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5 DE FEVEREIRO DE 1987 1619

chumbou na questão da gestão hospitalar e como atrás - chumbou nas grande opções anuais e a médio prazo e em praticamente todos os campos fundamentais da vida nacional.
O Governo não é capaz de promover a coesão do País, desde logo porque uma política que afronta os trabalhadores mina uma base fundamental para a eficaz defesa da Pátria. O Governo também já provou que não é capaz de assegurar a cooperação dos órgãos de soberania. É um governo de confrontação e rebeldia institucional, de que mais uma vez deu mostras.
Está feita e refeita a prova de que este governo não serve, tem que ser destituído e substituído. O País já dispensa outras provas.
Seja como for, pela nossa parte continuaremos a dar o nosso concurso nos debates que vão seguir-se, não apenas para que essa prova seja feita de forma ainda mais exaustiva, mas para que se vão também afirmando as grandes linhas de uma política alternativa.
Interviemos no debate de hoje com a sobriedade e a responsabilidade com que sempre tratámos, desde o 25 de Abril, das questões das Forças Armadas e da defesa nacional.
Entendemos que, procedendo assim, temos contribuído para a estabilidade do regime democrático, a elevação dos sentimentos patrióticos do nosso povo e a defesa da unidade da Pátria e da independência nacional.
É com o mesmo espírito que dizemos agora que a Assembleia da República não se pode limitar a dizer «não» à política deste governo, tem que ser capaz de dizer «sim» a um novo governo e a uma nova política.

Aplausos do PCP e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Gonçalves.

A Sr.ª Ana Gonçalves (PRD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Três em cada dez jovens consideram que Portugal é um país em que dá gosto viver.
Cerca de dois em cada dez vivem em Portugal porque ainda não conseguiram sair, o que declaram fazer na primeira oportunidade.
Os restantes acham que este é um país em que se vive simplesmente porque é o nosso.
Significa isto que mais de metade da população juvenil, entre os 15 e os 24 anos (cerca de 68,5 %) manifesta indiferença pelo nosso país ou, indo mais longe, anseia pela troca das fronteiras portuguesas por outras.
Estes são os resultados de um inquérito a jovens levado a cabo em 1983 pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, sobre valores da juventude portuguesa.
Resultados que deverão ser objecto de aturada análise por todos os que, detendo parcelas de poder efectivo, poderão contribuir para mudar o actual estado de coisas.
Resultados que, sem surpresa mas com tristeza, constatamos estarem intimamente ligados ao quadro de vida que Portugal oferece aos seus jovens.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, poder-se-á perguntar com alguma estranheza por que são trazidos à colação, numa interpelação sobre defesa nacional, os dados referentes a um inquérito relativo ao que os jovens pensam de Portugal enquanto espaço de vida individual e colectiva.

Nada, responderão alguns. Muito, poderão também responder outros.

Penso que efectivamente muito tem a ver.
Senão vejamos: qualquer política de defesa nacional tem um pressuposto fundamental: a coesão de uma comunidade, o desejo de um povo, a vontade nacional de proteger os seus valores, cultura, identidade própria face a hipotéticas ou reais agressões ou ameaças externas.
É assim a defesa nacional indissociável da vontade nacional, da mobilização de um povo que acredita nos valores que o individualizam e que por isso os quer defender.
O gosto de se ser português e o desejo de continuar português são condicionantes da defesa das nossas fronteiras.
As novas gerações assumirão sempre um papel determinante na continuidade do País, pois a eles caberá defendê-lo.
Daí que se possa com pertinência, afirmar que só faz sentido defender um país se ele criar um quadro de vida que propicie ou permita às novas gerações e às gerações futuras preocuparem-se com a sua defesa, pois serão essas gerações que, recebendo o legado histórico, o deverão continuar.
Sr. Ministro da Defesa, quando os jovens são hoje tratados como quase elementos periféricos ou marginais à própria sociedade, poder-se-á moralmente exigir-se-lhes que defendam esta nação que é também a sua?
E que o façam com patriótico orgulho de ser português?
Que tipo de país se oferece aos jovens portugueses? Oferecerá Portugal aos jovens cidadãos condições de vida, repito, condições de vida, em contraposição a condições de sobrevivência, minimamente satisfatórias por forma a manter o tal gosto de se ser português?
Começo por referir o ensino, em que a famigerada reforma tanto tarda em se sentir.
Desde o ensino secundário arquitectado em termos de saída para o ensino universitário, sendo que para os jovens que não ingressam na universidade é a frustração, o marasmo, os chamados tempos livres, demasiado livres, aliás. Para os jovens que ingressam na universidade é a frustração adiada por cinco ou seis anos.
Numa outra perspectiva, o ensino, desde o básico ao secundário, assumindo-se como um sistema de funil, empurrando os jovens para a universidade e impondo-lhes, para aí entrar, os limitativos numerus clausus, vem reforçar o individualismo dos jovens, incentivar a desenfreada competitividade em detrimento de sãos e fundamentais valores como a solidariedade e a coesão.
É o primeiro emprego que não se consegue e quando se consegue é inevitavelmente precário.
É o desemprego juvenil a afligir 64% do total dos desempregados.
É todo um universo de jovens dos meios rurais que vêem o seu acesso à terra bloqueado, quando a eles caberia, porque receptivos à inovação e à modernização, num quadro de uma política agrícola coerentemente delineada e correctamente implementada, um papel dinamizador da reforma de toda a estrutura agrária portuguesa.
É a vulnerabilidade do jovem perante solicitações marginais na sociedade, desde o consumo de drogas até à delinquência juvenil.