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3880 DIÁRIO DAS SESSÕES N. 195

Esta prática constituía ritual certo na Quinta de Cima! Era um prazer ouvi-lo discursar, sempre ao pendor do pensamento e tia sua sensibilidade, mas na conversa descuidada, e franca, em que o homem aflorava em toda a sua pujança por cima das naturais limitações da, sociedade, era ainda maior o seu encanto e sortilégio.
Habituei-me a ouvi-lo e a meditar, quantas vezes, sobre aquilo que no discorrer se percebia ser do seu maior agrado, mas que a sua esmerada educação e o respeito que tinha pelos outros o impediam de impor.
Começai como poucos, quer pela posição política que desfrutava, quer pelo alto meio social em que vivia, quer pelo meio e confiança que lhe dispensavam, os maiores vultos políticos do seu tempo, as vicissitudes por que passou o Regime até ao ocaso do seu autor e chefe, por quem nutria a mais devotada admiração e amizade.
Senhor de uma memória que ainda nos últimos tempos fazia inveja a gente mais moca, sabia de cor páginas inteiras do seu autor preferido - o padre António Vieira -, onde estou certo, bebeu uma boa parte dia sua formação.
Nunca se esquecia do mais pequeno pormenor que o levara a este ou àquele oportuno despacho, quando Ministro, nem de episódio de que fontes protagonista, interveniente apenas ou mero espectador.
Saborosos alguns, dramáticos outros, constituiriam, se os tem dado à estampa, fontes preciosas onde os historiadores se debruçariam para melhor conhecerem aquela época.
Perguntei-lhe um dia por que razão o não fazia. Respondeu-me com o ar mais despretensioso deste mundo que não tinha jeito para escrever!
Todos nós sabemos, porém, da sua facilidade de expressão, da sua palavra conceituosa, elegante e fácil que, onde quer que se erguesse, era ouvida com o maior interesse e a mais viva admiração.
Bem mereciam os seus discursos que os pudéssemos volta a ouvir ou consultar, e através dos conceitos expendidos apreciarmos a grandeza da sua mensagem e o poder aliciante do seu inato dom de palavra.
Figura das mais eminentes das últimas gerações, o Algarve deve-lhe a homenagem condigna dos seus altos merecimentos e dedicados serviços prestados à província.
Prevalecendo-me da oportunidade de o lembrar desta tribuna permito-me alvitrar à Camará Municipal de Vila Real de Santo António que perpetue, no bronze, quem tanto amou a nossa província e que, fiel à maior paixão, na própria terra daquele concelho se quis incorporar!

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Para quem a vida não termina neste mundo e conhecia Sebastião Ramirez sabe que Deus o tem à Sua guarda. Aqueles que com ele conviviam de perto sentem todos os dias a sua falta. Quanto a mina, sei que perdi um grande amigo!

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: A título puramente pessoal consintam-me VV. Exas. que me associe s palavras de saudade, de apreço e de respeito dirigidos à memória do engenheiro Sebastião Ramirez, que foi membro desta Casa em todas os suas legislaturas, até à presente, que foi estadista cujas directrizes ainda perduram eficientes e, desculpem-me esta última nota, que me honrou muito com a sua amizade.

O Sr. Veiga de Macedo: - Sr. Presidente: Só uma palavra. Palavra tão breve, quão viva e sincera, para felicitar V. Ex.ª pela altíssima distinção que ontem lhe foi conferida pelo Sr. Presidente da República.
Todos nós ficamos sensibilizados por vermos reconhecidos pelo venerando Chefe do Estado os notabilíssimos serviços por V. Ex.ª prestados ao País na presidência desta Câmara.
A honra foi para V. Ex.ª , mas nós sentimo-nos também honrados e ufanos, por, da melhor maneira, se ter rendido, a quem a todos os títulos era devida, a nobre homenagem da grã-cruz da Ordem de Cristo.
E quis V. Ex.ª, nas palavras simples mas eloquentes que ontem proferiu no Palácio de Belém, referir-se à Assembleia e aos seus Deputados com apreço e amizade.
Talvez merecêssemos essas palavras, Sr. Presidente, pois sempre nos ternos empenhado em cooperar com V. Ex.ª com espírito aberto e com compreensão, mas nem por isso deixamos de as agradecer muito penhoradamente.
Servir a causa pública é cada vez mais difícil, mas também é, por isso mesmo, honra cada vez maior.
O nosso Presidente bem estado à altura das pesadas e espinhosas responsabilidades que sobre ele impendem. Tem presidido a esta Caso com superior critério rara clarividência de espírito. Muito me apraz dizê-lo aqui. Faço-o na certeza de cumprir um dever decorrente de irrecusável imperativo de justiça.
Por isso, peta, subida consideração e muitas esfaima que lhe votamos, é-nos gratíssimo saudá-lo, Sr. Presidente, no momento em que os seus preclaros méritos e relevantes serviços foram publicamente assinalados, de modo bem expressivo, pelo Sr. Presidente da República.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Dias das Neves: - Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Tem V. Ex.ª a palavra.

O Sr. Dias das Neves: - Sr. Presidente: Pedi a palavra para, na minha qualidade de Deputado pelo círculo de Santarém, que tive a honra de compartilhar com v. Exa. nestas três últimas legislaturas na representação do bois povo do Ribatejo, me associar pessoalmente e em nome desse povo, que com V. Exª.a represento também, as brilhantes palavras do Sr. Deputado Veiga de Macedo, e dizer a v. Exa. quanto é grande a nossa satisfação por ver distinguido por v. Ex.ª o Sr. Presidente da República um membro da comunidade ribatejana que, pelo seu mérito, pelas suas qualidades pessoais de inteligência e de carácter, subiu aos mais elevados cargos políticos do nosso país.
Desejo, pois, apresentar a V. Ex.ª as minhas saudações efusivos e as minhas felicitações pela distinção que a v. Ex.ª tão justamente foi conferida.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: -Peço a VV. Exas. que me desculpem mais este tomar de tempo, com o agradecimento que sinto devido às generosíssimas palavras dos Srs. Deputado veiga de Macedo e Dias das Neves.
Não me permitirei dizer a V .Exa. senão que aumentaram o meu desvanecimento; e ferirei apenas duas notas.
Decerto não foi só por favor, porque estas coisas não se fazem por favor, que S. Exa. o Sr. Presidente do Conselho propôs ao Chefe do Estado e que S. Ex.ª o Presidente da República acedeu a conceder-me a alta distinção honorífica que ontem recebi. Mas também tenho a plena consciência de que, se não tivesse podido levar estes três anos á testa da Assembleia Nacional, onde me considero o primeiro aos meus pares apenas porque Al-