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2 DE DEZEMBRO DE 1982 709

Vozes do PPM e do PSD: - Muito bem!

Risos da ASDI, do PS e do PCP.

O Orador: - Só queria perguntar ao Sr. Deputado Salgado Zenha se não lhe parece que promoções deste género podem, perante até os olhos do cidadão comum, criar injustiças relativas. Sou do Norte e todos os deputados do Norte se devem lembrar, por exemplo, da figura de Carlos Azevedo, que fez o 25 de Abril no Norte. Este género de promoções não irão marginalizar militares que tiveram uma intervenção muito maior do que estes no 25 de Abril?

Vozes do PPM e do PSD: - Muito bem!

O Sr. Mário Tomé (UDP): - Como vocês se conhecem tão bem uns aos outros!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Lopes Cardoso.

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Sr. Deputado Salgado Zenha: sei, e foi já dito aqui pelo Sr. Deputado Manuel Alegre, que o projecto de lei que apresentou é subscrito pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista.
No entanto, julgo saber também (e julgo não cometer nenhuma inconfidência) que o Sr. Deputado foi o principal impulsionador desse projecto. Nessa medida, não queria deixar de aqui, publicamente, lhe prestar a minha homenagem, porque o projecto não só consubstancia algo que considero justíssimo como é também, neste momento, uma prova de coragem.
Sr. Deputado, queria também agradecer-lhe e ao Grupo Parlamentar do Partido Socialista a oportunidade que me foi dada de também subscrever esse projecto de lei e dizer-lhes que, apesar de apenas eu o subscrever, este é talvez um dos casos em que a minha assinatura mais clara e inequivocamente vincula o meu grupo parlamentar e os meus camaradas de partido.
Dito isto, Sr. Deputado, tinha algumas perguntas para lhe fazer. No entanto, ao longo das intervenções das bancadas da maioria, fui reprimindo uma vontade muito grande de protestar, mas acabei por dizer para mim próprio que não valia a pena.
Creio que um dos preços que temos de pagar pela liberdade é o de ouvir lançar sobre ela os impropérios daqueles que, no fundo, não a compreendem, não a aceitam, se vão adequando, habituando e vivendo com ela como viveram com muitas outras coisas.

Vozes da UEDS e do PS: - Muito bem!

O Orador: - Pergunto se o Sr. Deputado não comungará de uma dúvida, perante a indigência dos argumentos avançados pelas bancadas da maioria, que vão desde as tentativas frustradas do Sr. Deputado Narana Coissoró de tentar trazer para aqui eventuais querelas internas do Partido Socialista até à mais do que indigente afirmação e dúvida do Sr. Deputado João Morgado sobre a folha de serviços dos oficiais que fizeram o 25 de Abril. Bom, a indigência dos argumentos do Sr. Deputado João Morgado já nós conhecíamos a propósito de outras matérias debatidas nesta Assembleia. Mas passemos adiante...

Risos da UEDS, do PS e do PCP.

Quanto às escolas em que o Sr. Deputado António Moniz aprendeu, devo dizer que não sei por que livros ou tratados bafientos ele estudou para nos trazer aqui a lição que então aprendeu.

O Sr. António Moniz (PPM): - Cumpri o serviço militar!

O Orador: - Pergunto se depois de tudo isto - depois da posição da maioria em relação aos militares do 25 de Abril - não fica apenas alguma coisa que eles, no fundo, não lhes perdoam. Pergunto se o que a maioria não perdoa aos militares do 25 de Abril não será o eles terem-no feito. Não será, no fundo, esta a questão, Sr. Deputado Salgado Zenha?

Aplausos da UEDS, do PS, do PCP, da ASDI e do MDP/CDE.

O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Sr. Presidente, peço a palavra para formular um protesto em relação às afirmações do Sr. Deputado Lopes Cardoso.

O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estamos perante duas concepções diferentes da democracia e do 25 de Abril.

Vozes da UEDS: - Muito bem!

O Orador: - Fez-se a democracia em Portugal precisamente para que as pessoas não precisassem de chamar indigentes uns aos outros para defenderem as suas ideias. Fez-se a democracia em Portugal para que não fosse preciso as pessoas insultarem-se na defesa dos seus ideais.

Vozes do PPM e do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Fez-se a democracia em Portugal para que, finalmente, as pessoas se pudessem respeitar em liberdade, em democracia e em amor pelo próximo, se assim podemos dizer.
Não foi para ouvir isto que fizemos o 25 de Abril.

Protestos do PCP e da UEDS.

O Sr. Mário Tomé (UDP): - Fizeram?

O Orador: - Não foi para ouvir isto que viemos para aqui.

O Sr. Mário Tomé (UDP): - Com os fachos é que é bom!

O Sr. Raul Rêgo (PS): Onde estava no 25 de Abril?

A Sr.ª Ercília Talhadas (PCP): - Nada de misturas!

O Orador: - Olhe, minha senhora, misturas com comunistas nunca tive. Nunca precisei de me misturar com comunistas para ser democrata, percebe? E não preciso sequer do seu aval, minha senhora, para ser democrata, nem nunca precisei. Os socialistas sabem isso. Se não o dizem aqui é porque não o querem.