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1730 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 86

súbditos rendidos ao seu poder criador, que por tão vastos sectores se dilata, sangue produto de sangue que entumece veias de uma Circulação que é labor epopeico a propiciar vida em constante profissão de lê. Não fora o vinho, na esplendorosa realeza de uma presença cuja espiritualidade se sublimou através da divinização em que todos os dias participa ... não fora o vinho a perder-se como fonte de tanto pão duramente amassado com suor e lágrimas, e não seria possível todo o calor de humano Convívio usufruído num hausto intensamente comungado, todos ungidos e vergados à soberania do que nos tornou soberanos,
Foi como se rezássemos num templo, todo cheio daqueles a quem uma mesma fé animava!
Por tal modo ... que, no que pessoalmente me respeitava, como homem do vinho fino do Douro, passei a reconhecer, desde aquele momento, absoluta legitimidade à denominação de «Ponto» com que tão nobremente se acreditou uma marca, tão grande foi a intensidade do estreito amplexo trocado entre os que o produzem e os que expandem, ali juntos, fileiras cerradas para o defenderem e glorificarem.
Pois, Sr. Presidente, como homenagem com homenagem se paga, aqui fica, a correr num discorrer sincero, todo o sangue que naquele sangue se gerou e que assim vertido há-de transfundir-se para aviventar o corpo comum, produção e comércio de braço dado como partícipes do mesmo esforço, que tão fundo se reflecte na economia nacional ... Que tão fundo se reflecte na economia nacional ..., foi o que exactamente disse sob o domínio ainda da eloquência dos números que nos foram presentes e não julgava possíveis num momento em que, saudosamente, parece termos deixado de ser um país essencialmente agrícola; eloquência dos números que irei deixar aqui reproduzidos para que se não minimize o real valor de um produto que do alto nos coloca como fonte de riqueza, a possibilitar considerável entrada de divisas equilibradoras da nossa balança comercial.
De lacto, ponderada como foi a importância do vinho do Porto nos seus aspectos, regional, comercial e nacional, a que se mostrou derivada do seu peso substancial como produto de exportação - sem considerar o seu elevado contributo como valor turístico - impressiona no que se não coaduna com uma desatenção que estamos dispostos a contestar em ordem ao restabelecimento de uma economia que se definha, com reflexos que muito brevemente se sentirão no espaço económico português e no próprio prestígio da política do Regime.
Assim, pana que conste, segundo as médias relativas aos amos de 1965-1969, quanto aos principais produtos de exportarão, o vinho e seus derivados conquistaram uma posição cimeira, justamente a primeira, no montante de 1660 649 contos, logo seguidos da cortiça, com 1 572 877 contos. De frisar que, no que respeita ao ano de 1969, só o vinho rendeu 1 807149 contos, cabendo ao vinho do Porto 529 663 contos, tudo quanto, considerado o estado de crise em que se encontram as duas actividades interessadas, se mostra apreciável como medida e como incentivo paira pé estudar e melhorar uma situação má, a que é preciso acudir rápida e decisivamente.
Como?...
Pois através da definição de uma política nacional de aguardentes e álcoois, o que pressupõe uma revisão e consequente reestruturação de toda a legislação em vigor, anacrónica e fora dos condicionalismos da hora presente, isto tendo em vista e em conta a importância da economia da região produtora e consequentes problemas sócio-económicos em que se debate, do comércio expansionista e da própria economia nacional, pela natural interdependência das (soluções que comporta. Sem nos esquecermos de que fazer exportar e beber mais vinho do Porto representa consumir mais «vinhos comuns», de que derivam as aguardentes adicionáveis aos mostos do Douro.
Trata-se, como se vê, de uma vasta problemática, tão vasta que nos obriga a quedarmo-nos no seu enunciado, na certeza de que bem se desencadeará a conveniente ofensiva, não só para satisfazer legítimos anseios dos eleitores que representamos, mas sim, e sobretudo, para defendermos - e somos bastantes - o interesse nacional.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Pêros Claro: - Sr. Presidente: O assentamento da última ponte sobre o Tejo foi acontecimento tão importante nas relações sócio-económicos entre o Sul e a capital que bem podemos falar de «tempos antes da ponte» e «tempos depois da ponte».
Ora, antes da ponte, quem tinha de se deslocar a Lisboa, quer de carro, quer sem carro, tomava um dos barcos em Cacilhas e em poucos minutos estava no centro da grande cidade; depois da ponte, diminuiu consideràvelmente o transporte dos cairos por borco, de tal forma que, sentindo-se a empresa transportadora prejudicada, conseguiu do Governo o pagamento anual da imobilização de três ferry-boats. Entretanto, o parque de estacionamento de Cacilhas registava cada vez mais carros e está hoje completam ente saturado.
Antes da ponte, quando o nevoeiro descia sobre o Tejo, milhares de pessoas ficavam em Cacilhas a aguardai que ele levantasse, e assim se perdiam milhares de horas de trabalho. Mil pessoas que fossem, perdendo uma hora, logo eram 125 dias de trabalho de oito horas que se desperdiçavam; depois da ponte, ainda há muita gente que arrisca a vida, como há dias aconteceu, cerca do meio-dia, ao tomarem o «cacilheiro» que os deixaria no centro da cidade.
Antes da ponte, atravessavam o rio, de barco, 20 milhões de pessoas por ano; depois da ponte atravessam-no, igualmente de barco, 32 milhões.
Antes da ponte, gente de longe e de perto, transportada de autocarro, que a deixava em Cacilhas, punha a bagagem às costas e metia-se no barco para o centro da cidade; depois da ponte, indo o autocarro alto Lisboa, são os passageiros deixados no centro-norte, que é um enorme largo sem resguardos e sem metropolitano, onde esperam um táxi que fortuitamente passe ou recorrem, se não levam bagagem, a um ronceiro eléctrico ou a outro autocarro que os ponham no centro da cidade.
Antes da ponte, quem queria pôr as filhas a estudar na Universidade hesitava e tantas vezes desistia ante o pagãmente do hospedagem necessária, não as querendo sujeitar a transporteis morosos e complexos; depois da ponte, o problema põe-se quase nos mesmos termos, porque os autocarros não passam de Alcântara.
Antes da ponte, empresas contratados asseguravam os transportes entre as duas margens e nos ruas da capital; depois da ponte, as mesmas empresas continuam a explorar os transportes, no rio e em terra, nas mesmas condições de antes da ponte. E, no entanto, estamos já em tempos depois da ponte.
Pois o Montijo, potência industrial e testa de ponte de vasta e importante região agrícola, procura há muito