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10 DE MARÇO DE 1965 4491

perder a posição tradicional de expoente máximo da valorização ocidental. Finalmente, a China Vermelha procurando pôr no prato da balança, por processos anti-humanos, o peso colossal dos seus quase 700 milhões de habitantes, figura como parceiro que não é possível minimizar.
E assim, a humanidade, do extremo oriente ao extremo ocidente, dominado pelos ideais fundamentalmente materialistas, de capitalismos exacerbados, socialismos de Estado de vários matizes e marxismos, vai rogando aos (...) de correntes que se entrechocam a cada momento.
Apenas a chama do cristianismo, defendendo os valores tradicionais mantém com o maior espírito de sacrifício o primado da moral cristã. É este o quadro em que se situa, neste quartel de viragem da história do Mundo, a posição portuguesa, quase isolada, é um facto combatendo, sem alianças, todos os falsos caminhos trilhados por orientais e ocidentais, todos eles afastados da linha recta do nosso seguro rumo de séculos de missão.
E quando houve, da nossa parte, ligeira pausa para decisão definitiva do verdadeiro caminho, a voz do Senhor fez-se ouvir «Quo vadis...?» E seguimos então como era decisão já tomada, pelo verdadeiro caminho.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A análise da Conta, cujo debate me trouxe a esta tribuna, é, hoje, descrição de facto, muito pormenorizada e esclarecedora da forma como foram gastos, na metrópole e no ultramar, os dinheiros da Nação. A justeza dessas contas já foi objecto de julgamento de douto tribunal. Compete, assim a esta Câmara política apenas pronunciai-se sobre os verdadeiros significados, político, financeiro, económico e social desses inúmeros dados numéricos, alinhados nas tutelas que acompanham os textos e que constituíram fundamento das judiciosas considerações feitas pelo autor da parecer.
Da documentação apresentada a estudo da Assembleia Nacional se pode concluir que a gravidade do depoimento que o Mundo atravessa e a que Portugal não pode ficar alheio - tendo pelo contrário, de a suportar -, acrescido do peso devido à ganância de alguns e ao desinteresse da maior parte - refiro-me a nações da mesma raiz -, obriga, na verdade, o País a um esforço financeiro o desproporcionado com as realidades da sua economia embora em via de indiscutível desenvolvimento.
E se, entretanto, se pode concluir do parecer das Contas Públicas que a receita, em ritmo de acréscimo, continua a expressar aumento saudável do rendimento nacional, o que é, porém, facto é que vários índices denunciam, contudo a necessidade, para que o equilíbrio não se rompa - pelo esforço anormal a que está submetida a Nação - de que os estímulos financeiros feitos, às actividades económicas sejam, no futuro, principalmente orientadas para sectores produtivos onde a relação capital-produto seja mais baixa.
Isto não significa que certos investimentos que geram melhoria de aspectos vários da vida nacional mais ligados à comodidade das populações do que à satisfação de necessidades mais vigentes e até de feição aparentemente, sumptuária, sejam de pôr de parte nos termos mais próximos.
Neste sector figuram, de facto, inúmeras provas de infra-estrutura fundamentais para o desenvolvimento económico do País, bem como outras, como a construção e beneficiação de museus, monumentos históricos palácios os nacionais e diversas instituições culturais, que podem, além da acção funcional relevante que lhes corresponde na vida nacional, criar e melhorar, efectivamente, o ambiente para a estada de visitantes estrangeiros, matéria-prima de uma valiosa indústria. Esta actividade pode vir a constituir na realidade, dentro de breves anos, um dos mais avultados componentes do produto bruto nacional, com a vantagem de ser fundamento da actividade de muitas outras em que o menor valor da relação capital-produto tem o mesmo e profícuo significado económico e em que se verifica uma distribuição de benefícios por grande número
Temos, assim de pensar como eminentemente vantajosa, por exemplo a construção, de resto já prevista de um Museu dos Descobrimentos à altura da epopeia que universalizou a Nação Portuguesa onde, segundo as normas da moderna ciência e técnica museológicas, se faça demonstração permanente, para educação e instrução de nacionais, mas especialmente, das centenas de milhares de estrangeiros que nos visitam, do verdadeiro significado espiritual dos Descobrimentos.
Hoje, infelizmente, apenas possuímos, enquadrando essa majestosa jóia arquitectónica que é o Mosteiro dos Jerónimos um chão raso, de resto até, inadmissivelmente, mal tratado, onde jaz, no esquecimento da metrópole e do ultramar, a primeira pedia dessa fundamental instituição. E se quisermos mostrar a estrangeiros algum dos padrões dos Descobrimentos, apenas possuímos miniatura de um em lugar pouco visível, coluna encimada pela cruz de Custo, rodeada de uma placa patada lá para os lados de Santa Apolónia, parece que envergonhados de mostrar ao Mundo esses marcos de uma fronteira digo, das únicas fronteiras que nem o tempo nem o espaço destinem ou limitam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E com exemplos de tantas outras faltas deste género poderíamos cobrir, de facto, de críticas justas o muito que não está feito neste sagrado rincão da Europa cristã.
E assim ainda, ouso perguntar a quem compete velar pela obra pública Ministro tão ilustre a quem a Nação já muito deve, quando transporá para a pedra que fez nascer Guimarães a Batalha e os Jerónimos a figuração escultórica dessa obra-prima da literatura da verdadeira renascença europeia - Os Lusíadas.
Não teriam os nossos maiores, os de letra maiúscula, é claro, quando congeminaram a localização do mosteiro manuelino, a que um espírito superior e um artista de rara sensibilidade coroaram com o Monumento dos Descobrimentos, pensado que, no futuro, a figuração da epopeia nasceria naturalmente, nesses espaços hoje, infelizmente, ainda vagos ou povoados com relvados de sabor nórdico?
Na realidade, difícil é conceber um Vasco da Gama ou um Cabral empunhando vara de pastor, guardando rebanhos de gordurentas vacas holandesas, com as costas viradas para o mar. E apenas esguiçada palmeira bamboleando ao vento, junto à Torre, vai repelindo, à posteridade, as frases derrotistas do velho do Restelo. É isso que pretendemos fazer ver às novas gerações e a essas centenas de milhares, amanhã de milhões, de visitantes das Américas que descobrimos, das Europas que ajudámos a civilizar, das Ásias e das Áfricas a que lavámos o eflúvio de uma morredoura civilização espiritualista.
Juntem-se pois escudos e patacas para fazer, depressa e bem, o que já há muito deveria estar erigido. E então sim, Os Lusíadas continuarão, através dos séculos, a cantar as glórias de um povo missionário e a ser o (...) sempre aberto a dizer à Europa de onde partimos, como seguimos e para onde vamos.
Fala-se que é sumptuário, ainda, riscar novas estradas, subindo montes e descendo vales atravessando planícies e cruzando rios para o estrangeiro percorrer comodamente e estudar tudo o que representa a vida de um povo