geralmente utilizado e inclua a passagem pela Covilhã e as já citadas cidades de Castelo Branco, Abrantes e Santarém.
Acrescente-se que ao longo de todo este percurso existe já hoje um razoável apoio hoteleiro.
Para terminar direi que perfilho as conclusões do aviso prévio da autoria do nosso colega Dr. Nunes Barata.
Há nelas muita matéria que, aproveitada, serve o é indispensável ao fomento do turismo português.
Por sua vez, este extenso debate que agora atinge o seu fim acrescentou-lhe novas e valiosas achegas.
Que esta profusa sementeira de ideias e alvitres se reproduza a curto prazo em fecundos resultados é o meu voto.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orados foi muito cumprimentado.

O Sr. Alexandre Lobato: - Sr. Presidente: não sou das pessoas que mais acreditam na eficácia destes debates - destes ou de outros-, mas, porque é do conhecimento geral que água mole em pedra dura produz efeitos no tempo, aqui estou também com a minha gota de água a ajudar a dissolver o empedernido com que tão teimosamente lutam os que se interessam pelos grandes problemas nacionais, certamente porque os não acham bem equacionados e os não vêem servidos por soluções capazes.
A Câmara aborda nesta- sessão, depois da educação u da agricultura, um terceiro grande problema, o do turismo, e mais uma vez virá cada um dizer do seu critério, não parecendo, porém, que se possa ir além de uma poeira de pequenos factos, aspectos e fragmentos do magno problema do comércio turístico. Metendo-me também nesta questão, deixarei aos literatos e artistas todo o doce impressionismo da paisagem com seu pictorial e aos amadores fotográficos o folclore inteiro, os povoados pitorescos e as praias garridas e quentes, que constituem, em termos comerciais, a nossa mercadoria turística. A questão é de negócio e o problema é de fazê-lo.
Tudo reside, portanto, em saber vender, para poder vender e conseguir vender. O que não difere essencialmente do problema que afecta uma boa loja de modas do Chiado, e, portanto, requer uma direcção comercial inteligente, activa, dotada de meios de trabalho, servida por bom pessoal a boas instalações. Assim, como sem isto nenhum estabelecimento de modas passa de ser uma modesta loja de panos, também sem qualidades correspondentes nenhum sistema turístico pode passar dos horizontes vegetativos e insípidos que não convidam a nada.
Considerando o turismo uma mercadoria, como deve considerar-se, é forçoso concluir-se que a produção turística está generalizada e há, portanto, uma oferta mundial do produto. Com efeito, vende-se turismo como quem vende pano a metro e compra-se turismo com a regularidade de quem se reabastece de uma coisa de uso corrente que é preciso renovar. As densidades da oferta e da procura fizeram do turismo uma das mais cotadas mercadorias do comércio mundial, com importantes mercados de compra e venda, que dão origem a diversas correntes que a geografia económica pode desenhar em mapas pelo processo comum para apontar as linhas de navegação e distinguir as mais concorridas. Ora, há 30 anos ainda o facto era inexpressivo e não tinha representatividado mundial.
É tão evidente ser o turismo uma mercadoria, que ninguém duvidará ter de fazer-se a sua comercialização segundo as regras e os princípios do grande comércio internacional. O que necessariamente significa ter de lançar-se o vendedor de mercadoria turística no mercado internacional, e, portanto, na concorrência internacional, com novas ideias e novas modalidades, outros padrões e outras modas, de que resultem novos atractivos para maior procura, ou, polo menos, e é o mínimo, não deixar-se ultrapassar pela concorrência, tanto mais que, se é sempre possível, em qualquer parte, obter-se a complacência de um governo benévolo, com tabelamentos a baixo preço para obstar à concorrência da produção externa ou possibilitar a concorrência nacional do mercado externo, não é possível, por iguais processos, decretar a vinda, do pessoas que comprem a mercadoria turística.
É que, como em todo o comércio, o turismo tem peculiares processos psicológicos que são essenciais ao êxito do negócio. Se percorrermos as requintadas lojas do Chiado, padrão heráldico desta famosa Lisboa tão fidalga de distinção e vaidade, em cada uma nos dizem que as coisas belas que nos mostram e nos tentam são do seu exclusivo e vieram, para ali somente, dos mais afamados nomes do mundo internacional da elegância, da arte o do gosto. Mesmo assim, nenhuma senhora, digna deste timbre medieval da distinção, se decide sem só mortificar primeiro na longa romagem das lojas todas, porque a conjuntura da moda é pior do que a da política e os imponderáveis são imensos e imprevistos.
Em negócio, quem quer vender tem de lutar para vencer, o que em técnica se chama fazer concorrência,