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2 DE MARÇO DE 1973 4709

2) Ao contrário da opinião geral, o narcótico chega à sua posse por intermédio de um amigo ou companheiro e só raramente de um vendedor;
3) O consumo serve para lhe causar nova emoção;
4) Quase sempre os resultados da sua experiência se mostram satisfatórios, pelo que o uso perdura até que conheça droga mais forte.

A heroína é, pois, o termo final da sua experimentação, representando deste modo a heroínomania uma doença de associação.
O toxicómano vive num mundo próprio: a sua única amizade concentra-se em outros viciados, sentindo-se incompreendido por terceiros que não raro o encarnam como excêntrico; a principal preocupação consiste em saber quando e onde consumirá nova dose e como financiará a sua compra. O desejo de reabilitação surge longínquo, embora o contrário simule perante familiares, agentes de autoridade e magistrados; preza, em suma, a sua vida e pouca atenção devota à comida, ao repouso e a outras necessidades que não se lhe afiguram importantes.
Por sua vez, o adolescente é quase sempre um curioso por aquilo que as drogas lhe podem proporcionar. Pode tratar-se de rapaz inseguro de si mesmo e desejoso de experiências repousantes e de amigos. Por estes induzido, encaminha-se para a marijuana, via por que normalmente se processa a sua iniciação. Os vendedores preferem que o recrutamento de novas vítimas se efectue por intermédio de viciados, que, em troca, recebem gratuitamente a droga. Os rapazes melhor equilibrados poderão porventura ensaiar-se na marijuana e não regressar a ela, mas tal não sucederá com o toxicómano latente. A falsa sensação de bem-estar, acrescida da satisfação de ser aceite na sociedade dos viciados, à qual ficará pertencendo, condu-lo quase invariavelmente ao segundo degrau e, em pouco tempo, à heroína. O corpo acostuma-se a este estupefaciente, que se torna necessário ao seu funcionamento.
A marijuana não cria, como se disse, uma dependência física, mas apenas psíquica. Daí que a abstinência não produza sintomas de supressão, permitindo que, mediante uma mudança de ambiente e conveniente intervenção psiquiátrica, não poucos se salvem das malhas da intoxicação. Não surpreende que a adolescência, com a sua própria mentalidade, variedade de anseios e primeiros conhecimentos sexuais, constitua o período criticamente favorável à toxicomania.
Os rapazes mostram-se tão sedentos de confiança e aprovação que com facilidade se deixam arrastar pelas opiniões dos amigos, sendo com maior rapidez conduzidos às drogas que os indivíduos de outras idades. O adolescente toxicómano procura o que outros, da sua idade e melhor equilibrados, possuem: um lar onde se sinta em casa. O seu clima doméstico é, na realidade, emocionalmente frio; de todo só, julga-se diferente dos outros e suspira por companhia que o convença de que é normal. Um adolescente emocionalmente seguro poderá agir com independência, mas sabe que poderá contar com os seus pais.
Para que atinja a maturidade adulta, a criança terá de apreciar a actividade complementar que os progenitores exercem e desejar, conforme o sexo, assumir na devida altura o papel do pai ou da mãe. Aos ascendentes caberá auscultar os anseios e inclinações do menor, guiando-o construtivamente de forma que nele se radique a autoconfiança. Por outro lado, e uma vez que o vício se propaga através de associação, assumem particular importância a orientação e fiscalização das suas amizades. A escola, a Igreja, o atletismo e outros passatempos familiarizam os rapazes com a vida real. Uma criança que tenha amizades sãs e o ensejo de realizar algo de que se orgulhe ganha o sentimento de autoconfiança e segurança, não carecendo por isso de buscar refúgio ou alívio no mundo sonhador do toxicómano. Alguns pais, receosos de violarem os "direitos" dos seus filhos, abdicam da sua autoridade e responsabilidade.
Comentou o pediatra Dr. Harry Bakwin não haver precedente para a época em que vivemos: a falta de restrições em casa, nas escolas e na comunidade agrava os problemas inerentes ao convívio dos pais com os filhos.
Porque os pais modernos tendem a duvidar da habilidade em lidar com os filhos, perdem estes a confiança que depositavam nos ascendentes. Os adolescentes não são adultos com capacidade para tudo resolverem por si, sem o conselho paterno; nem a tanto aspiram. Segundo o psicólogo Thomas M. Poffenberger, da Universidade da Califórnia, os jovens alarmam-se com a carência de maturidade para governarem as suas vidas, precisando de orientação e disciplina para a sua estabilidade. Eles desejam saber quais os limites impostos à sua conduta: se tudo lhes for permitido, neles despertará a curiosidade de indagar até onde vão o interesse e o enternecimento paternos.
A programação de uma campanha educativa deve ter em mente que alguns jovens se deixaram arrebatar pelo vício, não por desconhecimento das suas consequências, mas por muito haverem aprendido sobre os efeitos das drogas. Avisar ou intimidar tais jovens não os detém, antes enxerta, quando não radica, a toxicomania nos seus pensamentos.
Descrições sombrias dos resultados do consumo e filmes de celebridades intoxicadas, guindando estas a heróis sofredores, cujo fim se afasta sensivelmente da realidade, não devem ter cabimento na educação de adolescentes. Há agentes policiais que, reconhecendo a propensão dos jovens para se identificarem com figuras públicas, ocultam, na medida do possível, a prisão de celebridades envolvidas em narcóticos.
Sendo mister que o programa educacional ande de mãos dadas com a educação sanitária, as drogas devem somente ser referidas na medida em que perigam a saúde e a vida social. Os educadores de Michigan, alertados quanto aos riscos do sensacionalismo, reservam uma discussão mais profunda e minuciosa para os pais e outros adultos ligados à adolescência, de forma que, baseados em factos, os pais, professores e outros responsáveis possam enxergar quaisquer sinais de perigo e solucionar individual e discretamente os problemas.
Abordemos, por fim, o caso do médico toxicómano, seguindo de perto um artigo do Dr. Edward Bloomquist. Toda a profissão, por mais agradável ou digna, comporta os seus riscos, não representando excepção a medicina.
O esforço e o cansaço de uma actividade absorvente e extenuante cobram os seus juros, constituindo a toxicomania o mais usurário e trágico. A sua inci-