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23 DE FEVEREIRO DE 1973 4641

O Orador: - A 7 km do coração de Setúbal fica Palmela, onde os pruridos da industrialização começam a ser atendidos e que, dentro em breve, com a abertura do novo aeroporto de Lisboa às suas portas e em terrenos do seu concelho, terá outro estilo de vida, com a vinda dos novos cavaleiros da era atómica. Anuncia-se já para lá uma escola técnica profissional.
É tempo, pois, de um momento de reflexão: dentro dos limites do foral de Palmela ficam as areias e, nelas, os vinhedos do Poceirão, de Lagameças, de Fernando Pó, do Lau, até à ribeira de Marateca, estendendo-se por Pegões, chegando a Canha. É ali, é ali que a invasão tem de parar. É ali a horta futura e imensa da tentacular cidade industrial, do imponente aeroporto internacional, com a cidade-satélite que para a sua volta se anuncia. É ali. Mas antes que seja tarde, antes que os homens que lá ainda estão de lá desertem, tem de se olhar àquilo que não é já hoje comodidade, por ser necessidade: a estrada e a luz. Há dezenas de anos que o Poceirão vem pedindo, reclamando, insistindo por que lhe dêem energia eléctrica para os motores, para que a água brote mais facilmente e os lagares trabalhem em melhor ritmo. Há dezenas de anos que os rodados dos carros fazem e desfazem caminhos por onde, no Inverno, a passagem não é possível, como se fossem "picadas" africanas. Passaram as câmaras municipais e as promessas, os governadores civis e as promessas, as companhias poderosas e as promessas. E se assim continuar a ser, passarão então de vez os seus homens, e aquelas areias, que hoje se desentranham em vinho excelente e poderão ser ricas de tudo, serão então caboucos, paredes e casas... Diz-se haver no Orçamento Geral do Estado para este ano maiores verbas para a electrificação rural e para as estradas municipais. É tempo de o Poceirão e as suas terras serem contempladas. Foi longa a espera, o futuro espreita. É tempo!
Em Sines, lá para a ponta sul do distrito de Setúbal, vai um alvoroço. O que, até há pouco, era estância balnear, centro de pesca e campos lavrados será, em futuro próximo, um dos maiores complexos industriais do País. O que o mar e a terra davam bastava, mesmo aos muitos veraneantes da época estival. Em breve, ter-se-á de correr milhas e quilómetros para se garantir o abastecimento de uma região que compreenderá também Santiago do Cacem e talvez Grândola, em constante crescimento populacional e cada vez mais exigente, por subida do nível de vida: frota pesqueira mais bem apetrechada, para pescar mais longe e com mais abundância; centro agrícola de cultura diversificada, relativamente perto para transporte fácil e pouco onerado. A frota tem o mar todo para percorrer; os frescos têm em Alvalade, onde hoje há quase só tomate e arroz a aproveitar a água da barragem de Campilhas, o lugar próprio. Todos assim pensam e esperam. Entretanto, a povoação vai beneficiar de melhorias, que serão também motivo de fixação dos homens que hão-de lavrar as terras, certos de que então será o seu esforço devidamente compensado.
Entre o Poceirão e Alvalade, a roçar o distrito de Évora, fica uma antiquíssima vila, pátria do bucólico Bernardim Ribeiro, que dá pelo nome de Torrão do Alentejo. Antiquíssima vila, feita pelos espatários em 1260, mas povoação de mais recuados tempos, como atestam, ora os restos de um templo romano ou de uma fonte onde árabes também se dessedentaram, ora os vestígios pré-históricos de povos que na Península Ibérica habitaram. As casas senhoriais, que ainda hoje dominam as suas ruas e largos, a igreja matriz do século XIII, as ruínas de um vasto convento, a tradição de um castelo, de que não ficou pedra sobre pedra, pela sanha pombalina contra os Távoras, são testemunho de uma vida intensa de gente de algo, que ali encontrava motivos de permanência, decerto pela riqueza agrícola da região, de que seria donatária. Pela reforma administrativa de 1871, o Torrão passou a pertencer ao concelho de Alcácer do Sal, de cuja sede dista 33 km. Aqui começou o drama moderno do Torrão. Com os seus pergaminhos de terra, como vimos ser; com seus 376 km2 de área, dos quais 3900 ha aráveis, sendo 1700 de regadio de águas particulares e que pode ser substancialmente aumentado com a construção de uma barragem.

O Sr. Leal de Oliveira: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Leal de Oliveira: - Se V. Exa. mo permite, eu pretendia não só como Deputado, mas sim na minha qualidade de técnico agrário, secundar a preciosa exposição que tem vindo a desenvolver nomeada e principalmente no que se refere ao regadio susceptível de vir a ser alargado, na região do Torrão, com a construção da barragem das Barras, na ribeira das Soberanas, afluente do Sado.
Com efeito, o Plano de Rega do Alentejo, até agora único nervo motor do seu desenvolvimento e progresso, prevê naquela linha de água uma barragem com cerca de 25 m de altura, 220 m de comprimento de coroamento, susceptível de represar cerca de 10 milhões de metros cúbicos de água suficiente para a rega de 600 ha de terrenos.
Note V. Exa. que esta área poderá alargar-se para cerca de 4500 ha, em 2.ª fase, quando a barragem de Alqueva for uma realidade e, consequentemente, a água do Guadiana que inutilmente se perde no oceano vier a enriquecer os campos do Alto e Baixo Alentejo, algo de Setúbal e até talvez o complexo industrial de Sines.
Posso acrescentar também a V. Exa., por bem conhecer a região e as suas gentes, que a sua apetência para as culturas regadas é muito boa, pois ali o regadio é já tradicional e as terras a regar são relativamente razoáveis para o efeito.
Por tais razões e se V. Exa. mo permitir daqui sugiro a S. Exa. o Ministro das Obras Públicas a inclusião da 1.ª fase do regadio das barras no próximo plano de fomento.
Obrigado, Sr. Deputado.

O Orador: - Agradeço a V. Exa. a informação técnica que quis trazer ao meu trabalho e que não foi motivo dele final, mas que bastante o valorizou.
Continuando, o Torrão, com os seus muitos milhares de oliveiras, sobreiros e azinheiras, atingindo o milhão; com as suas 25 000 cabeças de gado lanígero e milhares de outras de gado bovino, cavalar e suíno; com a sua centena e meia de tractores e quase meia centena de ceifeiras-debulhadoras; com as suas 812 propriedades rústicas de valor matricial da ordem dos 150 000 con-