O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

4640 DIÁRIO DAS SESSÕES N.°229

O Orador: - Se manifestações como aquelas não podem ser consideradas inteligentes, nem sequer conscientes, mas apenas instintivas, uma vez que não foram forçadas, podemos então afirmar: Maravilhoso instinto possui o povo que tais atitudes toma!
É necessário que se saiba que os guineenses foram e são portugueses sem deixar de ser africanos e querem continuar a ser africanos sem deixar de ser portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E assim acontecerá, se Deus ajudar, pois essa é a vontade da Nação, cá, tanto como lá.
Depois de tudo quanto acabamos de dizer, será ainda necessário acrescentarmos algo mais para mostrarmos que aos guinéus não é indiferente saber quem governa e como governa, ao contrário do que se lê no artigo em causa?
Não provará esse facto a renovação do mandato do general Spinola, pedida pelas populações e aceite pelo Governo Central, numa demonstração inequívoca de respeito pela vontade do povo?
Resumindo, para abreviar, dizemos:
Os Guinéus têm um ideal, que é tornar a Guiné melhor dentro do contexto português e no quadro da comunidade lusíada.
Consideram-se portugueses, os Guinéus, porque o são de facto e de direito e têm do nacionalismo e da liberdade uma compreensão que nada tem a ver com as concepções racistas dos pseudolibertadores e neocolonialistas de todas as cores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Finalmente, estão os Guineenses identificados com o único Governo que reconhecem, junto do qual têm ampla audiência, vendo satisfeitos ou em vias de satisfação os seus legítimos anseios e necessidades, pelo que se sentem bem governados.
Por outro lado, a situação político-administrativa da província ultramarina da Guiné Portuguesa - chamar-lhe-íamos Estado, porque já o é de facto, embora não lhe tenha sido ainda outorgado esse título, conforme se pediu - em nada fica a dever, no momento actual, às independências dos novos Estados de África, como afirmou recentemente e com autoridade o general António de Spinola, na entrevista que concedeu ao New York Time, e nós confirmamos.
Com efeito, em nenhum daqueles Estados existem a unidade interna, o entendimento e harmonia de raças e etnias, a ordem, a estabilidade política, económica e financeira, condições sine qua non do progresso, e, enfim, a segurança social e individual que existem na Guiné Portuguesa, a despeito da guerrilha e do terrorismo, produtos de exportação das repúblicas vizinhas.
Outrossim, há cerca de doze anos - quase como o Vietname - que a Guiné Portuguesa vem suportando o peso de uma guerra brutal, sem que esse facto afectasse profundamente as condições de vida do seu povo, as quais, em muitos aspectos, até melhoraram.
Que aconteceria às Repúblicas da Guiné e do Senegal, bases dos guerrilheiros antiportugueses, se fossem submetidas àquela mesma experiência, hipótese que não é de excluir, consideradas as condições por elas criadas, pelo fomento do terrorismo naquela zona da África?
Não temos a menor dúvida de que, em tal caso, aqueles Estados se fragmentariam em curto espaço de tempo ou se verificaria profunda modificação nos respectivos status quo, havendo maiores probabilidades disso quanto à República da Guiné, com uma grande e potencialmente forte etnia descontente com o regime despótico do Sr. Sekou Touré.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Terminamos aqui os nossos comentários para não alongarmos demasiadamente esta exposição, que tem como único objectivo esclarecer a opinião pública.
Muito obrigado.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente: De entre os problemas que nesta Casa têm sido levantados pelo Sr. Deputado Alarcão e Silva, aquele em que o ilustre Deputado faz oportuno reparo à transformação que vão sofrendo muitas das nossas terras férteis em bairros habitacionais, como se os homens só de casa necessitassem e antes de tudo o mais não carecessem afinal do que essas terras poderiam produzir, é tema do que hoje pretendo dizer, antes que os tentáculos insaciáveis da urbanização ou o êxodo irremediável das populações tornem inútil a minha fala.
Setúbal é hoje um empório industrial. É possível que, por isso, venha a perder alguma da sua beleza natural, sacrificada a razões de sobrevivência. Ainda estão dentro da minha geração os tempos em que a cidade, limitada a uma só indústria de mão-de-obra expressiva, passava fome, quando o peixe se negava às redes dos pescadores. Já a desesperança minava o coração dos homens quando, finalmente, o Governo conseguiu fixar em Setúbal a primeira das grandes empresas de um vasto plano de apetrechamento industrial. Foi um espanto. A "caveira de burro", que no seu pitoresco linguajar o povo dizia a cidade ter, o azar, afinal, a pouca sorte, fora vencida e, de então para cá, foi um galopar invejado, dando ao rio azul das praias sadinas um sentido de utilidade que ele sentira apenas em tempos remotos, quando a procura do sal e das laranjas lhe enchiam o estuário de barcos de longo curso. As quintas de remansoso veraneio, os vergéis odoríferos, onde a flor de laranjeira aguardava as mãos nervosas das virgens, as azinhagas umbrosas, onde o zangarreio das cigarras punha no Verão uma nota de modorra, tudo foi sendo sacrificado à plantação gigante das casas dos homens. Quase autómatos, vergados ao despotismo das máquinas, enleados no feito e no pronto dos supermercados, os homens não se vão dando conta de que, cada vez mais, se reduz o espaço verde renovado pelo labor ancestral dos que se irmanam com a terra, e de que um dia poderá acontecer que a nostalgia da Natureza, em que o homem foi posto como peça de uma orquestração, mate no homem o prazer de viver.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!