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12 DE ABRIL DE 1985 2793

rés espirituais tão altos que tornavam impossível uma unidade que excluísse as grandes civilizações anglo-saxónicas, grega, portuguesa ou espanhola, não só pela inestimável contribuição dada à cultura e ao pensamento europeu mas também como insubstituíveis veículos da promoção da Europa, da liberdade no Mundo.
Falar de Espanha é também falar da América Latina.
Falar de Portugal é também falar do Brasil e dos países de expressão portuguesa da África ao Sul do Sara para os quais, hoje como no futuro, estamos virados no âmbito de uma cooperação que torne mais fone os laços que os unem a Portugal e, através de Portugal, à Europa.
Disse-se e repetiu-se que sem Portugal a Europa ficaria mais fraca.
Contudo - importa dizê-lo -, sem a entrada de Portugal e da Espanha não seria possível construir uma Europa unida, pois a cultura e a civilização portuguesa e espanhola mantiveram a chama europeia e com ela iluminaram os novos mundos que descobriram enquanto os outros povos se digladiavam entre si em confrontações de que nasceu - deve dizer-se - um novo equilíbrio europeu.
A entrada na CEE é, simultaneamente, uma vitória do espírito, da inteligência política e da capacidade negocial.
Importa, contudo, não nos deixarmos mistificar.
Desde logo impõe-se-nos um enorme esforço de renovação da nossa economia, dos seus conceitos filosóficos, dos seus quadros legais e estruturais.
Teremos de trabalhar, mais e sobretudo de trabalhar melhor...

O Sr. António Macedo (PS): - Muito bem!

O Orador: - ..., aproveitando a real capacidade de criação e inovação do povo português.
Outrora de costas voltadas para a Europa, tomamos, de novo, a estrada de São Tiago para assumir, integralmente, o nosso lugar no concerto europeu.
Trabalhar melhor implica uma profunda reforma das mentalidades - daí a actualidade da lição de António Sérgio - em todos os campos.
Não estamos condenados nem à estagnação nem à mediania económica se soubermos ê quisermos integrarmo-nos nesta grande aventura colectiva dos nossos dias.
A construção de uma Europa unida vai permitir diminuir os egoísmos nacionais e reforçar os interesses verdadeiros das nações.
Importa ter presente que Portugal tem uma vocação histórica europeia e que uma recusa da parte dos Dez teria consequências mais graves que as dificuldades postas pela adesão.
Abrir-se-á aos Portugueses uma nova era de liberdade, prosperidade e bem-estar se soubermos trabalhar com preserverança e determinação na construção europeia.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Com os Descobrimentos a aventura começou em longes terras.
Fechado o ciclo das índias, dos Brasis e das Áfricas há uma nova aventura que, como bem compreendeu Manuel Alegre, «começa aqui»,

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Ao construir a Europa, Srs. Deputados, a aventura começa em Portugal.

Aplausos do PS, do PSD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Magalhães.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Sr. Deputado José Luis Nunes, constatei que V. Ex.ª bateu, porventura, um record histórico de citações. Fez um discurso porventura interessantíssimo sobre a Europa, a história da Europa, as implicações da Europa, o futuro da Europa e terminou reflectindo sobre o futuro de Portugal em termos que, aliás, me merecem respeito quanto à entidade citada.
Gostaria, no entanto, de lhe fazer algumas perguntas concretas porquê do concreto o Sr. Deputado não falou. São as seguintes: o que é que pensa do futuro da beterraba sacarina em Portugal pós-adesão? O que pensa do futuro da indústria de conservas? O que é que pensa da situação do tomate? O que é que pensa da situação do vinho verde, uma vez que o Sr. .Deputado foi eleito por um distrito para o qual esta questão é bastante importante e o futuro dos produtores directos será fortemente afectado, segundo os dossiers informam, pela opção e pela negociação celebrada pelo Governo? O que é que pensa sobre o mar, que seria português se não passasse a ser da CEE?
Eram estas as perguntas que, começando aqui, talvez valesse a pena discutir em concreto.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Responderei ao Sr. Deputado José Magalhães dizendo que o seu discurso é a reedição de um outro de um deputado que, segundo Eça de Queirós, se sentou nesta Sala: o deputado Pacheco.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Oh!...

O Orador: - Ele era um sujeito que se dirigia aos outros deputados dizendo o seguinte:
Enquanto V. Ex.ª fala, eu, sentado neste cadeirão, faço luxo.

Risos do PS.

Não sei ou, melhor, não vou responder sobre o futuro da beterraba sacarina, sobre o vinho verde, sobre o mar e sobre todas as questões que V. Ex.ª colocou pois trata-se de pontos que não figuram no debate, tal como ele está a ser orientado.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Isso é à Pacheco!

A Sr.ª Ilda Figueiredo (PCP): - Ah! ...

O Orador: - VV. Ex.ªs, sempre tiveram o segredo daquilo a que se chama «a pergunta concreta» ou «a situação concreta»: quanto se vai gastar nisto, quanto se vai gastar naquilo, quanto se vai gastar naqueloutro.

O Sr. Joaquim Miranda (PCP): - Isso não interessa nada; não é importante! ...