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4804 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 238

direito de partida à busca de paraísos cá na Terra, nem que seja em Katmandu, poderá importar repensar o que possa ter originado tal maleita; se, em contrapartida, o consumo não corresponde a uma necessidade, então a sociedade é conformista, por princípio ou educação, adopta o que outros fazem, aceita os usos de alguns sem sobre eles se dar ao meritório esforço de reflectir.
No primeiro caso, se a sociedade dita "ocidental" (ou alguns dos seus membros) está doente, mostra-se infeliz ou afirma necessitar de evasão, a droga poderá satisfazer a longo prazo a acalmia que procuram conseguir a curto termo? Creio bem que não. De outro modo, poderemos acabar por acordar no que nos descreve Aldous Huxley no Regresso ao Melhor dos Mundos: um mundo de autómatos, subordinados às drogas que condicionam os pensamentos, as actividades, os ideais.
Importa aprender a viver com meios naturais, desintoxicantes, como só eles nos oferecem, desenvolver um sistema de higiene mental. A solução haverá de encontrar-se na descoberta e utilização de "válvulas de escape" naturais, sejam elas actividades sociais "enriquecedoras", trabalho bem realizado, vida familiar criadora, distracções apropriadas, utilização racional de bens materiais, descoberta dos valores transcendentais do ser, etc.
Estes "centros de interesse" poderão representar resposta válida à angústia do nosso tempo, facultar o "suplemento da alma" de que falava Bergson, gerar a alegria de viver. Que falta nos faz Leonardo Coimbra e o seu anunciado aviso prévio sobre problemas da formação da juventude, que não pôde concretizar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em nós mesmos, no interior de cada um, deveremos descobrir o que se torna necessário para tais situações anormais. As "escoras" de natureza química ou botânica não devem servir senão para ajudar a vencer momentâneos estádios de fraqueza. Não podem converter-se no modo habitual de suporte de ânimo de gentes normais.
Por outro lado, se a nossa sociedade consome drogas por conformismo, para estar à moda, para enfileirar no curso dos usos, para experimentar o que outros falam, metodologia diversa se impõe.
Neste caso importará criar um clima tal que os que tomam drogas sejam considerados anormais e o seu comportamento olhado com compreensão, mas algum repúdio.
Que idosos desiludidos sintam a necessidade de tudo tentarem, vá que não vá, ainda se compreende, mas que jovens, a menos que tenham precocemente envelhecido ou recusado a tornarem-se adultos, é que será menos compreensível. A característica da juventude sempre foi a capacidade de criar, não a de se demitir de suas responsabilidades.
Como a droga é geralmente procurada não por si mesma mas como meio de pretensa libertação, de luta contra o establishment, de realização pessoal, as soluções que se apresentam deverão, pois, considerar, entre outros, os seguintes aspectos:

1) Esforço de compreensão e prospecção da sociedade de que se deseja neste virar de uma página agro-rural para uma civilização industriai e dos serviços, marcadamente urbana, concentrada, competitiva, de "consumo";
2)Investigação dos meios para permitir o desenvolvimento harmónico dessa sociedade;
3)Redescoberta dos valores essenciais da pessoa humana e do seu viver colectivo;
4)Conhecimento dos mecanismos de contrôle da evolução ou encobrimento da verdade - a droga poderá ser um deles, mas a pornografia, a liberdade sexual, o deixar correr, bem como a violência, não serão outros, também?
5) Preocupação de perfeição, sabido que o mundo e a sociedade estão em constante devir desde a revolução industrial e que a verdade, permanecendo estruturalmente una, reveste, contudo, aspectos frequentemente novos, permanentemente mutáveis.

No fundo, necessidade de uma filosofia centrada não sobre a droga, mas englobando a tríade indivíduo-sociedade-droga, isto é, compreensão do homem como ser social em soa integração na vida.
A partir daqueles princípios, a solução para o problema da droga encontrar-se-á sobretudo numa educação e acção formativas, adultas, conscientes, responsáveis, alicerçadas no conhecimento do homem e na pedagogia do viver.
De um e de outro lado, dos utilizadores ou tentados a ela recorrerem, como dos investigadores das mais variadas ciências e humanidades (médicos, psicólogos, educadores sociais, filósofos, sociólogos, etc.), impõe-se o diálogo, em que a experiência e a investigação, sem preconceitos, busquem soluções. Neste ambiente ou atmosfera de confiança e respeito mútuos o homem de ciência adquirirá conhecimentos e o utilizador efectivo ou potencial poderá tornar-se mais prudente, colaborar. Por essa via, e não desprezando nenhuma forma de esclarecimento e prevenção, fiscalização e tratamento, a sociedade acabará por verificar que a droga não é de facto essencial. Poderá nalguns casos servir para auxiliar certos doentes, mas de forma nenhuma nela se reconhecerá a panaceia dos que se crêem, por vezes, "bem-pensantes" e, muitas vezes, mais não são do que pobres (ou ricos ...) doentes mentais ou psíquicos.
Sirva este aviso prévio para alertar, sem pânico, como convém, mas adulta, conscientemente, a população de Portugal para um malefício que tem atingido última e mais fortemente povos considerados evoluídos ou avançados e, sobretudo, a organizar eficazes serviços de fiscalização, prevenção (nela incluídos os educacionais), tratamento e recuperação dos que porventura vierem a ser atingidos por este "mal da civilização": a droga, certas drogas,, a toxicomania.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Agostinho Cardoso: - Pretendo reunir nesta, algumas breves notas complementares à minha intervenção de 2 de Março, no debate deste aviso prévio.
E quero acentuar, antes de mais, que interessa rever e acentuar as penalidades para os diversos interventores no tráfico da droga. O governador Rockefeller, de Nova Iorque, há dias, e agoira o Presidente Nixon,