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15 DE DEZEMBRO DE 1966 875

Desde 1882 que dois velhotes provincianos, zaguchas e penetrantes - aliás sem grandes luzes de economia política -, elaboraram um índice popularmente aceite, o índice Dow-Jones, o qual, entre alguns valores seleccionados, fora construído para fornecer uma imagem segura cio estado de negócios e da vida económica norte-americana.
Um povo inteiro acreditava que o Dow-Jones cristalizaria em volta dos 1000 como símbolo de uma prosperidade ilimitada. Em Agosto ele caía para 763.
Wall Street pesou como uma nuvem opaca sobre as bolsas europeias, Londres, Paris, Milão, Bruxelas, subindo os juros, estrangulando os negócios, escurecendo o empreendimento.
Desenrolaram-se perspectivas sombrias, multa gente se enovelou em dificuldades, caíram os lucros, venderam-se menos barcos, menos automóveis, menos filmes, menos aparelhos; os stocks acumularam-se; a circulação monetária atrasou e o Governo foi acusado. E disto tudo resultou uma política melancólica de resignação de dinheiro caro, de fiscalidade, de bloqueio de salários e preços, coisas que os Americanos desamoram, se não odeiam.
Para os empresários menos crédito, também novas disciplinas e reclamações de produtividade extra.
Ora o mercado financeiro não é o passado, nem o presente, mas o futuro que descobre o véu que mostra as suas tintas e perfila ulteriores realidades.
E o passado rosado foi substituído por horizontes carregados de sombras.
Grandes empresas, colossais empresas, anunciam reduzir o ritmo das suas produções, mas a vaga de apreensão continuou mesmo assim.
Diga-se o que se disser, a economia da grande América é bem dirigida e a recessão vai sendo fiscalizada com acerto, marchando sob orientações e cuidados e travando com suavidade sem- se ficar para trás no entanto.
A Europa resistiu e pode continuar a sua marcha no meio de contramedidas, de inflações, de atrasos e sobretudo debatendo-se com quedas do investimento.
E, se a crise da bolsa nova-iorquina não foi -Deus nos livre - o regresso .a 1929 e às suas catástrofes, foi, entretanto, um choque, uma queda vertical, uma desilusão e a afirmativa de que ninguém dorme sobre certezas.
Os reparos em terceiro lugar dizem respeito aos investimentos americanos na Europa, na África e na Ásia.
Vários organismos europeus, vários políticos em evidência, vários parlamentares, sem negarem a generosidade e a bizarria do povo americano e dos seus dirigentes, discutiram os critérios de distribuição e analisaram as consequências, sobretudo no aspecto de viabilizar as infantilidades e desvarios de alguns Estados sem consistência.
Como os dons, auxílios e investimentos estavam à mercê de critérios flutuantes e unilaterais viu-se neles uma fonte nova de riscos, de desequilíbrios e de perplexidades e até de injustiça e de política esterilizante e infantil.
Que os dons, auxílios, fornecimentos, ajudem a consolidar o trabalho digno e a seriedade das vidas colectivas, está bem, mas que pareçam, em vários casos, ajudas versáteis e que possam ser aproveitados para alargar o caos social, a falta de juridicidade e a desordem primitiva, isso é o que lá fora, pela Europa, se discute e que devemos registar.
A estes investimentos desconexos e a tudo sujeitando acorreu a alta clamorosa das taxas de juro.
Ela acentuava retraimento, receios, perplexidades, pessimismo nos negócios, um ciclo que fecha.
A guerra no Vietname, que foi o ano passado um factor de alta de cotações, o que implicava encomendas e fornecimentos, tornou-se este ano um factor de baixa, um escuro despertar para os negócios.
E ao despertar as taxas de juro subiam onde não se julgava possível e até os custos de produção cresciam.
Na América, além dos seus bancos que são centrais de compensação e pagamentos da sua grande indústria, existe uma rede de pequenos bancos que rodam e exploram com dinheiro caro e prometem dar aos depositantes o que ninguém quer dar.
Por outro lado, exportadores de capitais que, como se viu, já interferem nos negócios mundiais, desde o equador aos pólos, pretendem suplantar e exceder os Ingleses e, como contraem riscos enormes e se lançam assim ao mundo ignoto dos afro-asiáticos, estão cada vez reclamando mais juro.
Este capítulo é rico de ensinamentos para nós.
Ele mostra a humildade e desligação da nossa bolsa, a qual não se mostrou sensível à crise americana.
Mostra que deve ser estudado o seu regime e devem ser propostas medidas, não de pura burocracia, mas de comissões trabalhando para se alargar o seu mercado, concentrar as transacções e dar preço a propriedades e valores que só o têm de comprador para vendedor.
O que se fizer terá publicidade bastante para não criar humidade no recesso dos departamentos.

A Inglaterra:

A Inglaterra, muito dada a estatísticas simples, mas significativas, debate-se no temor de duas curvas que não se mostram paralelas e que não caminham à mesma velocidade-- a da sua capacidade de produção e a da capacidade de compra -, sem conseguir fazer delas as lâminas proporcionadas de uma tesoura que se abre.
Eu admirei excedentemente, durante anos e anos, esse país que considerávamos um amigo velho, convertido em pessoa de família, mas que mostra, nos novos tempos, não saber conservar as amizades mais sólidas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-A Inglaterra debate-se com três crises de elevado calibre - a condução pertinaz dos negócios internos, sob modelo alterado das técnicas do direito público; a sua vacilação dispersiva na sustentação e coordenação de uma comunidade cujo princípio unitário baqueia; e a inconsideração com que pretende amparar-se, apadrinhar e recorrer a um órgão rixoso, versátil, extravagante, como é a O. N. U., onde os nascituros e emancipados têm voz predominante sobre a velhice, a experiência, o conhecimento secular e sólido e o direito público, comece ele em Serafim de Freitas, em Suarez ou em Grotius.
Por muito talentosos que sejam os descendentes de Pitt e de Gladstone, por muito sólido e fundamentado que seja o seu código político, por muito afinada que se mostre a sua teoria político-económica, de Adão Smith a Marshall e a Keynes, a marcha inglesa sofre pelas caminhadas e deslocações, pelos atrasos e retrocessos, pelas vacilações e apressados em três sentidos tão concorrentes como dispersivos. O déficit da sua balança de pagamentos ameaça a solidez do esterlino e a segurança das transacções externas, depois de vários anos.
O déficit tem sido mais que considerável e não se verá extinto senão depois de anos.
A Inglaterra produz em esforço sério, portentoso, para domar este dragão agarrado aos seus flancos. Aumentou marginalmente a exportação.