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19 DE JUNHO DE 1985

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trióticas, com grandes projectos e muitos que iam desde a pacificação social até ao desenvolvimento e à modernização do nosso país.
Mas para além desta falta de razões, o Governo não veio aqui dizer qual a alternativa. Dá ideia que a ruptura foi inconsciente, e a inconsciência é o outro nome real e consciente do «fado» e do «destino».
Rompeu-se um acordo solene de governo, sem razões nem alternativas, como se a honra - a honra, repito-o - de um compromisso público com o povo português e com o Parlamento nacional fosse apenas uma virtude reaccionária e ultrapassada.

O Sr. Luís Beiroco (CDS): - Muito bem!

O Orador: - Qual passará a ser o valor da verdade em política? Não será estranho que em Portugal o provocador das crises continue a ser o Governo? Não será estranho que em Portugal esses mesmos governos - ainda por cima dos partidos maioritários - não precisem de as explicar nem sequer de apresentar no seu Parlamento as soluções alternativas?

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Não foram sugeridas novas maiorias, e quando o Partido Social-Democrata e o Partido Socialista admitiram eleições gerais, foi apenas por terem percebido, ainda que tardiamente, que eram eles próprios que tinham dissolvido o Parlamento, no qual tinham sido durante 2 anos, à moda antiga, o rei e a rainha.
Sem razões nem alternativas claras aqui, nesta Casa, claramente explicadas, a crise que acaba de ser gerada tem muito de semelhante à crise pela crise. Talvez seja até verdade - e é um motivo de reflexão importante para nós o saber se há 10 anos em Portugal os dois maiores partidos portugueses se não mantêm no poder apenas abrindo crises e vivendo da crise permanente de quem a paga neste país.

Aplausos do CDS.

É por isso que não têm razão aqueles que acusam o CDS de ser muito exigente nas condições que apresenta para voltar ao governo. A razão é simples: é esse o único modo que temos de combater a leviandade com que outros abandonam o governo, é essa a única garantia que podemos oferecer de que uma vez chegados ao governo ...

Risos do PS.

... não desertaremos.

O Sr. Manuel Moreira (PSD): - Assim não vai lá!

O Orador: - O terceiro facto estranho desta crise é o de que o abandono deste Governo está a ser feito em debandada e sem balanço prévio. Além da irresponsabilidade, há aqui uma incoerência patente. O Sr. Primeiro-Ministro, o Partido Socialista, e o Partido Social-Democrata chegaram ao Governo a pedir um discurso sobre o estado da Nação, a clamar contra a herança recebida e a pedir que essa herança fosse recebida a título de inventário. Pediu-se até a convocação do Conselho de Estado para atestar o estado a que teria chegado o País.

O mínimo de hombridade, Sr. Primeiro-Ministro, o mínimo de hombridade, Srs. Deputados da maioria, era que o Partido Socialista e o Partido Social-Democrata viessem aqui dizer o triste estado em que agora deixam o País.

O Sr. Luís Beiroco (CDS): - Muito bem!

O Orador: - O Partido Social-Democrata já começou a dizer mal do seu Governo durante 6 anos, e implicitamente dos seus Ministros, mas ainda não foi capaz de assumir as responsabilidades pelo pântano que, tanto política como economicamente, ajudou a instalar em Portugal.

Aplausos do CDS.

Agora, Srs. Deputados, que se fala tanto de heranças, jacentes e outras, seria bom que não nos lembrássemos apenas das heranças dos partidos e que nos lembrássemos das heranças jacentes que os partidos do Governo continuam permanentemente a deixar aos Portugueses do futuro, à sua juventude.
O PS e o PSD já foram à televisão vender novas ilusões, seja a do dinheiro que vem da CEE, seja a da social-democracia «à alemã». Mas o País, esse continua na mesma ou cada vez pior e, em qualquer caso, era mais moral que o PS e o PSD fizessem um último gesto de conciliação, um último gesto de humildade, que seria o de serem capazes de, em conjunto e como parceria que foram durante 2 anos, nos explicarem aqui o triste balanço a que levou a sua governação.

Vozes do PS: - Assim não vai lá!

O Orador: - A verdade é que o socialismo e a social-democracia falharam como via para resolver os problemas portugueses e é por isso que se separam, hoje, numa via laxista e dirigista para resolver esses problemas. Mas fazem-no sem a noção de um novo horizonte, de uma nova alternativa que constitua verdadeiramente algo em que os Portugueses possam acreditar de novo.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: É por todas esta razões e pela própria crise institucional, que é patente, que o CDS encarará as próximas eleições legislativas, presidenciais e autárquicas, com espírito de quem quer batalhar por uma nova solução para o nosso país. Ela será para nós inteiramente nova, pelo que não condescenderemos, e não faremos nenhuma concessão sobre este aspecto.
A solução portuguesa só poderá ser encontrada na abertura interna e externa do País, numa alternativa liberal, moderna e europeia, que tem de ser a do Portugal do futuro.
É essa a proposta com que nos apresentamos nesta Assembleia e com que nos apresentaremos ao eleitorado.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, para interpelar o Sr. Deputado Lucas Pires encontram-se inscritos dez Srs. Deputados. Ora, o CDS não tem tempo para responder.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.