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1524 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 83

que a agricultura da província de Moçambique tanto carece.
Ao que me dizem as escolas agrícolas, são das mais caras de se porem em funcionamento devido às suas características especiais. É possível que assim seja, mas a verdade é que a agricultura em Moçambique se faz de uma maneira precária, não tanto por falta de iniciativas e de investimentos, mas sobretudo por falta de orientação técnica dos agricultores, sobretudo dos pequenos agricultores, o que leva a desânimos, e a desaires. Não estará na pouca ou quase nenhuma assistência técnica ao agricultor a razão da fraca rentabilidade da agricultura de Moçambique, que tem sem dúvida, condições para produzir mais e melhor?

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Como poderemos concorrer aos mercados externos e entrar em competência com eles se pela técnica não aperfeiçoarmos, e melhorarmos os produtos, mesmo aqueles, como a castanha de caju, de que somos hoje no Mundo um dos maiores produtores?
Creio que há, na verdade, urgência em se fazer alguma coisa no sentido de se ajudar o agricultor não apenas em créditos mas com técnica, e para tal haverá necessidade de se fomentar o ensino agrícola.
Ao analisarmos o panorama do ensino em Moçambique, observa-se que os cursos comerciais são os que apresentam maior frequência de alunos. Quer isto dizer que a maioria dos jovens se orienta no sentido de um curso cuja finalidade é o emprego no comercio, nos escritórios nos bancos nas empresas e no pequeno funcionalismo. Se ao grande número de jovens que todos, os anos terminam os cursos comerciais em Moçambique juntarmos o apreciável número dos que regressam da África do Sul, para onde se dirigem com o fim de adquirirem conhecimentos mais práticos e rápidos da língua inglesa e noções de comércio em cursos mais breves e simplificados, obteremos uma percentagem bastante elevada de Jovens com cursos comerciais.
As escolas deste género de ensino e os liceus aumentam de alunos de ano para ano em cursos diurnos e nocturnos, o que é um forte indício da vitalidade da juventude de Moçambique e do seu desejo de aprender e saber. O que receio - e abertamente o digo nesta Câmara - é que, a continuar-se neste ritmo de frequência, as colocações faltam, isto é, o mercado de trabalho deixe, dentro de pouco tempo, de poder absorver todos estes jovens de variadas etnias e camadas sociais que, com a carta do curso comercial ou liceal na mão, vêm para a vida cheios de vontade e de esperança para em pouco tempo se tornarem desiludidos e fracassados.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Muitos desses jovens ingressaram nos cursos desta natureza porque não encontraram outros nas regiões onde vivem ou ainda porque, havendo-os de outro género, não entenderam a sua finalidade, nem para eles foram orientados.
No entanto, sabemos que se sente a falta de técnicos nas variadas indústrias e na agricultura, que há grande carência de indivíduos habilitados com profissões e ofícios especializados, tanto masculinos, como femininos.
Ouvi com muita satisfação nesta Câmara o ilustre Deputado por Angola Dr. Neto de Miranda referir-se à necessidade de cursos de formação profissional acelerada, o que estava também no meu espírito referir nesta intervenção quanto a Moçambique.
Como foi dito, o Conselho Ultramarino recomendou a criação destes cursos, e julgo saber que, por determinação do Ministério do Ultramar, foram pedidas sugestões sobre o assunto às províncias. Faço votos para que elas não demorem o que Moçambique possa em breve contar com operários e profissionais qualificados, cuja falta tanto se faz hoje sentir.
Penso que seria de toda a vantagem que se procedesse a um estudo planificado do mercado de trabalho da província de modo que se orientasse a juventude no melhor sentido, sobretudo aquela que, com sacrifício de meios materiais, envereda por cursos que não correspondem, nem pela sua natureza, nem pelo tempo que levam a tirar ao legítimo desejo de em breve tempo ganhar a vida e ser útil a si próprio e a sociedade.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Os cursos de artes e ofícios, os cursos elementares e médios agrícolas e outros práticos e simples, assim como a formação profissional acelerada, virão em ajuda desta larga camada da juventude de Moçambique, com benefícios para a sua própria economia.
Diz o ilustre relator do parecer das Contas Gerais nas considerações que faz a propósito do ensino na metrópole, acerca da preferência de certos cursos em especial no grau superior.

O assunto é pertinente num estudo sobre as contas públicas, que são, no fundo, o reflexo da potencialidade económica do País em especial no que se refere ao ensino orientado para empregos em actividades produtivas de bens e serviços, porque é do conhecimento geral em todos os países que o progresso económico está estreitamente ligado ao nível cultural, técnico e científico das diversas camadas da população.
A produtividade no trabalho depende em muito do grau de instrução do trabalhador e da forma como a instrução é ministrada.

Estas judiciosas considerações aplicam-se com maior pertinência no ultramar, onde a falta de técnicos se sente com acuidade.
Sr Presidente. Quero ainda referir-me a um outro importante aspecto do ensino a formação dos professores e a necessidade que há em Moçambique de se criarem os estágios para o ensino liceal.
É do conhecimento geral que o ensino depende sobretudo dos professores. Podem as escolas estai magnificamente apetrechadas com material escolar, podem os livros traduzir com clareza a ciência e o saber que, se os professores não estiverem preparados para o desempenho da sua função, a escola será sempre uma má escola Os materiais e o livro completam, sem dúvida, a acção do professor, mas é essencialmente dos seus conhecimentos pedagógicos c- didácticos, da maneira como os transmite aos alunos, da sua formação espiritual e moral que dependerá em muito a educação dos jovens.
Já este ano a Câmara se ocupou largamente do importante problema da educação da juventude e da necessidade que há de o resolver da melhor maneira. Não me sabe mais que fazer umas breves considerações no desejo de que se procure resolver em Moçambique a carência de professores bem habilitados para o ensino liceal.
O número de professores efectivos com Exame de Estado nos diferentes liceus da província de Moçambique, é o seguinte Liceu de Salazar, de Lourenço Marques, 14, Liceu de D. Ana da Costa Portugal 8, Liceu de Pêro de Anara , da Beira, 10 Liceu