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4760 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 236

tuosas (como se a maioria as soubesse ler!), que se alcançam os objectivos que pretendemos.
Estas e outras ostentações de mau gosto só servem para identificar o nível de quem as pratica.
É preciso exercer a autoridade sem autoritarismo, e sobretudo ter capacidade e preparação suficiente para saber como e quando se actuar.
Apraz-me, contudo, informar a Câmara de que, embora como disse, o problema do Estado de Angola não é tão grave como noutros sítios; o Governo tem desde o ano passado uma comissão encarregada de estudar o problema, e entre outras medidas a tomar está prevista a instalação de um centro de recuperação dos toxicómanos.
Oxalá este importante debate tenha contribuído para despertar a consciência de muitos adultos, quer das autoridades, quer dos pais e educadores, de forma que todos possamos libertar os nossos jovens do mal que os ameaça.
Hoje são os jovens que precisam de nós, amanha seremos nós a precisar destes jovens.
Disse.

O Sr. Cancella de Abreu: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: As minhas primeiras palavras são para felicitar, vivamente, o Deputado Delfino Ribeiro pela manifesta oportunidade do seu aviso prévio. Simplesmente - e esta afirmação que vou fazer não tem qualquer originalidade, atendendo a que, por certo, foi e irá ser repetida pelos diversos oradores que nesta Assembleia se ocuparam ou se interessarão por esta matéria -, o Dr. Delfino Ribeiro foi tão exaustivo na apresentação do problema que, a nós outros, pouco ficará para dizer sobre este tão momentoso assunto sem ir repisar pontos já focados na sua magnífica e esgotante exposição.
Se, na realidade, o problema da droga preocupa seriamente grande parte dos países estrangeiros, não é menos verdade que na nossa terra, não tendo, ainda, a gravidade que se observa lá fora, vai, entre nós, tomando proporções que começam a ser assustadoras. E mais vale actuar desde já, firmemente e em força, do que esperar que, como será natural e seguro, a situação venha indubitável- e progressivamente a agravar-se.
É opinião unânime de que o abuso das drogas está a crescer em todo o Mundo de maneira terrivelmente vertiginosa, muito especialmente no âmbito da juventude, e a tal ponto que em determinados estudos efectuados nos Estados Unidos da América se chegou à conclusão - tristíssima conclusão, diríamos- de que, nos últimos três anos e entre a camada estudantil, o aumento do seu consumo atingiu a alarmante percentagem de 100 a 200 por cento!
A continuar este ritmo crescente e se não o combatermos de modo eficaz - afirmam justamente os investigadores americanos - não se poderá estranhar que dentro de um prazo relativamente curto aqueles que não adiram à toxicomania passem a constituir minoria e a ser considerados como indivíduos atípicos e à margem da sociedade moderna! Citando, ainda, os mesmos estudos, acrescente-se, como sintoma francamente desfavorável, que a idade em que se começa a experimentar a droga e os grupos etários nos quais o seu consumo atinge o ponto máximo tornam-se progressivamente mais baixos em cada ano que passa, facto que não pode deixar de ser encarado como altamente inquietante.
Quais as principais razões que levam os jovens a drogar-se? Segundo D. B. Louria, presidente do New York State Council on Drug Addiction e já aqui citado na intervenção do ilustre Deputado Roboredo e Silva, segundo Louria, repito, poderemos englobar essas causas em quatro grandes agrupamentos: gerais, familiares, sociais e de personalidade.
No grupo das razões de ordem geral destacam-se, à cabeça, a curiosidade e o ímpeto de experimentar novas sensações, a pressão e a opinião daqueles que se dizem amigos para que, ao menos, se experimente uma vez a droga, a facilidade na aquisição desta, a influência do meio sócio-cultural e profissional, e, ainda, a moda, a existência de tempos livres sem ter em que ocupá-los, o desejo de reduzir inibições sociais, a habitual rebeldia da adolescência e a fuga às pressões académicas - dificuldades de estudos - e às frustrações contra as quais se não pode lutar sem grande esforço.
No campo das causas familiares, sobressaem o desequilíbrio conjugal, a falta de resolução dos problemas domésticos, a ausência de autoridade e, porventura, o mau exemplo paterno no que se refere ao uso de drogas, as insatisfatórias afinidades e relações entre pais e filhos, já bem descritas pelo Sr. Deputado avisante, e o tédio que existe em muitos ambientes caseiros, emocionalmente frios e desprovidos de carinho.
No sector das razões de ordem social, avultam a necessidade de escapar ao meio em que se vive - criando novos mundos de ilusões-, o aborrecimento, o desprezo e a ausência de interesse pela sociedade que nos rodeia, a crise de idealismo que alguns atravessam, por suposta falta de objectivos válidos a atingir, a busca incomensurável do prazer que caracteriza a nossa época, o colapso da disciplina e o clima de rebelião que se verifica nos tempos modernos, a facilidade dos meios de comunicação, que ajudam à propaganda da toxicomania, e o poder ser-se levado a viver em solidão ou, como costuma dizer-se, em ambiente de gueto. Ainda neste grupo se deve englobar, como sublinha Louria, o renovado, por já antigo, método de drogar revoltosos com o fim de lhes destroçar os alicerces da nossa cultura e de lhes insuflar coragem para executar determinados actos contra a ordem estabelecida, as convenções ou as leis vigentes ou, ainda, de introduzir o maldito vício nos componentes dos exércitos regulares, para que, assim, se desorganizem e desmoralizem. O uso das drogas torna-se, deste modo, um emblema de subversão e a sua ilegalidade um pretexto específico para o seu consumo.

O Sr. Delfino Ribeiro: - Muito bem!

O Orador: - Finalmente, os motivos ligados à personalidade incluem a propensão individual para o uso abusivo de drogas - a importantíssima predisposição toxicofílica -, a necessidade de enfrentar ansiedades por confronto sexual, as depressões, as angústias, as psiconeuroses e a alienação, a exacerbada inquietude normal da adolescência, a incapacidade para tolerar sofrimento mental e as barreiras que,