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13 DE MARÇO DE 1964 3629

e alcançá-la se não puder batê-la, o que pressupõe todo um sistema, montado, de factos, de processos e de argúcias, que vão desde o dinheiro à filosofia, duas coisas aparentemente antagónicas, que no comércio são convergentes e concordantes.
Em turismo, na indústria turística, e na comercialização do turismo, o encantamento da paisagem, o exotismo dos costumes alheios, a doçura do clima acariciador, o conforto espiritual da criação artística que se arquiva nos museus e patenteia nos casarios e monumentos das velhas e novas cidades e vilas, o repouso, o lazer, tudo isso é para os outros, os clientes, os que pagam porque compram.
Porque o industrial do turismo, o comerciante do turismo, o que tem um hotel onde os hóspedes se renovam dia a dia, ou uma agência numa loja de balcão, para vender passagens, garantir pousadas, fornecer itinerários, horários e preços, esses trabalham e têm de estar atentos a organizações tão complexas como, por exemplo, o são as das lojas de modas, que vivem igualmente do favor psicológico dos clientes atraídos pela modernidade e qualidade das fazendas e dos padrões que constantemente se renovam, sem o que ficam as lojas às moscas ou votadas ao chamariz dos saldos.
Relevada a essência do turismo como um comércio altamente sujeito a flutuações e pressões psicológicas, é óbvia a necessidade de assentar numa estrutura industrial que saiba servi-lo competentemente, porque se a estrutura for incapaz, como é a nossa, não passaremos deste turismo de saldo que temos actualmente.
Penso, portanto, que o turismo como grande valor económico só pode ser montado em regime de grande indústria, o que implica integrarmo-nos no mercado internacional do turismo, e isso consiste em interessar no nosso país os capitais internacionais que no Mundo se aplicam em instalações, material, pessoal e organização para o comércio turístico.
Sei, e todos sabemos, que temos o nosso parco Fundo de Turismo e temos também a nossa modesta propaganda turística, tão modesta que o Mundo quase não sabe da nossa existência, senão para nos chamar colonialistas e fascistas, nos termos de uma propaganda alheia que tem sido diabólicamente montada contra nós pelos interessados nos despojos do Regime e da Nação. Mas não tenhamos ilusões, porque não é com os patacos do nosso Fundo de Turismo que podemos fomentar essa indústria nem desenvolver o seu comércio em prazo razoável ou em escala aceitável, e muito menos ainda conseguir montar, em termos, os complexos que caracterizam as grandes zonas turísticas da actualidade.
O turismo é um produto do nosso tempo, do progresso e do barateamento das comunicações, factores que criaram as grandes correntes turísticas, que são autênticas invasões. Foi esta característica, entrada maciça de visitantes que originou a criação das zonas turísticas, de natureza idêntica às regiões militares, e em que, para as pacíficas e agradáveis operações turísticas, se inventariam ou constróem os itinerários, os panoramas, os aboletamentos, as diversões, os passeios, as localidades, os costumes e todos os recursos susceptíveis de interesse e utilidade.
Ora, assim como antigamente, nos tempos das batalhas em colunas cerradas, se melhoravam as condições naturais das regiões militares, abrindo estradas estratégicas, construindo fortificações à Vauban, organizando depósitos de víveres e munições, hoje valorizam-se as condições naturais das regiões turísticas com boas estradas asfálticas, magníficos hotéis, belas piscinas, diversões, casinos, museus, alindam-se as aldeias, tiram-se efeitos estéticos da antiguidade e da modernidade ou do pitoresco dos aspectos urbanísticos, pensa-se e realiza-se uma multiplicidade de coisas para que cada um encontre sempre o que queira ao sabor da sua índole e constrói-se, valoriza-se, turistifica-se. isto é, moneteriza-se, em tempo e em espaço, uma cadeia de factos turísticos que se oferece ao respectivo comércio.
Ora isto custa dinheiro, e custa milhões, envolve uma extensa convergência de pessoas e interesses, afecta a vida das terras e dos povos locais e não é compatível com a ausência de horizontes futuros nas nossas velhas ideias actuais.
Sempre que me lembro de que no século XVI nos lançámos no grande comércio internacional em grande parte com o dinheiro dos outros, dos banqueiros - mercadores italianos e alemães -, criámos o comércio ultramarino e arrastámos toda a Europa para a Idade Moderna e o comércio mundial, não compreendo que tenhamos perdido nos dias de hoje esse privilégio da nossa inteligência antiga que foi capaz de servir tão habilmente a nossa capacidade realizadora pelo evidente processo do ovo de Colombo. Não tínhamos dinheiro, e convidámos quem o tinha, para o que oferecemos privilégios, vantagens, participações, criando nos capitalistas da época um interesse alto que cobriu suficientemente o risco elevado. Quando um século depois o grande capital estrangeiro se retirou do nosso comércio internacional, o negócio estava montado, que ainda hoje dura.
Pode ser que eu me engane, tanto mais que sou leigo, mas estou convencido de que não podemos entrar no mercado mundial do turismo senão em comparticipação com as forças económicas internacionais que o regem. E evidente que podemos por nós construir mais uns hotéis, umas pousadas, várias barracas de praia, mas ao fim e ao cabo continuaremos todos a pedir ao Estado que faça o que ele não pode nem sabe, tanto mais que o turismo, como negócio, é incompatível com a silogística burocrática.
Há pelo menos uma coisa que nós não podemos fazer, que é o fazer convergir para as nossas fronteiras as grandes correntes turísticas que são todas comandadas pelo grande comércio mundial do turismo, todo ele ao serviço dos grupos capitalistas que fazem investimentos no sector de turismo, e os não fazem ao acaso, ou pelas lindas paisagens do país A ou do país B, mas em ordem à técnica financeira dos investimentos, que é dogmática - ou não fosse uma técnica especializada. Os grupos financeiros que investem em turismo são eles próprios que asseguram por meio da sua rede de interesses interligados a clientela que há-de pagar os juros ao capital. E é evidente que o capital português, restrito, disperso, fragmentado e sem experiência, não pode oferecer, nem em volume nem em qualidade; a uma rede estrangeira vendedora de turismo em Portugal a soma de interesses que lhe proporciona um bloco capitalista que oferece em massa, e por isso dá margem para a grande publicidade garantidora do tráfego. Não esqueçamos que um minuto de projecção na televisão inglesa custa £ 1000. que são 80 contos.
Não podemos esquecer também que o turismo tem duas faces e duas éticas. Como negócio, no aspecto venda, a sim ética consiste em convencer o turista- a gastar o mais possível. Como ludus, no aspecto compra, a sua ética consiste em oferecer ao turista interesses, preferentemente sob a forma de valores. E nesta equação de funções que intervém decisivamente a propaganda, aparentemente no interesse do comprador, más na realidade em defesa do produtor, que é o capitalista interessado no investimento feito, actuando por intermédio do vendedor.
Toda a gente sabe que sem propaganda eficaz não há turismo suficiente, e sem este não há instalações capazes em qualidade e número, e muito menos em sistema, for-