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4898 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 243

cessarias para que tal se possa verificar: no sector público, as estruturas carecem de uma organização adequada e de quadros capazes, embora, felizmente, já se comecem a esboçar medidas tendentes a eliminar tais deficiências; no sector privado, há falta de iniciativa, em parte consequência da debilidade financeira e da ausência ou quase ausência de instituições creditícias que respondam às necessidades no campo de financiamento; acresce ainda que não existem estabelecimentos hoteleiros a nível de indústria turística, na verdadeira acepção, e não há escolas hoteleiras.
Por tais razões, não se pode falar propriamente de indústria de turismo na Guiné, mas, sim, da necessidade de criá-la, fomentá-la e desenvolvê-la. Essa necessidade manifesta-se de forma inquietante, como já frisámos, arrastando atrás de si todo um cortejo de problemas, que vai desde a simples organização ao financiamento, da criação de infra-estruturas à formação de quadros.
Já lá vão bem longe, infelizmente, os tempos radiosos de confiança da estância turística da praia de Varela, que atraía nacionais e estrangeiros em número considerável, ainda antes mesmo de existir o Centro de Informação e Turismo (C. I. T.); uma iniciativa louvável, em Bolama, de que já havia nascido um luxuoso hotel de turismo, uma estância balnear - a denominada praia de Ofir - e um centro de informação, cultura e turismo com órgão próprio - o jornal O Bolamense - não teve continuidade, apesar de toda a pujança inicial, e extinguiu-se antes mesmo do seu criador, o falecido administrador de concelho e nosso saudoso amigo, Camilo Montenegro, a quem um jornalista na altura classificou de "velho com espírito jovem".
Assim se resume a história do turismo na Guiné Portuguesa, com um passado breve mas digno de ser recordado, ao mesmo tempo que se lamenta a falta de continuidade, que toma foros de endemia no campo das grandes realizações naquela parcela da Nação. E quantos recursos se têm delapidado, desta maneira, e quanta riqueza se tem deixado de aproveitar no meio das maiores necessidades!
De entre os emprendimentos que têm conseguido escapar a este fatídico destino ocorre-nos lembrar duas geniais obras: a Missão do Estudo e Combate à Doença do Sono, hoje Missão do Combate às Endemias, que se deve ao actual Presidente do Conselho, Prof. Marcelo Caetano, aquando Ministro do Ultramar, e o Centro de Estudos da Guiné, com o seu órgão de divulgação, o Boletim Cultural, iniciativa ligada ao nome do que foi grande governador e amigo da nossa Guiné, o almirante Sarmento Rodrigues. A ambas as figuras cumpre-nos neste momento render homenagem.
Mas, com tudo quanto acabámos de referir, não queremos de forma alguma dizer que a Guiné Portuguesa não reúne condições para o desenvolvimento da indústria de turismo. Pelo contrário, pudemos, depois de alguma análise, descortinar as mais amplas e esperançosas perspectivas, e o que vamos dizer a seguir torna evidente que a actividade turística tem possibilidades de vingar, e há-de vingar, na Guiné, não só porque ainda não morreu nos Guinéus o desejo forte de ver a sua terra desenvolvida, mais progressiva e mais próspera, mas também porque há fundadas razões para muito se esperar da política dinâmica de uma Guiné melhor e de que é patrono esse grande português e guinéu do coração que é o general António de Spinola.
Na realidade, a Guiné possui excelentes condições naturais, tanto para a indústria turística - e não só para a actividade industrial - como também para qualquer actividade económica, quer no sector primário, quer nos outros sectores, como o comprovam estudos sérios já feitos. Carece-se, sim, é de uma organização adequada, e essa tem de existir sempre que se queira realizar obra útil e duradoura. É necessário que haja uma organização que materialize os ideais a prosseguir; capaz de mobilizar os recursos disponíveis - ou criá-los - e orientá-los para um objectivo definido, e que enquadre homens preparados, de cujo esforço conjunto vive e subsiste, sem depender de qualquer deles, isoladamente.
Uma organização de tal natureza não prescinde também da qualidade, assim como do carácter mais ou menos permanente, da contribuição que lhe prestam os homens que enquadra. A instabilidade, caracterizada por alterações sucessivas e frequentes nos quadros de uma organização, é ainda mais prejudicial do que a imutabilidade sistemática, pois se este traz consigo a estagnação, que é prelúdio da desagregação, aquela é causa de desperdícios de toda a ordem, que, por sua vez, levam à extinção por falência.
A este respeito, transcrevemos o que disse André Carnegie, célebre industrial americano conhecido por "rei do ferro":

Se me visse na contingência de perder ou as minhas fábricas ou a minha organização, não hesitaria em sacrificar as fábricas, que poderia reconstruir, ao passo que não poderia numa geração refazer a minha organização, isto é, um pessoal bem escolhido, bem formado, de que cada membro foi orientado para o caminho em que pode prestar mais serviço, foi habituado a colaborar com o seu chefe, com os seus colegas, com os seus inferiores.

O mal da Guiné tem sido a deficiência na organização, resultante do facto de os seus quadros se basearem fundamentalmente em elementos com permanência limitada na província, e não em elementos radicados. É esta a conclusão a que chegámos ao analisar as causas do aparecimento e desaparecimento sucessivos de iniciativas, em quase todos os campos, na província que temos a honra de representar neste Colégio.
Com aquela perspicácia que o caracteriza e define a sua acção governativa, o general Spinola compreendeu os inconvenientes de uma tal situação e por isso falou na regionalização dos quadros, medida louvável que já começa a ser ensaiada. Note-se que não se trata de africanização, expressão que, tal como europeização ou asiatização, não tem sentido nem significado numa sociedade multirracial como a nossa.
Regionalização não implica, necessariamente, africanização, no caso português, em que europeus enraizados na África se consideram tão africanos como os nativos e estes tão portugueses como os da Europa. Não tem relevância que fulano, que ocupa tal ou qual cargo, em função da sua capacidade e preparação e não como resultado de um favoritismo escan-