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I SÉRIE - NÚMERO 28

ria de entes vizinhos do nosso quotidiano social-histórico das décadas de 30, 40 ou 50: a mulher-a-dias, a padeira, o lojista, os sapateiros, as vendedeiras, figuras em que ecoa a voz do Cesário e andam, de modo diferente, nas páginas de Miguéis ou José Gomes Ferreira; ou, numa ambiência campesina, a moleira, os pastores, os homens, mulheres e crianças de um espaço e uma época de carências e flagelações iníquas.
Povo, pessoas individuais em movimento, porfiando pela sobrevivência entre rudes vicissitudes, habitam a ficção e a poesia prosaizante de Irene, tanto como o imaginário da aldeia, recolhido nas histórias verazes ou fantásticas do entrevado Maurício. Certos dos contos de atmosfera sonhadora, infanto-juvenil ou não, lembram, pelo engenho e pela graciosidade, Hans Andersen ou Grimm e continuam, de maneira notável, caminhos abertos com o surto humanizador da 1.ª República. Assim, em «Uma Mão Cheia de Nada, Outra de Coisa Nenhuma», um dos seus livros mais popularizados, é a pujança da sua capacidade de indagação psicológica, sem quaisquer excessos, que nos surpreende e intimiza com universos anteriores à adultez de tanta e tão contraditória problematicidade.
Raras são as obras da autora disponíveis no mercado. Apesar do lançamento, relativamente recente, de uma colectânea bem estruturada e sucedida, impor-se-ia o estudo aprofundado do seu legado, com vista a uma publicação criteriosa e apoiada. Não está isso, sobretudo, na esfera das competências parlamentares, mas é curial aproveitar o ensejo para aqui hastear este sinal e aglutinar as vontades necessárias. É na sua bibliografia que um escritor vive. Não aceitemos, por incúria, partilhar de uma segunda ou terceira morte de Irene Lisboa, uma das personalidades fecundantes do nosso rico percurso literário.
Bem fez, pois, o Município da Arruda dos Vinhos em promover uma homenagem expressiva à pedagoga e ficcionista sua conterrânea. A ela se associa, na Assembleia da República, através do seu voto, o Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, proclamando o seu empenho em cooperar, pelos métodos e nas circunstâncias azados, em quanto projecte o acervo valioso, imperecível, de Irene Lisboa.

Aplausos do PCP, do PS, do PRD e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Gomes de Almeida.

O Sr. Gomes de Almeida (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O CDS associa-se à homenagem recordatória a Irene Lisboa, a propósito da passagem do 60.º aniversário da publicação da sua primeira obra.
Nascida em Arruda dos Vinhos em 1892, professora primária, formação que viria a reflectir em toda a sua obra, Irene Lisboa notabilizou-se pelo eminente carácter didáctico e pedagógico dos seus trabalhos, que constituíram a afloração importante da personalidade feminina num mundo cultural que, ao tempo, era pouco propício à afirmação da mulher.
Não terá sido porventura um espirito genial; foi, contudo, uma personalidade exemplar na sua persistência e na sua afeição a Lisboa, que tanto lhe deve como cronista que foi do seu quotidiano.
A actualidade da sua obra resulta do estilo simples e discreto que fizeram de Irene Lisboa uma referência importante da língua portuguesa, especialmente para a nossa juventude.

Recordando esta figura das nossas letras, o meu partido presta tributo assim também à importância do género cultivado pela escritora para a cultura nacional.

Aplausos do CDS, do PSD, do PS e do PRD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Joaquim Domingues.

O Sr. Joaquim Domingues (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A celebração, quase 30 anos após a sua morte, do lançamento do primeiro livro de Irene Lisboa, significa que a escritora e a mulher estão vivas na memória colectiva.
De facto, tanto na vida profissional como na obra escrita - quer a de pendor pedagógico quer a de carácter literário -, Irene Lisboa foi capaz de sublimar em termos de comunicação, de dádiva pessoal e de criação artística o drama da solidão com que se debateu.
É por isso rica de significado a iniciativa do Município de Arruda dos Vinhos homenagear quem nela nasceu, mesmo que a temática dominante da sua obra literária esteja marcada pelo quotidiano lisboeta.
Ao reivindicar algo que considera fazer também parte do seu património, sublinha os múltiplos sinais do crescente papel das autarquias no domínio cultural.
A perspectiva centralista da dinamização cultural passou à história como uma das bizarrias com que alguns iluminados pretenderam combater as trevas alheias, quantas vezes ao serviço de interesses ideológicos e partidários bem conhecidos.
E, embora se deva prevenir a tentação de usar a cultura como investimento de prestígio em que rivalizem os poderes locais, deve reconhecer-se a urgência da descentralização no âmbito da política cultural.
Descentralização que o, Governo vem prosseguindo de forma ponderada, mas segura, como é já patente em diversas medidas e orientações, mas que só poderá revelar uma lógica própria quando se conjugue com o empenhamento dos responsáveis autárquicos, com o dinamismo local, através de iniciativas que correspondam às efectivas motivações de cada comunidade.
Neste entendimento, o Grupo Parlamentar do PSD congratula-se pela homenagem com que o Município de Arruda dos Vinhos celebra a passagem do 60.º aniversário da publicação do primeiro livro de Irene Lisboa.

Aplausos do PSD, dó PS, do PRD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra. o Sr. Deputado Raúl Rêgo.

O Sr. Raúl Rêgo (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PS associa-se ao 60.º aniversário da publicação do primeiro livro de Irene Lisboa, escritora que foi uma pedagoga com o nome de Manuel Soares, que foi uma grande escritora com o nome de João Falco e outros, e que José Gomes Ferreira - como já aqui foi lembrado - considerava a maior escritora portuguesa. Quer dizer, Irene Lisboa foi uma escritora clandestina, porque na clandestinidade viveu, como viveu o País em que ela teve de escrever, em que ela fez a sua vida de professora, de pedagoga e de escritora.
Dentro de quatro anos comemorar-se-á o centenário do seu nascimento e esperamos que o Município de Arruda dos Vinhos tome então a iniciativa de celebrar condignamente Irene Lisboa pelo que ela representou