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23 DE FEVEREIRO DE 1973 4639

no caso vertente, frutos de uma visão superficial das realidades locais, e de absoluto desconhecimento da psicologia e mentalidade do povo em causa, o que tem induzido muita gente honesta a erros daquela natureza.
É sobre tais afirmações que incidirão, exclusivamente, os comentários que se seguem, pois quanto ao fundo da matéria já tivemos ocasião de nos pronunciar e dar o nosso veredicto na intervenção que aqui fizemos há cerca de um ano sobre o caso.
À suposição de que os guineenses, autóctones na sua maioria, se mantêm indiferentes à sorte da luta que se trava na Guiné contrapomos a afirmação categórica de que a nenhum guinéu adulto, qualquer que seja a sua condição social, ou grau de cultura, são estranhas as razões ou indiferentes os resultados da guerra, cujos efeitos as populações rurais, mais do que qualquer outro grupo populacional, vêm suportando.
Afirmar o contrário seria negar autenticidade à grande colaboração que as populações das tabancas - de todas as tabancas - vêm dando às forças armadas na acção de defesa do território, suportando e resistindo a todas as investidas do inimigo, quando seria mais fácil aceitar as aliciantes - embora falsas - promessas dos guerrilheiros, indo engrossar as suas
fileiras.
Negar essa verdade seria não dar o devido valor ao contributo que na mesma defesa vêm prestando as milícias populares que, com armamentos inferiores em quantidade e qualidade aos dos guerrilheiros, têm sabido enfrentá-los com a coragem e a determinação que não envergonham qualquer soldado do exército regular.
Contestá-la, enfim, seria um insulto para esses valorosos soldados e oficiais das forças africanas, constituídas exclusivamente por nativos, em especial a esses bravos elementos dos comandos africanos, terror dos guerrilheiros, equiparando-os a simples mercenários, com os quais não têm a mais pequena afinidade, pois batem-se pela Pátria, e não pelo dinheiro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, para além de tudo, admitir o que disse o jornalista americano seria negar veracidade às insuspeitas declarações do general António de Spinola, o intrépido e lúcido condutor da guerra defensiva que sustentamos na Guiné, o qual considera as forças africanas um dos fundamentos da nossa resistência na frente militar e a principal garantia da vitória que se espera alcançar em todas as outras frentes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Do mesmo modo, isso significaria pôr em dúvida as declarações do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Rui Patrício, nas Nações Unidas, ao afirmar que a defesa da Guiné pode vir a estar confiada totalmente aos portugueses daquela parcela da Nação, ao mesmo tempo que perguntava aos seus interlocutores quem passaria em tal caso a ser considerado "libertador", "colonialista" ou "terrorista". Quanto à afirmação de que os conceitos de liberdade, nacionalismo e autodeterminação nada representam para os nativos da Guiné, na sua maioria, ela carece, em absoluto, de fundamento.
Além de não corresponder à realidade, está em nítida contradição com um dos princípios básicos da política ultramarina portuguesa, definido na lei e consagrado por uma tradição multissecular, segundo o qual os habitantes -naturais ou não- dos territórios extra-europeus de Portugal são cidadãos nacionais de direito e de facto e tão portugueses como os da metrópole.
Ora, como isso não é mera retórica, têm os naturais da Guiné razão em se considerarem portugueses, como já acontecia com os seus antepassados, e muitos foram aqueles que, demonstrando essa crença, se notabilizaram por actos de patriotismo em virtude dos quais passaram à história como heróis nacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seria, assim, ocioso perguntar aos Guinéus o que são, pois isso está à vista de todos. Quanto ao que virão a ser, isso depende da vontade dos homens e não dos "ventos da história", porquanto, como dizia o Prof. Salazar, são os homens que fazem a história.
Seremos nós os primeiros a reconhecer, por imperativo de consciência, que no decurso da nossa história momentos houve em que os Guineenses tiveram motivos para se interrogariem - e muitas vezes o fizeram - para saber se são realmente filhos ou se não passam de simples enteados. De outro modo não se explicaria a situação que hoje ali reina, a qual tem causas externas e internas, que não vem ao caso analisar.
Não obstante, somos também nós a atestar que aqueles momentos, consequência de desvios ideológicos inspirados em princípios que não são portugueses, por não estarem de acordo com a tradição nacional, foram momentos passageiros que jamais voltarão a repetir-se, pois todos nós conhecemos o preço que tais desvios têm custado à Nação.
E quanto à autodeterminação, que dizer?
Acaso não está ela implícita na atitude do povo, aderindo em massa e de livre vontade ao movimento que preconiza a colaboração com o Governo na defesa da causa nacional e rejeitando sistematicamente as propostas dos "libertadores" e até lutando contra os seus desígnios?
De resto, quem nos últimos anos tem assistido às manifestações populares que têm sido levadas a efeito na Guiné e visto o ambiente de carinho em que é envolvido o Governador em todas as suas deslocações às tabancas não pode honestamente aceitar a afirmação que o nativo - quem neste momento profere estas palavras é um deles - não sabe o que quer, age sem qualquer motivação e é, por conseguinte, indiferente ao futuro, ou seja, ao resultado da guerra...
No entanto, tais manifestações, autênticas e espontâneas, tiveram como justificação não apenas a repulsa pelo P. A. I. G. C, ou mais propriamente pelos seus actos, com a aprovação e adesão à política de desenvolvimento e de promoção das camadas maioritárias menos favorecidas, política programada e posta em prática pelo Governo da província com o apoio do Governo Central.

Vozes: - Muito bem!