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2794 I SÉRIE-NÚMERO 68

O Orador: - E, apontando as árvores, VV. Ex.ªs recusam-se a ver a floresta! ...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - O que é, neste momento, fundamental a esta Assembleia, é olhar a floresta.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Ah! ...

O Orador: - E esse olhar para a floresta significa três coisas: em primeiro lugar, um corte com o isolacionismo «português», que esteve na base da ditadura fascista; em segundo lugar, um corte também com um certo isolacionismo, que, por contraposição, esteve na base de um certo antifascismo de que VV. Ex.ªs, são os melhores representantes ...

O Sr. José Magalhães (PCP): - Muito obrigado!

O Orador: - ...; e, em terceiro lugar, que com a adesão de Portugal à CEE e com a nossa integração europeia se abre caminho a todos os processos ou a todas as opções de vida democrática para Portugal, mas fecha-se, para sempre, o caminho a todas as opções totalitárias para Portugal VV. Ex.ªs, perderam o emprego.

Aplausos do PS, do PSD e do CDS.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Com que então não interessa o vinho Verdet....

O Sr. José Magalhães (PCP): - Nem a beterraba? ...

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção tem a palavra o Sr. Deputado José Augusto Seabra.

O Sr. José Augusto Seabra (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Talvez não seja mau no momento em que se exacerba um nacionalismo serôdio nos dois quadrantes opostos da vida política nacional, os quadrantes extremistas, lembrarmos as palavras de um grande patriota e grande deputado desta Câmara, nos seus primórdios, no liberalismo: Almeida Garrett.
Escrevia ele em Portugal na Balança da Europa:
Para julgarmos qual deva ser a posição que a Portugal convenha na nova ordem do mundo político, para conhecermos o que lhe convém ser e ele pode ser na nova balança da Europa, cumpre examinar a natureza dessa nova ordem de coisas.
O romântico Garrett, que defendeu na Europa de então a independência nacional, compreendia que só num quadro global, europeu, é que o liberalismo, que já tinha sofrido a primeira derrota depois da Revolução de 1820, poderia vir a alcançar uma nova vitória.
Gostaria de dizer que também neste momento é importante que nos demos conta de que não há incompatibilidade entre a defesa da europeização de Portugal e a defesa da Pátria, a defesa dos interesses nacionais.
Não vou ao ponto de dizer, como Eduardo Lourenço, que somos europeus a tal ponto que para nós a Europa é uma Hipereuropa. Não vou a esse ponto, mas penso que Eduardo Lourenço põe um problema: é que somos europeus, como aliás dizia Afonso Duarte, que já várias vezes aqui citei, «num canto qualquer de Portugal».
Poderíamos traçar a história da ideia da Europa no nosso pais, desde a Idade Média, passando, por exemplo, pelo Renascimento, em que tivemos o maior poeta europeu - Camões -, poderíamos mostrar que a Restauração, o século XVIII, depois o século XIX, foram uma caminhada no sentido, da Europa, após termos conseguido a nossa independência nacional.
Gostaria, porém, de me situar só neste século e lembrar que a primeira grande geração europeia foi a geração modernista, a geração de Pessoa, de Sá-Carneiro, de Almada Negreiros» que depois a geração da Presença assumiu também a ideia de Europa. E não posso deixar hoje, aqui, de- recordar esse belo poema, esse belo livro de Adolfo Casais Monteiro, Europa, escrito no momento em que se tinha vencido a Segunda Guerra Mundial, com as ideias da liberdade e da democracia mas também com a esperança, para Portugal, de entrar no concerto das nações.
Não posso deixar de lembrar também que foram gerações e gerações de intelectuais emigrados politicamente que começaram a viver não apenas uma Europa mas numa Europa - e honro-me de ter sido daqueles que assumiram então a condição de europeus.
Mas - e para que os Srs. Deputados que falam do concreto tenham também um momento de reflexão - se hoje quiséssemos mostrar as vantagens no domínio educativo e cultural da Europa poderíamos apontá-las nitidamente. Ainda recentemente uma resolução do Parlamento Europeu, de Dezembro de 1984, votou, por exemplo, o aumento do crédito para a inserção no ensino das novas tecnologias, para a criação dos centros de formação profissional e para o apoio à luta contra o desemprego juvenil. Ora, vamos inserir-nos nesse movimento, o que tentámos fazer no Governo, em tal domínio, com uma viragem no sentido de aproximação aos países europeus.
Apenas queria lembrar que enquanto a maioria dos países europeus tem hoje um ensino técnico-profissional de cerca de 60 % a 80 % no ensino secundário terminal, nós estamos na posição inversa e temos de fazer uma mudança.
Também no domínio do ensino superior queria lembrar que a recente realização dá Conferência sobre as Universidades do Ano 2000, em Estrasburgo, mostrou claramente quais as vantagens da Europa como, por exemplo, o favorecimento da mobilidade dos professores e dos investigadores, o favorecimento da compreensão entre os estudiosos europeus das línguas, das literaturas, das ciências humanas, o favorecimento do estudo da problemática europeia, quer no âmbito geográfico, quer histórico, quer antropológico, quer sociológico, o favorecimento de uma educação cívica europeia - educação essa bem necessária no nosso país 10 anos depois de termos conquistado a liberdade - e, em suma, o favorecimento de um estudo da própria ideia de Europa.
Finalmente, no plano cultural, gostaria de dizer que a mobilidade na circulação dos bens culturais nos vai trazer imensos benefícios. É claro que poderemos pôr o problema de saber se a implantação de estabelecimentos em Portugal no domínio editorial, cinematográfico ou discográfico, trará algumas dificuldades de adaptação às estruturas homólogas do nosso país. Não é, no entanto, isolando-nos, não é fechando-nos, sobre nós