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15 DE DEZEMBRO DE 1966 879

Houve em certa altura uma crise e tornou-se necessário reclamar de novo um clima de confiança e de cooperação.
Entretanto, a expansão económica continuava sob o signo de laissez passer, mesmo entre nós, que fomos duramente atingidos pelas más colheitas.
Houve agora uma reunião em Londres, onde foi dado um mandato continental de autoridade e de simpatia do Governo Britânico, reforçando a sua posição para negociar em bloco e poder forçar as portas principais.
Não podemos esquecer que se estavam, nessa emergência, tomando decisões graves e se perfilhavam princípios que representam uma temível ameaça para-a África austral, onde permanecemos de pé, dos dois lados, com os nossos direitos e sem servilismo a inferioridades.
Por outro lado, será difícil para nós subscrevermos tudo quanto se contém no Tratado de Roma.
Era melhor a fórmula de solidariedade em bloco, de entrada em comum na C. E. E., do que este mandato dado aos nossos antigos aliados, fiando tudo de negociações em que costumam ser mestres, ao que sabemos.
Sobretudo, era superior a fórmula da Europa Unida, sem graus, nem sobreposições.
Se as nossas coisas piorarem pela falta de melindre dos Britânicos para connosco, na Beira ou em outros lugares, se houver corrida de vantagens, se a integração se tornar, complexa entre parceiros tão desiguais, haverá que ver de novo o assunto.
Walter Lippman escreveu que seria grande surpresa a da entrada da Grã-Bretanha no Mercado Comum dentro de poucos anos.
Ela terá de modernizar, em consequência, o seu equipamento por forma tão drástica que isso implicará um novo período mais austero do que o actual imposto pelo Sr. Wilson.
Reclamou-se - mas ultimamente - contra a atitude dos grandes companheiros, desdenhando os nossos e outros interesses, absorvendo mão-de-obra e retendo capitais, o que quer dizer pensando somente em si, no clima de liberdade mercantil e de associação. Isto deveria ter sido reclamado há mais tempo e não deverá ser esquecido nas várias reuniões.

As reclamações da alta de juro:

Todos conhecem, para além das afirmações do relatório do ministro, o fenómeno presente da alta das taxas de juro.
O dinheiro está caro nos Estados Unidos e por toda a parte.
As taxas de juro subiram em toda a Europa, começando na vizinha Espanha e acabando ao longo da «cortina de ferro».
Portanto, alta do custo do dinheiro, não só nestes países, mas em todo o mercado mundial, o que quer significar que começa a subir tudo - bilhetes do tesouro, hipotecas, créditos de vária espécie, dívidas de entidades locais, investimentos regionais, nível de preços, previsões erróneas, prejuízos, até à realização de um ciclo de contracção dos negócios.
O Banco Export-Import passou de 5,5 para 6 por cento, e este está no fundo da escala.
Portanto, dinheiro caro e, como consequência, na defensiva, menos compras, menos stocks, deficits e bloqueios de salários e de preços que não alteram o que está, embora remediando a algumas das pressões altistas, menos ou mais difícil empreendimento, banqueiros desconfiados e homens de negócio com dificuldades.
A alta do preço do dinheiro levou a banca oficial a agravar o desconto e a fazer contrair o crédito em todo o sector, procurando aquela trabalhar ainda dentro de
taxas moderadas sem encarecer ou agravar a alta correspondente.
Resulta daqui um certo desequilíbrio com os demais mercados, a expatriação ou a fixação de residência no estrangeiro de alguns capitais ali obtidos ou guardados e um desdém compreensível para os capitalistas estrangeiros, que podiam procurar-nos para aqui trazerem os seus haveres frutíferos.
Numa conferência, muito viva, como sempre, e retumbante, do Prof. Daniel Barbosa, este ilustre economista reclamou uma pronta revisão das taxas praticadas nos depósitos a prazo e na emissão de obrigações.
Estribou-se em três razões:
A primeira, de que a desproporção entre o mercado português e o estrangeiro impedia a mobilização nacional da poupança, tão essencial no momento que passa.
A segunda, de que somente um juro de certa altura será capaz de atrair o aforro que permanece escondido ou desconfiado.
E a terceira, de que estando a emigrar os capitais portugueses, à busca de remunerações elevadas, eles só reentram através de solicitações marginais ou cobrindo operações de crédito externo do Estado e das entidades privadas, fechadas com juro superior, e até bastante superior, ao nosso.
E assim pode fazer-se lá fora o que não se autoriza entre nós.
A isto se deverá acrescentar que, sendo muito espalhado o endividamento, somente por meio desse prémio adicional se poderão obter novos e apreciáveis recursos e que a taxa, sendo uma taxa, proporcionada a uma certa situação de equilíbrio - mais resultante do que mola propulsora -, ela não pode conservar-se artificialmente ajustada, porquanto tende a mover as cotações e a baixar o geral dos valores do lado das transacções. Já o tenho dito: quando os valores descem na bolsa é que, realisticamente, as taxas sobem muitas vezes.
O nosso país, como os países em evolução, carece de trabalhar com taxas baixas, e só se lhe deparam hl fora tentativas de elevação.
Principalmente agora, que as vozes da barbárie enrouquecida, as vozes da inferioridade estulta, clamam sem argumentar, vociferam sem entendimento, navegando na nave dos loucos, não esperemos o quase zero de mestre
O problema deve ser reflectido.
A construção civil, o transporte automóvel e ferroviário, as empresas jornalísticas, as plantações e benfeitorias no campo, a indústria de alimentação, as hipotecas, grande parte do fomento, carecem de juro barato e dificilmente se adaptam à alta global e efectiva das taxas.
Apesar disso, os reparos do Prof. Daniel Barbosa merecem atenção e estudo.
Não estou no segredo dos deuses, nem posso medir com rigor o quadro e tendências do mercado da dívida pública, para dizer a V. Ex.ª, Sr. Presidente, e apontar à Câmara um trilho seguro.
Além dos que apontei, o Estado é entidade que precisa de dinheiro a rodos e barato.
Na fase activa em que nos encontramos tem que investir sem dificuldade e não acrescentar muito às futuras amortizações.
O Banco de Portugal salienta, primeiro, a expansão havida há largos meses do valor das transacções do capital, tais como vendas de prédios, de títulos, de propriedades, sem mobilização de fundos.
O aforro deve ter crescido mais do que as operações desta ordem.