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nal de contas a realidade veio evidenciar que primeiro, há renegociação de acordo; segundo, há governo e que ele está para durar.
Pergunto ao Sr. Deputado se esta moção de censura, tão inoportuna como se apresenta, não é antes, também, uma tentativa de acordo no seu próprio grupo parlamentar para, unidos contra um inimigo comum, tentar obter uma direcção para a sua bancada. Os jornais muitas vezes dizem que o Sr. Deputado Nogueira de Brito «vai», logo a seguir que o Sr. Deputado Nogueira de Brito «vem», para depois afirmarem que o Sr. Deputado Nogueira de Brito será o presidente do grupo parlamentar, e depois, ainda, que o Sr. Deputado Nogueira de Brito não está interessado. Afinal em que ficamos, Sr. Deputado? Há ou não direcção do seu grupo parlamentar? Não será esta moção aqui apresentada para unir esse mesmo grupo parlamentar?

Aplausos do PS e do PSD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Lima.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Sr. Deputado Lucas Pires, ouvi com toda a atenção a intervenção de V. Ex.ª e permita-me que comece por notar que desta vez não nos brindou com um daqueles discursos a que nos habituou, que têm normalmente um estilo invejável e castiço, tendo muitas vezes lantejoulas em extremo, onde com frequência o galhardete florentino é entremeado com aquilo a que, segundo as suas próprias palavras, o Sr. Primeiro-Ministro apoda de metáforas. O discurso de V. Ex.ª foi denso, procurando não deixar pedra sobre pedra no edifício deste Governo. Podíamos mesmo dizer que alguém que tivesse ouvido V. Ex.ª pela primeira vez e que eventualmente não o conhecesse seria tentado a concluir que estaria a ouvir um antigo ministro!
Sr. Deputado Lucas Pires, V. Ex.ª referiu no seu discurso que existem vozes críticas na maioria. 15so parece ser um factor de perturbação, que poderá ter sido uma das razões concludentes, que o levaram a apresentar a moção de censura.
Ora, Sr. Deputado, isso não é estranho, visto que se trata de uma maioria democrática. Existem também vozes discordantes dentro da sua própria bancada e do seu próprio partido e isso não é nenhuma enfermidade, nem para o partido nem para a democracia. Todos sabemos de tentativas mais ou menos sub-reptícias, de colegas seus do seu partido, de lhe fazerem, permita-me a expressão, «o ninho atrás da orelha» e parece, Sr. Deputado Lucas Pires, que isso não deveria ser razão bastante ou, pelo menos, ser deduzido como tal, para ser aqui apresentada uma moção de censura. Ou será que esta, em vez de ser dirigida para fora, se dirige para dentro, para cimentar a desagregação dentro do seu partido? Será que o Sr. Deputado Lucas Pires, no caso de esta moção de censura não ser aprovada - como naturalmente não será - irá pedir de novo aquilo que esteve para ser pedido em tempos pelo CDS e que é a dissolução da Assembleia da República?
Em segundo lugar, referiu o Sr. Deputado que existem alternativas democráticas e que elas estão vivas. Importa-se de concretizar mais um pouco quais são essas alternativas, para além dos apoteóticos 20 % que V. Ex.ª preconiza vir a ter nas próximas eleições, ou talvez um pouco mais, se for conduzido pela vontade e pela alegria que animavam o Deputado Luís Barbosa,

I SÉRIE - NÚMERO 30

quando prometia avançar como um bulldozer pelo País dentro? Para além disso, quais são os outros elementos de referência política com que conta construir a maioria?
Em terceiro lugar e quanto à CEE, disse V. Ex.ª que todos defenderam as suas posições, menos Portugal. O Sr. Deputado Lucas Pires acredita a sério nisto? Acredita que Portugal não defendeu convenientemente as suas posições ou pensa, antes, a sério que o processo de negociação com a CEE e os atrasos nele havidos têm mais a ver com a crise interna da própria CEE, que se arrasta desde Fontainebleau, do que com a negociação dos nossos dossiers ou a preparação técnica dos nossos negociadores? Será porventura isso, Sr. Deputado, o reconhecimento do seu próprio falhanço? É que me lembro de que, há meses atrás, V. Ex.ª ofereceu ao País - pelo menos a comunicação social assim o relatou - os seus prestimosos serviços para interceder junto da União Europeia das Democracias-Cristãs, no sentido de apressar a nossa entrada na CEE. Será que a sua solicitação falhou ou terá V. Ex.ª ficado, um pouco apressadamente, enciumado com a atitude do Sr. Primeiro-Miistro de levar a Londres o Prof. Freitas do Amaral?

Aplausos do PSD e de alguns deputados do PS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Mateus.

O Sr. Rui Mateus (PS): - Sr. Deputado Lucas Pires, não se vislumbram hoje, do seu longo discurso, grandes alternativas.
Em matéria de política externa e de CEE fez muitas acusações, mas nenhuma delas foi, infelizmente, fundamentada.
Perante isto e dada a minha confusão perante as suas declarações aqui, em relação à integração de Portugal e às negociações, que estão actualmente a ser conduzidas pelo Governo Português e às declarações que o Sr. Deputado tem vindo a produzir pelo País fora, muitas vezes contraditoriamente, gostava de lhe fazer algumas perguntas.
Em primeiro lugar, sabendo o Sr. Deputado que a maior parte dos dossiers, que foram fechados entre Portugal e a CEE nessas negociações, foram concluídos durante os governos em que V. Ex.ª ou o CDS estiveram presentes, gostaria de saber se tem algum defeito a apontar às negociações feitas por esses governos e quais são os defeitos que aponta especificamente, visto que não os fundamentou, às negociações que têm vindo ultimamente a ter lugar. Gostaria também de saber se V. Ex.ª considera que as dificuldades internas no seio da CEE, devem ser atribuídas ao Governo Português. Trata-se de um ponto bastante importante.
O Sr. Deputado apropriou-se de uma frase do Sr. Deputado Adriano Moreira, com a qual estamos de acordo, em relação à questão do europeísmo político não poder aceitar o diálogo ibero-europeu. Pergunto se V. Ex." acredita que foi o governo actual que fez a colagem à Espanha e se o Constat D'Accord assinado em Dublin não é exactamente a prova do contrário.
Finalmente e em virtude da grande ambiguidade das declarações aqui produzidas em relação a esta matéria, gostaria que V. Ex.ª me explicasse se ainda apoia a adesão de Portugal à CEE e se o seu partido continua a manter essa posição inicialmente assumida.