4490 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 185
Como vemos o movimento marxista russo orientado no sentido de uma classe única ou para a ausência de classes - termo final de utopia comunista -, está a orientar-se, sim, e a passos largos, é facto, mas em sentido oposto, aproximando-se o marxismo soviético dos regimes dominantes no Norte da Europa, onde a socialização dos factores de produção ficou num meio termo, já hoje difícil de ultrapassar, quer no sector industrial, quer no dos serviços e que só aflora levemente no sector primário.
Se é esta, em síntese, a situação económica e social da Rússia Comunista e dos satélites balcânicos, a China Vermelha apresenta-se ainda em estádio mais atrasado, passando pela primeira fase da industrialização e das realizações infra-estruturais e isto mesmo à custa de um esforço titânico, pois o atraso em que se encontrava esta nação correspondia a vários quartéis em relação ao Ocidente.
A tentativa totalmente falhada da colectivização agrícola chinesa, que se verificou num meio mais pobre do que aquele que serviu de substrato à tentativa russa, foi, na China, de efeitos muito mais graves para a estabilidade do regime marxista. Não devemos esquecer que estão submetidos hoje a uma verdadeira escravatura dezenas de milhões de rurais chineses. Destruídos brutalmente todos os laços familiares, bem como as tradições campestres de milénios de existência, que davam ao ambiente agrícola chinês força criadora incomensurável, e que, digamos, constituíam de facto o verdadeiro segredo da perenidade da sua elevada civilização, quando se der a reacção do maior número será um verdadeiro caos no ambiente rural. Por isso, os dirigentes comunistas da China Vermelha lançam já hoje as suas vistas para legiões distantes, mais úberes e menos povoadas como sucedâneos desta falhada tentativa de colectivização dos territórios erosionados da velha China, esperando conseguir fácil submissão a escravatura marxista amarela das populações da África e da América, dos territórios ao sul do equador.
A tentativa frustrada recentemente no Brasil, quando o comunismo estava já próximo de instalai os seus poderosos tentáculos nesse país irmão, é já a segunda ofensiva de povos orientais para se fixarem nesse extenso e rico continente bubpovoado.
A primeira foi conduzida pelo Japão, no decurso da segunda guerra mundial, quando já se encontravam instalados no brasil muitos núcleos constituídos por centenas de milhares de japoneses, foi mando conjuntos profissionalmente completos e ocupando algumas, posições chaves de penetração económica e militar nos territórios do Sul do Brasil.
Resumindo como vemos, a Rússia Soviética, em regresso evidente para um socialismo de Estado tipo escandinavo, não se pode aliar a um marxismo chinês, que está realizando ainda as primeiras fases de um leninismo ortodoxo e com resultados económicos e sociais nitidamente inferiores aos conseguidos pela Rússia em idêntica fase o que de resto, não deve constituir motivo de admiração, atendendo à maior pobreza do seu território em minérios ricos, em terras agricolamente mais úberes e em possibilidades energéticas.
Esta é, em síntese, a situação do conjunto comunista russo-chinês.
Consideremos agora o complexo ocidental, e digo complexo até pela grande heterogeneidade da sua economia e vida social, desenvolvendo-se em processos evolutivos muito diversificados nos continentes europeu e americano. O Plano Marshall salvou na realidade, a Europa das consequências desastrosas da política rooseveltiana de rendição incondicional, arrumando, por período largo uma das zonas europeias que representavam o mais importante sustentáculo da velha Europa, e o segundo mais importante do mundo civilizado. Esta nova política permitiu aos Estados Unidos auferir notáveis benefícios do surto económico do desenvolvimento europeu, que ultrapassou todas as previsões. Este movimento de recuperação foi particularmente evidente na Alemanha, na Itália, na França e também na Holanda e na Bélgica embora estes países ficassem desfalcados da quase totalidade das suas possessões coloniais.
A falta de géneros alimentícios em largas áreas do mundo subdesenvolvido levou os responsáveis pela política americana a adoptarem um sistema de auxílio a essas populações, competindo com o mundo soviético, utilizando avultados saldos da sua agricultura, supervalorizados artificialmente, ficando a cargo das outras actividades económicas americanas o suportar esta política económica de auxílio ao estrangeiro. Não devemos também esquecer que a América recebeu ainda de vários países europeus, especialmente da Alemanha, largo auxílio em técnicos deslocados no fim da guerra, alguns de excepcional valor, com especial realce os que largamente contribuíram para a projectação e produção da força americana de mísseis teleguiados. E é ainda de realçar o facto de muitas das indústrias da velha Europa terem depois da guerra recebido larga contribuição do capital americano, ficando dele dependentes.
Constitui-se assim no pós-guerra um bloco euro-americano sòlidamente apoiado na finança dos Estados Unidos e de que a comunidade britânica passou a ser apenas meio satélite, bloco de que a Europa continental pretende hoje tornar-se independente, valorizando o seu elevado potencial produtivo. É este, julgo, o sentido da evolução decorrente ao criar-se inicialmente a Comunidade do Carvão e do Aço, o subsequente Mercado Comum e o Euro-Átomo A E F T A representaria assim, apenas, tentativa da Grã-Bretanha, por instigação dos Estados Unidos, para manter a política do hegemonia económica do Ocidente sob a direcção norte-americana.
O Sr. Seabra de Vasconcelos: - Muito bem!
O Orador: - E é ainda sintoma desta orientação a política de independência personificada no general De Gaulle e que se manifesta hoje quer nos domínios da diplomacia, quer nos sectores mais variados da economia, da finança e da vida social.
A recente tendência já marcada por algumas medidas para a valorização do padrão ouro em face do dólar como meio de troca no comércio internacional não tem outro significado político.
Assim, podemos dizer, em síntese muito breve, que a coexistência pacífica iniciada e mantida no período K K não teve outros desígnios por parte da Rússia que não fossem o fortalecimento das suas posições económicas e estratégicas para no momento oportuno conseguir a hegemonia do mundo ocidental sob a sua única direcção.
Em pólo oposto, a política norte-americana defende também, por todos os meios ao seu alcance, o predomínio económico sobre o mundo ocidental e sobre grandes áreas do subevoluído em outros continentes. Nação plena de recursos materiais e humanos e com um ritmo de crescimento económico excepcionalmente elevado, para o manter não pode ver, de facto, diminuídas as possibilidades de novos mercados e assim assistir a uma regressão da sua situação económica pela concorrência de uma Europa que lhe possa fazer sombra.
A Europa ocidental procura, por outro lodo, auferia os benefícios do seu labor de reconstrução não aceitando