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874 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 49

De saudade, pelo porte e espírito cavalheiresco, pela nobreza de alma e bondade de coração, tudo virtudes com que Deus fez dos Portugueses um povo à parte, e que o Presidente Sidónio Pais cultivava com naturalidade e rara distinção e simpatia, dotes que lhe eram reconhecidos da maneira mais sentida nas exuberantes manifestações que espontaneamente lhe eram tributadas onde quer que aparecesse.
O País ainda deve ao Presidente Sidónio Pais, além dós dias em que vivemos com acendrada fé nos destinos da Pátria E fundadas esperanças no seu resgate sempre animados ela preocupação de estabelecer a concórdia entre todos os portugueses, destacando-se entre eles o de reconciliar o Estado com a Igreja, o de ter feito arreigar no espírito dessa qualificada mocidade que foram os seus cadetes da Escola de Guerra, hoje Academia Militar, vivos e leais camaradas do 5 de Dezembro e de sempre e que depois foram os tenentes do 28 de Maio, o firme propósito de f aze* mudar de rumo os ventos nefastos da política, pondo em movimento e dando expressão àquilo que mal teve tempo de ser aspiração e determinação e hoje é realidade indiscutível.
Por sentida homenagem do Governo de Salazar, fiel intérprete da vontade nacional, os restos mortais do Presidente Sidónio Pais jazem entre os nossos maiores no Panteão Nacional, monumento acabado de erguer para glorificar aqueles portugueses que pelo génio, pela cultura,- pelo heroísmo, se vão da lei da morte libertando.

Vozes: -Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1967.
Tem a palavra o Sr. Deputado Águedo de Oliveira.

O Sr. Águedo de Oliveira: -Sr. Presidente: Na economia global e nas finanças públicas há problemas que se revestem de grande generalização, abrangem os planos internos e exteriores e que, para serem dominados, obrigam a amplas análises e depois a adequações e tentativas equibradoras que dificultam a actuação construtiva.
Somos arrastados, por vezes, postos em caminhos já trilhados, e sofremos de efeitos e consequências alheias ao próprio destino.
Assim, certos problemas da hora presente -da moeda, do crédito, do desenvolvimento, das finanças - vêm ter connosco e fazem mais do que impressionar: reclamam atenção e alteração de medidas.
O mundo rodeia-nos, mas, além disso, interfere-nos.
E um mundo assim parece, pela técnica e por aspirações generalizadas, que encurta e condensa, tem os seus anéis de roda, mas triplica as nossas tarefas.
Já não é pouco conservar uma fortaleza e deixar assobiar os ventos e marulhar as inundações.
Mas olhemos dessa torre para o que se passa.
No aperto dos prazos, na multidão de elementos a consultar, na exuberância de testemunhos oficiais que parecem estender-se, mas sem alturas de graduação, julgo oportuno focar alguns pontos de finanças gerais e de economia continental, acudindo apenas aos que me pareceram mais instantes. Com este exórdio, entro no debate propriamente dito.

A América descomunal:

Começarei por um esboço sobre a fisionomia económica da América descomunal, para poder mostrar a sua imensa federação nortenha enleada aos ritmos de vida do velho continente.
Dela se pode dizer que não consegue apartar-se de uma larga apreensão, que se deixou surpreender nas suas mais caras previsões e que, ajudando, colaborando, doando mesmo, tais ajudas e dons suscitaram reparos e desaprovações que ninguém esperaria.
A apreensão chama-se greve de serviços públicos em meios descomunais.
A surpresa está nos ponteiros loucos e sem fim da sua principal bolsa.
O desacordo com as suas benemerências está no carácter e alcance das suas ajudas e dons, particularmente do investimento no estrangeiro e da alta dos juros, que causa pasmo aos de dentro e aos de fora.
Vejamos ponto por ponto:
A greve americana!
Não é o que ela foi.
É o que representa de ameaçador, o que ela mostra de frágil e terrível, a um tempo, na ossatura e marcha da sua gigantesca economia.
Intermezzo sombria, mais, drama colossal, condenação sem apelo a uma cidade que se intitula capital do Mundo e a um país que tomou a dianteira na balança de poder contemporânea e que as elites directivas e as autoridades não suspeitaram, não previram, não souberam segurar e nem sequer remediaram.
Perante o colapso da alta civilização, cosmópolis e grande potência quedaram-se desiludidas e perplexas - obscuras, enfraquecidas, tolhidas d.e movimentos, inermes, sem saber tomar nas mãos as rédeas de comando, sem transportes, as habitações mergulhadas em frio e obscuridade, as longas e insuportáveis marchas a pé, os negócios parados, a economia caída de joelhos; e, espreitando sempre, o retrocesso a outras idades bárbaras e à anarquia.
Um mencur operário, colérico e jactancioso, mostrou ser o grande ditador que a literatura e o filme americano quiseram carregar, com todos os tons, na história da Europa.
A ameaça de barbárie, u suspensão trágica da civilização, ao colapso fatal da vida colectiva, os Americanos, impreparados e cândidos, não responderam nem sabiam responder.
A surpresa gerou-se em Wall Street, na mais poderosa e célebre bolsa do Mundo.
Uma bolsa que desce, uma bolsa que recua - quando se esperava que subisse sempre - representa dinheiro mais caro com reflexo directo em títulos e valores.
Hipotecas, acções, bilhetes, obrigações, títulos viram-se rápida e inesperadamente afectados.
Alguns esfregando os olhos pensavam estar diante do regresso não do bom, mas da catástrofe de 1929. Por sua vez, a bolsa de Nova Iorque pesou e esmagou as suas pequenas irmãs de Londres, Paris, Milão e Bruxelas, subindo os juros de forma espantosa, estrangulando os negócios e cerceando o empreendimento.
Era de tal ordem que até se esperava que deitasse o Governo a terra.
E o pensamento era geral, por todos afirmarem pela mesma cartilha.
E a cartilha chama-se o indico Dow-Jones