3978 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 160
O francês fundamental, constituído por um vocabulário reduzido e uma gramática simplificada, foi concebido como um instrumento eficaz para a difusão larga e rápida da língua francesa, numa primeira fase de conhecimentos, ressalvando-se, desde logo, o princípio de que não deveria ser ensinada uma só palavra fora dó francês absolutamente correcto e actual, nem qualquer construção duvidosa. O francês fundamental não é, portanto, uma língua diferente; cio francês «normal».
Efectuou-se, para o efeito, unia escolha metódica no vocabulário e na gramática, com o auxílio de gravadores de som, de modo que o essencial pudesse ser ensinado em primeiro lugar. Devendo aproximar-se o mais possível das condições reais de utilização imediata, de molde a corresponder às necessidades da vida quotidiana, o francês fundamental, na sua primeira fase, assentou na língua falada, utilizando cerca de 1300 palavras, e foi designada em 1953, data em que se concluíram os trabalhos. 1.º grau do francês elementar; o 2.º grau data de 1959, e compõe-se de 1700 novas palavras, apresentando um carácter cultural mais acentuado, uma vez que é constituído por elementos da língua escrita, o que permite mais facilmente a leitura de livros e de jornais.
Nos primeiros cinco anos, o francês elementar espalhou-se pelo, Mundo inteiro, como um instrumento de trabalho essencial para os professores de francês e para os autores de métodos e de manuais escolares destinados a principiantes.
Dezenas de obras publicadas em França e noutros países, redigidas com base nos trabalhos da comissão encarregada de estudar o francês fundamental, permitiram a expansão da língua francesa em bodo o Mundo. Cursos pela rádio, emissões pela televisão, filmes de ensino, etc., provaram que o francês fundamental é um excelente instrumento, de iniciação para a prática da língua francesa. Assim, milhares de indivíduos foram eficazmente iniciados no estudo do francês como língua de promoção profissional e social. O êxito notável deste esforço resultou, em boa parte, da selecção de um francês vivo e falado, isto é, de uma «língua útil» posta ao serviço das relações internacionais.
A posição que o francês em poucos anos alcançou no Mundo prova a essência do método e a eficácia das técnicas postas em prática.
Em plano paralelo, e no sentido restrito dos nossos interesses comerciais, políticos, económicos e sociais, á língua nacional, como instrumento necessário e indispensável à transmissão da cultura portuguesa, embora de nível elementar, deverá, sem dúvida, ocupar um lugar da primazia no ensino de base para a alfabetização das populações ultramarinas. E a partir do conhecimento elementar da língua portuguesa que os povos mais atrasados hão-de receber toda a preparação necessária à sua integração completa no espaço português. A língua, como se sabe, é o elemento de unidade mais forte, mais constante, mais duradouro, dos povos que pertencem à mesma nação. Podem modificar-se as condições de vida, podem alterar-se as estruturas político-sociais, podem adulterar-se ou perderem-se até certos hábitos tradicionais, podem, enfim, adoptar-se costumes estranhos, mas a língua, essa, ficará sempre como o elo mais resistente à evolução a que estão sujeitas as nações. A unidade luso-brasileira aí está a testemunhar eloquentemente a força indestrutível dessa realidade, que é orgulho da raça lusitana.
Mas importa, também expandir a nossa língua para facultai- aos estrangeiros o conhecimento directo da nossa cultura e civilização.
Recordo, a propósito, um episódio significativo: quando, em 1959, me encontrava em Bruxelas, no pavilhão português da Exposição Internacional, ouvi este comentário a um grupo de estrangeiros:
O pavilhão português, pela sua concepção, é dos que melhor correspondem ao espírito que presidiu à organização da Exposição.. Cada país veio mostrar em que medida tinha contribuído e se tinha esforçado para a estabilização da paz no Mundo.
Na verdade, os nossos arquitectos souberam interpretar e realizar a ideia com excepcional fidelidade. Os motivos ë os aspectos da nossa acção civilizadora no Mundo não passaram despercebidos a todos quantos honestamente puderam reconhecer o que fomos e o que valemos.
Pois bem: esse conhecimento torna-se hoje, mais do que nunca, necessário.
Mas o estrangeiro que nos visita- não conhece a nossa língua e, embora possa desembaraçar-se de algumas dificuldades facilmente vencidas por gestos ou meias palavras, fica a desconhecer o país que visitou. Não contactou com o povo, não o ouviu, não o escutou, não viveu com ele, não o compreendeu, enfim. Quem se desloca a outros países fá-lo muitas vezes por curiosidade, mas também por desejo de conhecer, de comparar, de compreender.
E se, infelizmente, nalguns aspectos o confronto não nos seja favorável, o certo é que o nosso povo conserva virtudes, revela sentimentos e desperta interesse humano que em certa medida explicam to bom acolhimento que o emigrante português tem no estrangeiro.
Mas nem só por meio do contacto directo poderá avaliar-se a nossa maneira de ser e de sentir, o «osso apego às tradições e aos bons costumes, à defesa intransigente dos princípios morais de que não abdicamos.
Os nossos escritores não são conhecidos, os nossos poetas são ignorados, os nossos artistas raras vezes conseguem ultrapassar as fronteiras do mundo português ou brasileiro. E, no entanto, a maioria dos nossos escritores poderia perfeitamente ser acessível aos estrangeiros, desde que um vocabulário de base permitisse a edição de abras, como algumas peças de Gil Vicente, a História Tragífio-Marítima, a Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, As Viagens na Minha Terra, de Garrett, A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, Os Pescadores, de Raul Brandão, Os Meus Amores, de Trindade Coelho, os livros de Júlio Dinis, de Afonso Lopes Vieira, poesia de Fernando Pessoa, etc.
A nossa história explicaria tantas vezes o que muitos não querem compreender!
Impõe-se, por isso, a necessidade de se estudar o português de base, com vista à divulgação e expansão da nossa língua por meio de métodos simples de aprendizagem. Nenhum propósito seria mais útil e necessário à nossa política de esclarecimento aos que teimam em não querer compreender-nos do que proporcionar-lhes através da própria língua o conhecimento directo e vivido da nossa vida social, económica, política, cultural e artística.
Os nossos leitores de português nas Universidades estrangeiras- não dispõem de elementos fundamentais para a iniciação do estudo da língua. Não têm livros próprios e adaptados em edições dos nossos autores expurgadas das dificuldades vocabulares e sintácticas acessíveis a principiantes. Não há métodos pana o ensino do português. Só recentemente foi elaborado para a América um método de aprendizagem, que deveria estender-se a outros países.
Além dos métodos de ensino, são necessárias edições que deverão conter os elementos básicos ou fundamen-