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4484 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 185

Defina, então, as principais linhas de força política, condicionantes das relações entre os povos, dominando a economia e a vida social dos mesmos, e adiantei algo de perspectivas definidoras do sentido de novos movimentos significativos na política internacional, determinados estes, em grande parte, pelo evoluir da guerra fria que se desenvolve, desde o último conflito mundial, com intensidade crescente, entre os dois grandes blocos politicamente mais activos que dominam o mundo contemporâneo - o bloco comunista, abrangendo nas suas apertadas malhas cerca de um terço da população da Terra, e o conjunto que poderemos designar, por facilidade de expressão, ocidental, e que não deverá reunir, hoje, mais de um quinto dos viventes.
À fracção restante, cerca de metade da população do globo, constituída pela imensidade de povos subevoluídos dos continentes africano, asiático, sul e centro americanos, salvo as zonas onde os países ocidentais localizam, desde há muitos séculos, prolongamentos efectivos dos seus territórios ou onde a sua influência política e económica se mostrou dotada de maior perenidade, abrange espaço ainda imenso e populações que, mercê do seu atraso cultural e, frequentemente, miséria fisiológica, constituem presa fácil dos ideais materialistas Largo sector desta terceira fracção, constituído pelo vasto mundo muçulmano, alinha, com outros países, numa posição designada, internacionalmente, por neutralista, que é, apenas, forma cómoda, mas eficaz, de obter auxílios materiais dos dois blocos em presença e que, politicamente, ou é, de facto, independente quanto a ideologias políticas e crenças religiosas ou, apenas, comunista por interesse.
Finalmente, haverá a considerar mais um pólo dentro das fronteiras do neutralismo, e que é conveniente destacar pela sua influência no mundo financeiro - chamemos-lhe o núcleo israelita, focado, hoje, no Médio Oriente, mas mantendo raízes fundas em todo o ocidente capitalista.
Para melhor definir, sinteticamente, as linhas de força que irradiam dos principais centros políticos que denunciamos como dominantes no mundo contemporâneo impõe-se, agora, algo dizer sobre a sua génese, e isto, muito especialmente, em relação aos dois principais blocos actuantes - o comunista russo-chinês e o ocidental euro-americano, digamos expressões políticas e econó-mico-sociais - dos actuais rumos mais significativos do pensamento humano - o do materialismo marxista e o do espiritualismo cristão.
E para não cansar demasiado a atenção de VV Exas., Sr. Presidente e Srs. Deputados, vou resumir o que considero fundamental neste capítulo, servindo-me, em parte, de elementos actualizados de um estudo oportunamente apresentado a um organismo político a que tive a honra de presidir durante largos anos
O termo da segunda guerra mundial foi acompanhado por uma vaga de rápida expansão do comunismo nos continentes europeu e asiático Esta difusão foi dominantemente causada pelo afundamento simultâneo dos regimes nazista e fascista, determinado pela rendição incondicional e pela superioridade manifesta dos ardis da diplomacia soviética, muito mais efectiva que a clássica diplomacia ocidental. Neste aspecto, há que confessar, com em muitos outros, que o génio de Estaline superou, largamente, a antevisão política de Churchill e do presidente Roosevelt.
O grito de alarme de Fulton foi já demasiado tardio Salazar, de resto, já o tinha lançado, com o seu admirável sentido de previsão política, muitos anos antes.
E este predomínio de acção da diplomacia soviética mais claramente se definiu quando a América tomou a perigosa iniciativa, através de diversos meios, e muito especialmente pela voz de utópicos professores universitários do desenvolvimento insensato de uma campanha anticolonialista em territórios ainda não preparados, ou totalmente deslocados, para uma atitude desta natureza. A Inglaterra trabalhista desbravou, por outro lado, o caminho, concedendo independências prematuras a vários povos imaturos, debaixo do ponto de vista político, sendo de especial relevância o caso da Índia britânica.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - A vitória diplomática de Estaline sobre a diplomacia ocidental revelou, contudo, a inconsistência da teoria filosófica do materialismo marxista, que os comunistas ortodoxos consideravam e consideram ainda como um dos sólidos pilares em que apoiam as suas certezas políticas. Com efeito, o aparecimento das «democracias populares», digo melhor, dos regimes comunistas da Europa ocidental, não foi, de fornia alguma, devido a uma intensificação das contradições da economia capitalista, mas, tão-sòmente, determinado pela presença efectiva do exército vermelho nos respectivos territórios.
Depois da vitória inesperada de Estalmegrado, como começassem a surgir esperanças fundamentadas ao ditador Kremlin da possibilidade de derrotar os exércitos invasores, todo o movimento comunista internacional iniciou uma nova táctica, que ficou sendo conhecida pela das frentes patrióticas. E sob a égide desta ideia, tão cara ao desolado povo moscovita, uniram-se na mesma cruzada de expulsão do invasor brancos e vermelhos, ateus e religiosos Constituíram-se paralelamente, em todos os países atingidos ou não pela invasão, vastas frentes unidas, englobando todos os agrupamentos políticos, desde a extrema direita à extrema esquerda, sob a direcção, mais ou menos encapotada, das minorias comunistas, então verdadeiramente comandadas Estes movimentos de ampla unidade serviram também, em grande parte, para estruturar as actividades da resistência nos países ocupados.
No fim da guerra, o prestígio da Rússia e do comunismo tinha saído, como é compreensível, acrescido, especialmente pelas incompreensíveis atitudes de fraqueza e de consequente recuo das forças aliadas ocidentais e possibilidades de ocupação concedidas, no Extremo Oriente, aos exércitos russos, que, praticamente, sem darem um tiro, foram os grandes vencedores das forças nipónicas.
A América do Norte e a Grã-Bretanha tinham feito as despesas do conflito e os Russos limitaram-se a colher avidamente os seus frutos. Os movimentos de resistência já referidos vieram a ser, depois, no rescaldo do conflito universal, os responsáveis pelo assassínio, em massa, em alguns países, como a França, de inúmeros elementos das suas classes dirigentes Estaline contou a partir de então com eles, também, para estender o imperialismo soviético ao resto da Europa Começou, como era natural, pelos países ocupados pelo exército vermelho, e assim foram-se constituindo as democracias populares pseudoparlamentares da Polónia, da Roménia, da Bulgária, da Alemanha Oriental, da Jugoslávia, da Albânia e, mais tarde, da Checoslováquia.
A táctica destes movimentos pró-comunistas foi a mesma em todos estes países. A frente resistente incluía o partido comunista local, este protegido pelas forças do exército vermelho de ocupação. Formava-se depois um governo de coligação democrática e os comunistas exigiam sempre, como era de sua conveniência, os Ministérios do In-