O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

15 DE DEZEMBRO DE 1966 873

de há pouco, de há muito, ou desde sempre, novas testemunhas do que por ela estavam fazendo. O pequeno aeródromo de Caconda apinhado de gente, os velhos açorianos de S. Jorge do Catofe, reunidos creio que sem falta de um, a população toda de Quibala, já no lusco-fusco do fim da tarde, esperando-nos à roda do seu regedor, as autoridades e notáveis da Gabela, indiferentes à demora, sob o -cacimbo, são imagens que destaco de entre outras como típicas da benevolência que quiseram manifestar-nos e do apreço demonstrado nas nossas pessoas à Representação Nacional.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Só não direi que tocámos ali o limite da afabilidade, porque idêntica a viemos encontrar, dias mais tarde, na escala - tão curta para tanta sensação que nos acrescentou às experimentadas em Angola - na escala, ia a dizer, por S. Tomé. A par do deslumbramento da natureza tropical, ajardinada pela exploração intensa, o alegre acolhimento do seu povo, o asseio de vida patente por toda a parte, a fácil comunicabilidade, a polidez de modos, a geral educação deduzida na multiplicação de contactos, rapidíssimos embora, ao acaso de encontros todavia representativos na sua diversidade, deixaram-nos de S. Tomé, onde já sabíamos viver a população mais letrada de Portugal - parece que ainda mais que a de Cabo Verde -, a imagem do que uma convivência multirracial, prosseguida na paz e com tempo, pode fazer para elevação do Africano aos hábitos de civilização que temos por melhores.
Sr. Presidente: Falando principalmente de Angola, pois foi o objecto essencial da viagem em que participei, muito de propósito tenho estado a contrariar o impulso de me alargar no comentário de quanto me arrebatou, ou despertou interrogações, na contemplação dos dons de Deus e das dádivas dos homens àquela terra regada de tanto suor e de tanto sangue de portugueses - só não conjecturarei que de lágrimas, salvas as das saudades mais vivas, porque quem aquilo fez não seria para lágrimas!-, do mesmo modo que calo muito do que se me afigurou poder constituir tema de estudo ou preocupação para os responsáveis pela marcha dos negócios públicos, entre os quais quero que nos contemos, e nos contem, a nós próprios. Forçando ainda a natural concisão, estou-me a reter para não parecer presumido de conclusões que a brevidade do tempo não consentiria talvez, para não incorrer em erros de apreciação por falta de bastante amadurecimento das noções adquiridas.
Se as palavras ou o jeito de as dizer não me desservirem, espero ter, no entanto, podido transmitir a V. Ex.ª as minhas impressões dominantes e essenciais: as de uma realidade séria e de uma plenitude de promessas, que oxalá as maldades dos homens não desgracem.
Mas alguma coisa me resta dizer para que não tenho de pedir apoio, nem temo a emenda de ninguém, pois é plenamente, instransmissívelmente, pessoal - embora com toda a certeza não exclusiva; esta é a declaração da parte muita viva que tomo para mim nos rendidos agradecimentos devidos às personalidades que nos receberam, agasalharam e acompanharam em Angola e em S. Tomé: às autoridades locais, encabeçadas pelos governadores visitados, que todos nas suas residências quiseram partir connosco o pão da hospitalidade; à imprensa, que nos seguiu atenta e aprovou a nossa presença; aos chefes de serviços e dirigentes de empresas; e por fim, que não por somenos, aos nossos colegas Deputados por esses círculos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E destes estou certo que nenhum me levará a mal enaltecer entre todas a desvelada companhia que em Angola nos fizeram o Sr. Deputado Pinheiro da Silva, secretário provincial da Educação, e o Sr. Deputado Neto de Miranda, presidente da Comissão Provincial da União Nacional, que foram verdadeiramente muitíssimo além da normal cortesia e bondade de acolhimento, pois, com sacrifício dos seus trabalhos e incómodo de suas pessoas, quiseram fazer o favor de nos acompanhar e guiar os passos durante os dias e os caminhos quase todos da nossa digressão pela província.
Estendendo-o, como é devido, ao Governo-Geral, causa eficiente de tudo, e ao Sr. Ministro do Ultramar, cujo apoio tudo terá condicionado, não posso, com franqueza, pensar em fecho melhor para esta nota de viagem do que dizer aqui a todos: muito e muito obrigado!
Portanto, com isto, tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Sousa Rosal: -Sr. Presidente: Faz hoje precisamente 48 anos que o Presidente Sidónio Pais foi traiçoeiramente assassinado em plena estação do Rossio, quando tomava o comboio para o Porto, a fim de visitar essa nobre e invicta cidade e desfazer com a sua presença equívocos que reinavam entre aqueles que apoiavam a situação a que presidia com a maior dignidade e acerto, que lhe vinham do prestígio da cátedra, da experiência do Poder e da arte de diplomacia.
Pois, como é sabido, tinha antes sido professor da Universidade de Coimbra, ministro por duas vezes e embaixador em Berlim.
Seria imperdoável falta deixar passar este dia sem se ouvir pronunciar nesta Casa, onde a voz do povo, que tanto o amou, tem assento, uma palavra, mesmo simples, mas sincera, que outra não sei dizer, de repulsa, de justiça e de saudade em memória de tão ilustre Presidente.
De repulsa, por aqueles que, afastados do Poder em 5 de Dezembro de 1917 por força do Exército e vontade da Nação, cansada e gasta de ter no Poder a demagogia, na Administração o caos, no trabalho a indisciplina e na rua a desordem, desorientados por tanta conjura e intriga inútil lá no fundo escuro das alfurjas, onde se acoitavam impotentes e desesperados, dementaram o espírito e armaram o braço do assassino.
De justiça, pela alta inteligência, indiscutível honestidade e serena coragem de que deu sobejas provas na curta vida da República Nova que instituiu e a que deu feição presidencialista. A nobreza e firmeza do seu carácter resistiu a toda a sorte de intrigas que para manter o País em permanente agitação se levantavam sem qualquer sombra de fundamento e foram desde as acusações que punham em causa a sua dedicação à República, ele que já era um activo e apaixonado republicano quando estudante em Coimbra e depois foi ministro de governos republicanos e era Presidente eleito, só porque não se quis submeter ao despotismo dos partidos, até à de não colaborar com os nossos aliados na primeira guerra mundial, só porque quis meter ordem na nossa comparticipação. Este rumor teve supremo e público desmentido no telegrama que lhe foi enviado, após o armistício, pelo rei Jorge V de Inglaterra, nestes termos:

Possa a nova era, cuja aurora vamos romper, apertar mais os antigos laços que unem o povo do meu Império ao de Portugal e trazer para ambos prosperidade c progresso.