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4896 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 243

lavras: a paisagem, o contexto etnográfico e a arte. Angola, o maior território da Nação Portuguesa, apresenta-nos características bem marcantes nos dois primeiros aspectos e não é completamente desprovida no último. Reúne assim condições excepcionais para se tornar um pólo nacional de atracção turística, que só muito recentemente começou a despertar a atenção dos responsáveis por esta indústria.
Primeiramente a paisagem. Tanto do norte para o sul como de oeste para leste, Angola, pela sua constituição geológica, pela configuração do seu relevo e pela diversidade dos seus climas, oferece ao turista os mais surpreendentes panoramas.
Em Cabinda, a floresta virgem do Maiombe; no Congo, os cafezais inebriantes de perfume na época da floração; no Lucala, as majestosas cataratas do Duque de Bragança envolvidas por um quadro de exuberância tropical; mais além, as ciclópicas pedras de Pungo Andongo; no litoral, a magnífica cidade de Luanda espelhando-se na concha graciosa da sua baía.
Navegando para o sul, o tropicalismo de S. Filipe de Benguela, capital do antigo reino do mesmo nome; a restinga do Lobito emergindo com as suas casuarinas e o seu casario multicolor das águas acinzentadas do oceano; a cidade de Moçâmedes entre a mancha agreste do deserto e as ondas do mar azul; os contrafortes e os precipícios da Chela onde se aninhou a ridente cidade de Sá da Bandeira e, quase no limite de Angola, a remota Baía dos Tigres, onde os homens lutam ao mesmo tempo contra as dunas do deserto e contra as tempestades dos mares do sul. É um nunca mais findar de contrastes entre a floresta e a savana, entre as planícies e as montanhas.
Neste imenso Estado sucedem-se igualmente as raças, as tribos, as línguas, os costumes num mosaico rico de expressões etnográficas. São os Bacongos, numa vasta área cultural em que sobressaem os sobas dembos com as suas capas de honra escarlates, ou os Muxiluanda, pescadores da ilha de Luanda, envergando saias de xadrez azulado. São os Quiocos, o povo artista de Angola, representado num museu etnográfico, que é um dos mais preciosos repositórios da arte negra no Mundo.
Sem esquecer os característicos Bailundos do planalto do Huambo, o viajante que tomar a direcção do Baixo Cunene tomará contacto com as tribos nómadas e pastoris dos Dongoenas, Humbes, Cuanhamas e Cuamatos, notáveis pela sua beleza física, pelo seu feitio aguerrido, pela sua indumentária e pelo seu habitat. E poderá ainda observar os últimos espécimes de uma raça, quase desaparecida, os Bosquimanes, primitivos habitantes da África e tão diferentes dos Bantos como os arianos destes.
Um outro pólo de atracção em Angola, infelizmente ainda muito longe de organização e de publicidade adequada, como a Gorongosa em Moçambique, são as suas extraordinárias reservas cinegéticas. Além de quase todas as espécies de animais bravios da África intertropical, sobrevivem ali mamíferos desaparecidos como a palanca negra e o rinoceronte branco. Desde há muitos anos que se encara a constituição dos parques da Quiçama, da Cameia e do Bicuar, mas neste ponto Angola enferma de notória carência de iniciativa turística.
Esboçámos as linhas turísticas que importam à paisagem e à variedade etnográfica. Todavia, o património monumental e artístico é ainda uma outra motivação na descoberta de Angola. Tanto pelo desgaste do tempo como pela incúria dos homens, os monumentos são apenas na sua maioria as reminiscências da ocupação religiosa e militar. Concentram-se nas cidades ou em posições avançadas no interior do sertão.
S. Paulo de Luanda, fundada em 1575, capital de Angola, é também a cidade onde ficaram mais assinaladas as sombras do passado.
Do século XVII datam duas das suas igrejas mais antigas: Nossa Senhora da Nazaré, à beira do mar, lembrando um voto do governador André Vidal de Negreiros, e a igreja do Carmo, já sobre as Ingombotas, ornamentada de azulejos e de talha barroca. Três fortalezas defendiam a entrada de Luanda: a mais notável, verdadeira insígnia da presença lusitana nestas conquistas, é a de S. Miguel, alcandorada no morro do mesmo nome. Mas Luanda ostentava ainda palacetes, casas de sobrado, edifícios públicos ou simples residências, que, embora na sobriedade dos materiais de construção, se distinguiam pelo seu carácter e mesmo pela beleza arquitectónica. Não era apenas o solar de D. Ana Joaquina, traficante de escravos, hoje pertença do Estado.
Há uns trinta anos ainda se podiam ver na Rua dos Mercadores e na Rua de Avelino Dias, na cidade baixa, saborosas edificações dos séculos XVII e XVIII, que imprimiam uma fisionomia inconfundível ao burgo tropical e assinalavam uma presença europeia ao sul do equador anterior a todos os outros povos colonizadores. Infelizmente não houve o senso de conservar todo este património arquitectural, que despertaria não só a curiosidade dos turistas, mas serviria ainda de fundamentação histórica à feitoria fundada por Paulo Dias de Novais.
Todavia, os Portugueses deixaram ainda o traço da sua presença em outros itinerários de Angola. Um dos caminhos de penetração dos pioneiros foi o curso do Cuanza. Deste modo, as margens deste rio angolano ficaram salpicadas de padrões históricos da nossa ocupação no final do século XVI e no século XVII. É a Muxima com a sua fortaleza a cavaleiro sobre as águas quietas do rio e a igreja da mesma invocação, onde ainda hoje os nativos afluem em peregrinação. É o conjunto de Massangano com o seu evocativo santuário de Nossa Senhora da Vitória - vitória contra as hordas do rei N'Gola, com as pedras veneráveis da fortaleza e as ruínas do presídio.
Foi em especial na Muxima que se registaram as páginas mais gloriosas contra o ocupante flamengo. Os defensores encerrados na fortaleza bateram-se animados por este grito de guerra:

As praças d'El-Rei Nosso Senhor só se rendem depois de todos mortos!

Ainda à beira do Cuanza sobrevive outra imagem do passado, a povoação do Dondo, antiga feitoria, mercado de borracha no século XIX, com ruas ensombradas por acácias, moradias novecentistas, armazéns de permuta e varandas de ferro forjado. Uma cidadezinha adormecida sob a canícula da atmosfera tropical, onde ainda parecem ressoar as canções dos carregadores e a vozearia das caravanas descidas do interior.
Por Angola fora um ou outro povoado, uma ou outra fortaleza, rememoram a presença histórica dos