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7 DE DEZEMBRO DE 1984 927

sim, uma vaga notícia de que havia problemas internos no CDS relativamente a este assunto, mas considerámo-los como sendo uma questão interna do CDS em relação à qual não tínhamos de nos meter.
Contudo, devo informar que a proposta de redução das despesas de representação surgiu pela primeira vez numa reunião de líderes parlamentares em que estavam presentes os líderes do PS e do PSD e eu próprio, e depois disso essa proposta foi tida por boa pelo Governo. Devo acrescentar que essa proposta foi ao encontro de um estado de espírito que já se desenhava no Governo - aliás, a proposta do Governo data de 22 de Novembro e a proposta do CDS é de 27 de Novembro. Às vezes somos bons a adivinhar, mas nem sempre!
Reflexos na opinião pública, relação dialéctica, irresponsabilidade de quem não os tiver em conta. Como Governo que somos, temos de ter em conta a dialéctica da opinião e temos de respeitar a opinião pública como democratas que somos. Mas ai do governo que, apesar de tomar em conta a vontade do povo português desde logo expressa num acto eleitoral e depois, através de manifestações de vontade de vária ordem de cidadãos organizados em grupo através da imprensa, não tenha vontade própria sobre problemas concretos! Não será um governo, mas sim qualquer coisa atrelada a outra coisa.
O Sr. Deputado também referiu que a explicação deste salto remuneratório era inabsorvível pela opinião pública. Não tenho essa visão pessimista da sensatez do povo português, nem creio que ele vá premiar aquilo que considero uma posição de algum modo demagógica de quem, não podendo deixar de concordar com a razoabilidade desta proposta, tende - ao contrário do que já fez antes - tomar atitudes públicas que vão ao arrepio disso que considero uma sensatez mínima. Em minha opinião não vejo nesse facto ofensa para quem quer que seja!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado Lopes Cardoso disse que faço um falso cotejo entre a proposta do Governo e a da UEDS. Porque é que o Sr. Deputado Lopes Cardoso pôde fazer esta afirmação? A proposta da UEDS é anterior à do Governo e, portanto, como a proposta do Governo tem percentagens mais baixas do que a da UEDS, foi o Governo que desceu e não a UEDS que subiu.
Porém, o que eu quis realçar foi que entre uma proposta e a outra há diferenças, ora para mais, ora para menos, sem me ter pronunciado sobre a relação de anterioridade ou de posterioridade. Em todo 0 caso, quero dizer que a proposta da UEDS relativamente à proposta que foi votada na Assembleia e vetada pelo Sr. Presidente da República, essa, sim, baixa porque lá estavam 80 %, a UEDS subiu para 100 % e o Governo recuperou a proposta-limite dos 80 %.
Também é verdade que quando falo em menos de 5% nas despesas de representação me refiro a um cotejo entre as duas propostas .sem formular um juízo de anterioridade e posterioridade. O que interessa é que a UEDS quer menos 5 % do que o que o Governo quer. É, pois, isto que separa a UEDS do Governo, o que, na verdade, é uma convergência bastante notada.
Creio que foram estes os problemas que me colocou. Portanto, está de pé tudo o que afirmei, embora corrigido no que se refere à relação de anterioridade/posterioridade.
O Sr. Deputado João Amaral reprovou o facto de eu usar uma linguagem que se pode considerar irónica, mas que é sempre construtiva. Devo, pois, dizer-lhe, Sr. Deputado, que é esta a minha maneira de escrever e de falar e que não vale a pena ter esperança que mude, que passe a vir à Assembleia muito sisudo, muito circunspecto, a fazer daqui uma ladainha, um velório. Não sou capaz disso, nem nunca o serei, mesmo quando reconheço que os problemas são extremamente sérios, como é o caso. Só que há maneiras irónicas de tratar problemas sérios: a ironia tem por vezes uma força que a sisudez não tem. Lembro-me de escritores célebres que usaram a ironia e que ainda hoje conseguem ser mais demolidores de alguns aspectos de sociedades que tanto eu como o Sr. Deputado combatemos.
Com uma certa ironia, o Sr. Deputado refere que eu cumprimento o meu estado de pobreza. É verdade que não sou extremamente pobre, também não sou extremamente rico, mas sou moderado. Se tivesse aquilo que me é atribuído era mais feliz do que sou, porque não creio que a riqueza cause a infelicidade a ninguém. Podia ser mais generoso do que sou, e, de algum modo, sou generoso. Não fiz profissão de pobreza. Aliás, devo dizer-lhe que odeio a pobreza. Não odeio os pobres, mas sim a pobreza em si, e quando fiz a minha opção socialista tal facto esteve na base dessa opção.
Porém, vir aqui ironizar com o meu estado de pobreza quando um ministro português ganha 100 000$, desculpar-me-ão, mas isso não é um argumento sério!

Vozes do PCP: - Não ganha 100 000$, ganha muito mais!

O Orador: - Srs. Deputados, o meu ordenado é de 100 000$, mais 30 000$ para despesas de representação. Só que essas são despesas vinculadas porque hão-de partir do princípio que um ministro - para mal dos seus pecados - tem mesmo despesas de representação. Aliás, pela parte que me diz respeito, devo dizer que não gasto ao Estado nem mais um tostão além do que este me paga. É bom que isto fique entendido, porque não faço com que o Estado tenha mais despesas comigo a não ser as que ele me dá para custear as despesas.
O Sr. Deputado João Amaral há-de reconhecer que não há exagero na remuneração de um ministro num país em que, apesar de tudo, há vencimentos da ordem dos 200 000$ a nível dos gestores públicos ou a outros níveis.
Cotejando, sobretudo, o vencimento de um ministro português com o de um ministro de qualquer democracia da Europa, temos de reconhecer que somos de longe os mais modestos e os mais comedidos. Portanto, se há reparos a fazer nessa matéria, eles não serão certamente ao Governo Português.
Quando referi que há maus directores-gerais, o Sr. Deputado perguntou-me se não será por isso que haverá maus ministros. Devo, pois, dizer que admito que muitas pessoas que por vezes têm sido convidadas pelos seus méritos individuais para pertencerem ao Governo ou para serem deputados, se tenham recusado por não serem capazes ou não lerem possibilidades para renunciarem às condições que tem na sua