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4568 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 224

dos respectivos produtos, para assim, reciprocamente, mais poderem comprar e vender um ao outro. O comércio internacional é amor que só correspondido floresce.
Esse o sentido mais forte da realidade económica que a comunidade luso-brasileira constitui.
E aí têm a palavra os técnicos dos ajustes económicos que geram as comunidades, com a vantagem de que, no nosso caso, não é a comunidade que nasce do acordo
(género Mercado Comum, Acordo de Roma), mas sim o acordo que é gerado pela comunidade.
Importa, no entanto, que se seja corajoso, como se foi no domínio da cidadania luso-brasileira, e não se fique apenas em meias soluções do tipo das zonas francas, e se caminhe afoitamente para fórmulas do estilo união aduaneira ou zona de livre câmbio, respeitadas que sejam sempre, é bom repetir, as independências recíprocas.
Para os grandes problemas só as grandes soluções convêm. Esta outra evidência que não necessita demonstração.
E, chegados a este ponto, talvez devêssemos ainda deixar cair algumas palavras sobre a realidade económica da comunidade luso-brasileira, pondo em destaque o interesse bilateral que uma e outra têm nos respectivos mercados.
Quem ignora os olhos cobiçosos com que a indústria transformadora brasileira olha o mercado de consumo do ultramar português, para o qual se sente especialmente preparada e apta, e quem ignora também o anseio de colocação que anima muitas das nossas produções, face à dimensão do mercado brasileiro?
E quem desconhece, outrossim, a atracção que a economia brasileira está a exercer sobre os nossos capitais e como os horizontes europeus e africanos seduzem a imaginação e a tecnologia brasileira?
Também estas realidades fazem parte da realidade maior que é o mundo lusíada.
E assim chegamos, sem mais delongas, à última evidência da comunidade luso-brasileira - a sua realidade político-estratégica.
Todos sabemos, Portugueses e Brasileiros, quanto vale internacionalmente a solidariedade lusíada no concerto dos interesses universais, constituindo, como constitui, uma das maiores potências políticas mundiais. Daí o arreganho com que os inimigos de uma e outra parte procuram fomentar a divisão ou inquinar a harmonia com falsos pretextos de discórdia ou intriga. E daí também os cantos de sereia procurando arrastar uma ou outra parte para caminhos diferentes da comunidade, prometendo solidariedades de última hora ou chorudas recompensas de imediatos interesses a troco de abandonos ou isolamentos políticos.
Não são de agora tais cantos traiçoeiros, embora ultimamente se tivessem intensificado procurando aproveitar certas brisas de paradoxo que sopram no Mundo.
Mal irá, porém, àquele de nós que ingenuamente se deixe encantar por estas miragens e abandone a solidariedade natural da comunidade pelo gosto de amores que nada têm para oferecer, porque a outros pertencem de corpo e alma na trama apertada de outras solidariedades. Se tal acontecesse, o acordar seria doloroso, pois nada ofende mais a amizade do que o abandono sem proveito, sem justificação e sem glória.
Tal, porém, não acontecerá, até porque de um e outro lado do Atlântico, tanto no plano económico como no plano político, tem-se cada vez mais consciência da necessidade de contrapor o peso natural da comunidade lusíada, com toda a sua dimensão, à influência crescente das superpotências a quem parece confiada a missão de porem e disporem de tudo e de todos, como se tudo e todos lhes pertencessem. É a história, já aqui um dia referida, do jogo de xadrez em que, unidos, poderemos participar como jogadores, enquanto, desunidos e isolados, seremos remetidos à mísera condição de pedras que outros jogam no tabuleiro dos interesses mudiais.
Acresce o valor estratégico da região do Mundo confiada à nossa guarda, mas que logo será presa de outros se abrandarmos a vigilância comum ou abandonarmos as posições. Pense-se só no que poderá acontecer a todo o Atlântico Austral se Portugal deixar de controlar o arquipélago de Cabo Verde ou se as costas ocidentais de África estiverem à mercê de inimigos do Brasil e vice-versa. Notícias recentes abundam nesta tese, anunciando o plano soviético de domínio de Cabo Verde através da Guiné Portuguesa como meio de fechar ao Ocidente o mare nostrum do Atlântico Sul. Pensem nisto os políticos e os militares, antes de se deixarem arrastar por falsos conceitos de liberdades e de ventos mais ou menos históricos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O que não quer dizer, evidentemente, que se fechem os olhos às realidades e os ouvidos aos imperativos da verdadeira história, aquela que os povos vão construindo. Tudo está em que não se confunda história com ideologia e não se procure acelerar com fins ideológicos o que só as gerações sabem edificar com o seu espírito e a sua alma.
E essa história não a temem os Portugueses, antes por ela se sacrificam e lutam, dando, inclusive, o seu sangue e a sua vida. Assim surgirá a grande comunidade lusíada do futuro, continuação natural e actualizada da comunidade que do passado herdámos e desejamos transmitir engrandecida aos vindouros. Realidade natural em que o Brasil e Portugal podem ter um papel muito importante a desempenhar.
Esta a última realidade que assim deixamos sem mais demonstração, sobretudo neste dia em que pela primeira vez a Assembleia Nacional Portuguesa funciona como se fora a Câmara dos Deputados do Brasil, acolhendo nas suas tribunas, por direito próprio, entre os representantes do povo português um representante do povo brasileiro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A realidade da comunidade luso-brasileira não poderia ter melhor expressão. Nós a saudamos desta tribuna.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Vou ter a honra e o prazer de dar a palavra ao Sr. Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, pela primeira vez usando da nova disposição regimental, para que S. Exa. agradeça, como me mostrou desejar, as saudações que lhe focam dirigidas e nos comunique a missão que aqui o traz.