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30 DE MARÇO DE 1973 4873

Ao dealbar do dia, espreitar na Gorongosa a fauna africana - elefantes, leões, veados, zebras e hienas -, dar um salto a Vila Pery ou a Vila Cabral, deslumbrar-se com o desenvolvimento a ritmo acelerado de Nampula e Nacala ou com as instalações portuárias da Beira, onde chineses, indianos, mestiços e brancos de cor e raças variadas, mas de uma só língua e de uma só pátria, inundam alegremente os passeios, os cafés, as escolas e as fábricas desta lindíssima cidade de arquitectura moderna, onde as raças se fundiram como em nenhuma outra.
Ou jornadear por Lourenço Marques, a grande metrópole do Índico, cidade-jardim harmoniosamente delineada, onde as fábricas e os grandes edifícios crescem rapidamente.
E dar um salto em pequeno avião até Inhaca, a ilhota que espera o turismo na quietude dos seus palmares.
Ou meditar no passado, religiosamente, ao passar sem receio pelos bairros muçulmanos da ilha de Moçambique, onde as mulheres dão bom-dia ao transeunte e a mesquita com seus fiéis vive em harmonia com a igreja, e onde a fortaleza e o Palácio-Museu de S. Paulo nos falam do gigantesco esforço de um passado de séculos...
Argumentos não faltam assim às províncias ultramarinas - sem esquecer Macau e Timor - para quererem desenvolver uma indústria turística que lhes vai trazer divisas - para a qual têm abundante matéria-prima e que se reveste de aspectos politicamente positivos que é quase inútil salientar: torná-las melhor conhecidas dos portugueses metropolitanos, ou dos estrangeiros curiosos que por vezes descreiam do mundo que os Portugueses construíram.
Mas não basta matéria-prima. Estruturas turísticas têm de ser criadas e traçada uma política de tráfego aéreo que vise o turismo.
É sobretudo no domínio do tráfego aéreo turístico que todos os esforços devem concentrar-se.
Tarifas especiais, excursões para grupos organizados, voos com tudo incluído, agências de viagem que se especializem em turismo ultramarino, etc.
E há muito a fazer neste capítulo.
Basta dizer que os pais de militares mobilizados no ultramar e que ali têm de permanecer dois anos não usufruem de qualquer tarifa especial se quiserem visitar os filhos.
E deviam tê-la.

O Sr. David Laima: - Muito bem!

O Orador: - Como Deputado pelo Funchal, tenho acentuado várias vezes quanto os Continentais conhecem pouco o arquipélago da Madeira - primeira terra portuguesa para lá do mar que achámos ou descobrimos.
E como ela pouco tem beneficiado de um turismo interno, desajudado pelo custo alto das passagens de avião Lisboa-Funchal. Há férias para portugueses nas Baleares ou nas Canárias mais económicas do que idêntico programa para a Madeira.
Vai surgir este problema do tráfego aéreo turístico da metrópole para o ultramar, e serão fundamentais as soluções a que se chegue na promoção turística ultramarina.
Como português das ilhas adjacentes, só desejo que o turismo ultramarino possa ser perante o Mundo o grande cartaz da nossa pátria pluricontinental.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Alberto de Alarcão: - Sr. Presidente: Rogou-me o Sr. Deputado David Laima que tentasse colaborar no aviso prévio sobre "A indústria do turismo no desenvolvimento económico e social do ultramar".
Mas porque não sou daí natural nem residente, nem ao ultramar me ligam outros laços que não sejam os de português e da amizade que me ligam a muitos dos que lá vivem ou viveram - e tal me basta -, interroguei-me que contributo poderia trazer à apreciação da matéria ora na ordem do dia dos trabalhos do plenário desta Assembleia Nacional.
Resolvi escolher tema que, pela sua especificidade, acredito que não virá a ser largamente desenvolvido no decurso deste aviso prévio. Mas tem algo a ver com o turismo, com todas as formas de turismo: interno e externo, e o desenvolvimento do ultramar, aliás de todos os territórios ou nações, qualquer que seja o seu grau de desenvolvimento económico e social: o artesanato.
A ele vamos. E porque da leitura empreendida e da muita mais que ficou por fazer ressaltou obra recentemente publicada no Brasil, e a esse contexto luso-tropical respeitante, com tanto paralelismo destoutro lado do mar Atlântico, entendi por bem adaptar as essenciais conclusões do estudo [José Artur Rios e associados - Artesanato e Desenvolvimento. O Caso Cearense. Rio de Janeiro. Serviço Social da Indústria (S.E.S.I.) da Confederação Nacional da Indústria] como homenagem à Comunidade Luso-Brasileira que nos trópicos vai florindo, como testemunho de respeito e admiração às maravilhosas obras de artesanato que me foi dado apreciar em visitas de estudo às províncias ultramarinas de Angola e de S. Tomé.
Fique esta prosa descolorida como resposta pronta e amiga a quem o solicitou. E se servir a alguém, ou a algum serviço, nesta hora de turismo nacional, dar-me-ei por satisfeito, por feliz.
Sr. Presidente: O crescimento e a expansão da indústria nos países de civilização ocidental parece ter levado muita gente a concluir pelo desaparecimento gradual das actividades artesanais.
A muitos estudiosos, nos alvores do processo de industrialização, afigurava-se que a fábrica acabaria fatalmente por absorver a oficina, o artífice se integraria no operariado qualificado dos grandes estabelecimentos industriais e o artesanato, típico de uma era superada pelo capitalismo industrial, passaria a actividade fóssil e marginal no contexto das novas civilizações.
No entanto, o exemplo contemporâneo de países altamente industrializados parece vir desmentir a tese pessimista dos que acreditavam na extinção natural do artesanato pelo simples crescimento das indústrias. Efectivamente, não apenas "ofícios" ou "artes" cresceram paralelamente à actividade industrial sempre que souberam modernizar seus métodos e objectivos, sua criatividade original e "enriquecedora", como também a sua preservação passou a constituir preocupação de estadistas e humanistas, de quantos se preo-