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1806 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 97

nheiros executem com perfeição e cuidada técnica os projectos. É preciso que, para além do cimento armado, se cuide por igual, e a par e passo, do homem, do seu bem-estar, das suas necessidades vitais, das exigências e responsabilidades para com a sua família e o futuro dos seus.
Desejar estabelecer um pólo de desenvolvimento regional à base do cimento gasto nos canais ou em fábricas será sem dúvida trabalho inglório se, como invólucro de todas essas estruturas, se não criarem as condições de vida indispensáveis ao homem do nosso tempo.
O engenheiro trabalhará no campo ou nas fábricas, na investigação ou na experimentação, aplicará os seus conhecimentos e dedicar-se-á de alma e coração à tarefa que lhe foi atribuída ...
Mas esse engenheiro, esse regente agrícola, esses técnicos e outros têm lar, mulher e filhos. Para trabalharem nos campos ou nas fábricas têm de ter a garantia de que os seus filhos vão marchando para a vida, estudando, construindo o seu futuro.
Pretender, pois, criar pólos de desenvolvimento regional e não os dotar senão com canais e fábricas é erro crasso.
Em vão tenho apelado para que a tempo e horas se criasse em Elvas um liceu que permita se fixem ali os técnicos de que necessitamos. Em vão a população do concelho e dos limítrofes esperou.
Mais um ano vai passar sem que funcione ali o liceu, mais um ano em que as famílias da terra terão de ir para longe, se forem suficientemente abastadas para isso, ou terão de abandonar de vez uma terra que lhes não permite educar os seus filhos, dentro da modéstia dos seus orçamentos, a não ser com um curso técnico elementar.
Um plano de desenvolvimento regional é una todo. Tem de ser encarado como um todo.
Esquecer o ensino é mutilar tudo o mais.
Na altura em que o Governo ali mandou construir a Barragem do Almirante Américo Tomás, no momento em que a água começou a correr pelos canais, qual seiva vivificante, os filhos dos agricultores, dos técnicos, dos industriais, dos comerciantes e de todos aqueles que não podem mante-los longe do lar, ou estiolam, ou obrigam que as famílias se transfiram, deixando atrás de si o vazio. A emigração dos braços é má, mas a emigração das inteligências, essa, é verdadeiramente catastrófica.
Acuda-se ao regadio do Caia e à promessa que ele encerra, dando a Elvas um estabelecimento de ensino secundário onde os filhos daqueles que terão de aplicar esforço e saber naquela região possam preparar-se para a vida.
Daqui apelo mais uma vez para o Sr. Ministro da Educação Nacional, solicitando-lhe que não esqueça aquela região do interior, dotando-a com o liceu ou secção que há tanto tempo vem solicitando.
Se a desilusão sofrida foi grande por se ver chegar mais um ano lectivo sem que o liceu abrisse as suas portas, a esperança perdura, e, confiadamente, esperam que as dificulades se removam para que no próximo ano lectivo o edifício que a Câmara Municipal tem preparado para o efeito possa vir a encher-se da alegria da gente moça que estuda e caminha para a vida.
Penso que este meu apelo não será em vão.
O que disse a respeito do regadio do Caia aplica-se em todas as outras regiões do País onde se levem a cabo obras de fomento daquele vulto.
A escola tem de estar lá à espera, a chamar as gentes, a constituir um foco de atracção de homens.
É errado pensar-se que estes - falo dos homens do nosso tempo - se fixarão em regiões que lhes não ofereçam um mínimo de condições de vida e de garantias quanto ao futuro dos seus.
Eles irão, ou não irão, consoante o meio seja, ou não, propício ao normal decorrer do viver dos nossos dias.
Antes de terminar este capítulo quero juntar a minha voz à do ilustre Deputado Dr. Francisco Pino, que há dias nesta tribuna e muito oportunamente agradeceu ao Governo o ter dado prioridade à construção do edifício próprio para instalar o Liceu de Portalegre, acertada medida que muito irá beneficiar o ensino nesse secular estabelecimento de tão honrosas tradições.
Não esqueceu o Deputado Francisco Fino, nas suas palavras, o caso de Eivas, dando-lhe uma achega que a população do concelho muito apreciou.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Outro aspecto que igualmente me preocupa ao encarar problemas que se relacionam com o futuro daquela região é o que diz respeito à linha do Leste, mormente ao troço entre a Torre das Vargens e Elvas, dado o estado em que se encontra.
Na verdade, se não cuidarmos a tempo desta via de acesso ao regadio, vamos começar a produzir tudo aquilo que ele pode dar nos seus 7000 ha e não teremos possibilidade de fazer o escoamento do que ali se colher.
Daqui a poucos anos, quando o regadio do sistema Crato-Alter entrar em exploração, nova fonte de matérias-primas surgirá, a tornar ainda mais sobrecarregado o tráfego de mercadorias nesta linha.
O serviço aumentará em muito. Adubos, sementes, forragens, cereais, gados, matérias-primas de toda a ordem, produtos industrializados, eis o que terá de circular por aquela via férrea, isto sem contarmos com os minérios de ferro que, tudo faz crer, começarão a ser explorados em breve, dada a importância dos jazigos detectados, aliás, continuação daqueles outros que na margem esquerda do Guadiana estão a ser explorados pelos Espanhóis.
A concessão para a exploração desta linha férrea foi dada em 1859.
Em Novembro de 1862 era aberto ao trânsito o troço que vai da Ribeira de Santarém até Abrantes.
No ano seguinte, o troço de Abrantes ao Crato, em Maio, o do Crato a Eivas, em Agosto desse ano, e, logo após, a ligação à fronteira.
É pois uma linha centenária, a exigir reparações e aperfeiçoamentos em parte importante do seu traçado, que é aquela que mais vai interessar ao regadio recém-estabelecido.
O troço entre a Torre das Vargens e Eivas é constituído por carris que não suportam andamentos rápidos, nem cargas e têm as seguintes características:

Torre das Vargens a Portalegre: carris com 12 m e 40 kg por metro, assentes de 1890 a 1902, substituindo os primitivos.
Portalegre-Elvas (fronteira): carris com 8 m e 30 kg por metro, foram assentes de 1879 a 1886.

Para os técnicos na matéria estas indicações são mais que suficientes para avaliarem o estado a que a linha chegou.
O material circulante é muito antiquado. Mesmo quando as locomotivas são modernas não se pode tirar delas o normal rendimento. Nalguns pontos da linha as composições não podem ultrapassar os 40 km horários sem sérios riscos.
Devido a estas deficiências, aliadas ao desconforto para os passageiros, etc., a venda de bilhetes entre Abrantes e