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4492 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 185

que luta, desde há oito séculos, vencendo a pedra e ingratitude de um clima, para expressar ao mundo, o verdadeiro significado espiritual do verbo civilizar.
O que não seria de interesse turístico, por exemplo, uma rota delineada que permitisse à estranja apreciar e saborear hábitos e costumes, iguarias e técnicas, por todo este território tão avariado e rico de cor e de folclore, desde os mantos de neve dos amendoais floridos do Algarve às fragas e geos da região duriense onde se recolhem néctares inimitáveis?
Quão não seria também de valioso parar nessa viagem do Sul para o Norte deste unção, no Mosteiro de Alcobaça, ouvindo, como eco do passado, nos vetustos claustros a voz sapiente desses laboriosos monges beneditinos, ensinando como se iria constitui a nação missionária?
E o que seria de maravilhoso ainda o percurso do pinhal do Bem ao mal da Nazaré, fazendo viver toda a epopeia que tem o seu berço no pinheiro marítimo e no indomável pescador do mar bravio.
Esperemos que a juventude que forma hoje os quadros administrativos do turismo nacional apague de vez a voz rouca do antinacional afastando para longe esses existencialismos desnacionalizantes que começam a dar os primeiros passos nas ruas e átrios da formosa capital do Império, «beetlando-a», como em muitas mais ao sabor de um dramático derrotismo que não corresponde, nem de longe, ao espírito heróico daquela juventude que só bate no verdadeiro campo da honra nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Falemos agora algo mais em pormenor, da Conta Pública em relação ao sector das actividades que incidem sobre a terra agricultável. E pouco mais poderei adiantar, infringido mesmo já, largamente, o Regimento. Outros completarão, porém, com benefício, o que haveria ainda a dizer.
É grave erro aceitar, de facto, como irremediável a pobreza do nosso solo e a irregularidade do clima que impera, de norte a sul, neste rincão tão belo do continente e das pérolas insulares, e considerá-los - refiro-me aos factores da mesologia - como causa inelutável da pobreza que campeia no ambiente rural. Não nos iludamos, para tal concluir, com comparações despropositadas com úberes terras da Europa setentrional ou ocidental e com os índices deformados dos territórios marginais do Mediterrâneo, supervalorizados, quase sempre, pelo manuseamento de números estatísticos, com intuito de evidente parcialidade
Contudo, é facto indiscutível, em face da orografia, da pedologia e da climatologia do território português da Europa, que as assimetrias espaciais, no mundo da economia têm de existir sempre, embora possam ser bastante suavizadas, e isto em consequência das características peculiares do meio. E só em parte menor se poderá referir a orientação adoptada pelo cultivador da terra. É mesmo em relação a esta parcela só muito pouco se deve propriamente, à tão criticada mas, frequentemente, sapiente rotina Grande parte, insisto, deve ser debitado, sim nesta parcela, às necessidades urgentes de obter alimento para o sustento de uma população dotada de enorme viço procurador. É o caso do pão. Na realidade, onde hoje reside, e mal, o trigo, deveria, é certo, aparecer a planta lenhosa perene e, em muitos casos, a simples pastagem. Não foi, porém, a lavoura que teve a iniciativa da campanha do trigo, reduzindo pousios, em tempo e extensão, mas, tão-sòmente, a necessidade de colher mais pão que o impôs. Digamos melhor como foi sabiamente dito pelo Sr. Presidente do Conselho a obrigação de pagar um prémio de seguro, embora elevado, na defesa da alimentação do nosso povo.
Outro aspecto. A circunstância de o milho ocupar, no Norte, terreno onde o trigo seria rei incontestado dos cereais é erro certo que as gerações vão pagando para saldar o deficit de proteínas animais. Mas é falta indesculpável da lavoura? Ou essa falta reside em não se ter estruturado, a tempo, convenientemente a cooperação, com a devida garantia, quanto a contigentes e preços, com as produções pecuárias açoriana, de Angola e de Moçambique? E, talvez, de não se ter ainda dado a conhecer, como era mister, ao camponês nortenho que o milho híbrido de ciclos compridos de vegetação, é matéria-prima mais valiosa para indústrias várias do que para os usos tradicionais do norte litoral.
E, ainda com referência a este rico cereal, teria sido, de facto, mais adequado cultiva-lo em regadio, no Sul, onde se pode tirar maior proveito das suas excepcionais faculdades produtivas - refiro-me às formas híbridas de ciclo de vegetação mais longo. Oito toneladas em vez de tonelada e meia por hectare é diferença significante.
Não foi também por iniciativa da lavoura que foi, impensadamente, extensificada a cultura do arroz nos campos do Mondego e do Vouga, em vez de se concentrar a produção orizícola nacional nas lavouras das planuras do Tejo e do Sado, onde as produções unitárias são, na realidade, muito mais elevadas. A razão foi apenas julgo, de ter sido no Mondego que se fez a primeira e mais intensa campanha oficial. A lavoura limitou-se assim, a ir com a onda, como é uso dizer-se do Brasil.
E também se a vide caminha ainda hoje assustadoramente pelas várzeas férteis, mais próprias para a cerealicultura, horticultura e pastagens, pergunta-se se não será esse pseudodesatino da lavoura consequência única da irregularidade da vida dos nossos rios, com frequentes cheias devastadoras dos campos marginais.
E ainda se pergunta, e julgo que com justificada razão, a quem possa dar a resposta o que se espera para realizar, com a necessária celeridade, o fomento da fruticultura e da viticultura destinada à produção de uva de mesa, nessa maravilhosa península da Estremadura e no Algarve mediterrâneo, onde se casam influências criadoras de climas e mesclas úberes de solos de diversas idades e se insiste em culturas de fraca produtividade?
A nossa vizinha Espanha não esperou, na realidade, tantas décadas, em estudos intermináveis, para estruturar, no Norte, a fruticultura industrial, que, no Sul, constituía já objecto de rendosa exploração. E não temos nós, já hoje, exemplos significativos do valor de arboricultura industrial no nosso país onde já estão estabelecidas, em vários núcleos privados, de norte a sul, inúmeras e rendosas explorações frutícolas? Porque se espera?
Não se conhecem as normas a que deve obedecer a selecção, calibragem e empacotamento colectivos das frutas quando o destino é o do mercado exterior, e como se transporta, em navios apropriados essa riqueza que já foi, em Portugal, objecto do maior interesse económico? Não se trabalha, por exemplo, já em perfeitas condições, nestes sectores, na Madeira e nos Açores? Porque se espera, então, para dar os necessários passos? Cada ano perdido nesta actividade criadora é atraso de muitos em relação a outros concorrentes que não dispõem de melhores aptidões para a produção que o nosso país, antes pelo contrário.
E quanto à província que, por excelência, vai ser centro activo de turismo, é necessário provê-la, com antecedência e abundância, em géneros agrícolas, hortícolas e produtos pecuários a que a estranja está habituada, não esquecendo que entre os milhares de turistas se encontram inúmeros