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2088 I SÉRIE - NÚMERO 50

coração monstro que tudo aguentava, não havia toiro que o fizesse acobardar.
O mesmo coração que tudo aguentava frente aos toiros, traiu-o aos 45 anos depois de um ataque de asma, agarrado a seu filho, com 8 anos de idade. É triste, este homem, este grande artista, morrer assim. Ele que não se importava de morrer numa arena a enfrentar um toiro.
A vida, o destino. Deus assim o quis e a realidade por vezes é violenta, é dramática, mas é a realidade e esta diz-nos que o homem morreu. Mas o artista está bem vivo na memória de todos os aficionados e não só, através da sua obra.
O Governo deve-lhe a condecoração adequada, a título póstumo, os aficionados assim o exigem, mas esperamos que não seja necessário exigir algo que desde há muito está conquistado.

Uma voz do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Esta Assembleia, com a dignidade e o respeito que lhe merecem todos os Portugueses e particularmente os mais notáveis por algo que fizeram e que levaram a escrever o seu nome na história de Portugal, merecem a nossa homenagem. Por isso, Srs. Deputados, o PSD manifesta o seu voto de pesar, por este grande homem que, por certo, será o sentir desta Câmara.

Aplausos do PSD, do CDS e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos tem a palavra o Sr. Deputado Soares Cruz.

O Sr. Soares Cruz (CDS): - Sr. Presidente, como V. Ex.ª certamente perceberá, utilizarei a figura do pedido de esclarecimento porque não queria deixar de me associar às palavras aqui acabadas de proferir pelo Sr. Deputado Machado Lourenço.
Em primeiro lugar, queria cumprimentá-lo pelo facto de, ao falar de Mestre Baptista, o ter distinguido com a sua subida à tribuna. Na realidade, é a única forma de se poder homenagear um homem tal; uma vez que aqui não temos arena, será a tribuna o lugar privilegiado para falar sobre tal pessoa.
No entanto, permita-me discordar de V. Ex.ª num aspecto: disse que Mestre Baptista não era um homem oriundo de uma família de privilegiados. Discordo frontalmente dessa afirmação, pois não se pode chamar a uma família que tal filho teve senão uma família de privilegiados. É um privilégio para uma família ter um filho daqueles, que é, de facto, um grande português e que merece todas as nossas homenagens. E mais: merece que a edilidade que ele adoptou não se esqueça dele agora, e que possa, juntamente com os seus munícipes, prestar-lhe a homenagem que lhe é devida, levantando-lhe aí um monumento para perpetuar a sua imagem e a sua memória.
Espero bem que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira não o deixe cair no esquecimento.
Por outro lado e, em último lugar, gostaria de dizer que Mestre Baptista foi morto pela sua valentia.
Tive o privilégio de, muitas vezes, privar com ele de perto e recordo que, por vezes, depois de lidar toiros que lhe davam mais trabalho, quase não podia falar nem ter-se de pé. Nunca proeurou tratar-se, porque entendia que não tinha tempo e precisava de preparar os

seus cavalos e de ter tempo disponível para a sua actividade.
Por isso mesmo, a morte ceifou-o cobardemente, confrontando-se com ele e batendo a sua valentia.
Terminaria, portanto, associando o voto de homenagem do Grupo Parlamentar do CDS às palavras que acabaram de ser proferidas pelo Sr. Deputado Machado Lourenço, associando-nos também ao seu voto de pesar.

Aplausos do CDS, do PSD e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Machado Lourenço, estão inscritos para pedir esclarecimentos outros Srs. Deputados. Deseja responder já ao Sr. Deputado Soares Cruz ou reponde no final?

O Sr. Machado Lourenço (PSD): - Respondo no fim, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Nesse caso, tem a palavra o Sr. Deptuado Magalhães Mota.

O Sr. Magalhães Mota (ASDI): - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Está na Mesa um voto de pesar, que eu próprio apresentei a propósito da morte de Mestre Baptista.
Creio que, neste momento, e depois das palavras do Sr. Deputado Machado Lourenço, às quais me associo, seria provavelmente a ocasião mais própria para votarmos esse voto de pesar em vez de o deixarmos cair no rol dos votos de pesar esquecidos.

O Sr. Vilhena de Carvalho (ASDI): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para responder aos pedidos de esclarecimento que lhe foram formulados, tem a palavra o Sr. Deputado Machado Lourenço.

O Sr. Machado Lourenço (PSD): - Sr. Deputado Soares Cruz, em relação ao «privilégio», devo dizer-lhe que, não me referi ao privilégio do filho que esses pais tiveram, mas ao «privilégio» ou ao «privilegiado» porque, como todos sabemos, até ao final dos anos setenta, só os filhos de grande família é que poderiam dedicar-se à arte de marialva e, muito menos, no caso de José Mestre Baptista, precisamente por não ter vindo de grandes famílias.
Mestre Baptista apresentou-se como um renovador, como um inovador de algo diferente, de algo que ele contestava dentro da arte de marialva. 15so levantou-lhe grandes dificuldades e teve de atravessar grandes barreiras. Ainda bem que o fez!
Vila Franca de Xira não esquece este grande toureiro, que ficará na história de Portugal como grande toureiro que era. E a verdade que não o esquece é que, neste momento, já se estão a movimentar todos os aficionados e toureiros no sentido de o monumento ser feito em Vila Franca de Xira num espaço de 3 meses, aproximadamente.
O Sr. Deputado Soares Cruz falou num aspecto que revela um pormenor de um grande artista e eu gostaria que esta Câmara e outras pessoas, não apenas os aficionados, soubessem o seguinte: José Mestre Baptista estava aconselhado pelo médico, há anos, para não tourear a cavalo, porque tinha um problema de asma, para além de ter, ainda, uma alergia ao pêlo do cavalo. O médico tinha-lhe dito que, se quisesse viver