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2176 I SÉRIE - NÚMERO 56

O Sr. Embaixador de Portugal, que estava ao meu lado e que durante esta meia hora trocou também impressões sobre o programa, não me disse nada, não me referiu qualquer elemento que de, algum modo, pudesse pôr em dúvida a confirmação da concordância quanto ao programa que nos havia sido dado.
Quando nos levantámos recebi um recado. Não posso precisar quem mo deu, mas penso que foi o Sr. Secretário da Embaixada. Veio dizer-me que o Sr. Deputado António Capucho tinha um recado urgente para mim, mas que não era grave. Suponho que este, "não era grave", era tão-só para travar a minha imaginação quanto a possíveis tragédias que, infelizmente, me têm acontecido sempre que vou ao estrangeiro uma quando estava em Berlim, que é do conhecimento geral, e outra quando estava na Dinamarca, que me obrigou a cancelar a viagem e a regressar, por razões que todos os Srs. Deputados conhecem.
Não era nada de grave, disseram-me, certamente por amabilidade e generosidade; para que eu não permitisse que a minha fantasia voasse para os domínios, da tragédia...
Fomos para o hotel, onde chegámos cerca da meia-noite, para jantar. Estávamos no fim do jantar, seriam já 24 horas e 30 minutos - hora de MOSCOVO-, quando recebi a notícia de que o Sr. Embaixador me pedia uma audiência, ao que anui, dizendo:

Sim senhor, então o Sr. Embaixador que esteja aqui no hotel dentro de 20 minutos.

Efectivamente, 20 minutos depois o Sr. Embaixador, acompanhado do Sr. Conselheiro da Embaixada, estava nas instalações que me haviam sido destinadas. Entretanto, e antes de eles estarem presentes, tive oportunidade de fazer o telefonema ao Sr. Deputado António Capucho, que, mais ou menos nos termos que passo a referir - posso não ser tão fiel quanto o necessário no que respeita às palavras, mas, no fundo, o que importa é a ideia -, me alertou para o facto de existirem algumas preocupações entre os deputados da Assembleia da República (e indicou-me o nome de dois Srs. Deputados que fixei, mas além destes outros havia) quanto à nossa viagem à Estónia e que bom seria que cancelássemos essa viagem.
Perante todo o cenário que vos descrevi e no estado emocional que estávamos vivendo - de alegria pela visita que estávamos fazendo à URSS -, disse ao Sr. Deputado António Capucho que me parecia ser difícil tomar essa resolução, tanto mais que, não conhecíamos razões fundas que tivessem um tal carácter de seriedade que nos inibissem de prosseguir a viagem até à Estónia. Mas iria falar com os Srs. Deputados que constituíam a delegação para se resolver qual a atitude a tomar.
Minutos depois entrou o Sr. Embaixador de Portugal em Moscovo, acompanhado do Sr. Conselheiro da Embaixada, para me dar a notícia - e notem bem, Srs. Deputados -, de dois telegramas: um deles que não sabiam ainda bem ao que se referia, porque se reportava a correspondência enviada através da mala diplomática e que ainda não tinha chegado a Moscovo; o outro era um telex que, recomendava ao Presidente da Assembleia da República, necessariamente à dele-gação, que cancelasse a última parte da viagem, ou seja, a ida à Estónia, na sequência, pois, do telefonema que fiz ao Sr. Deputado António Capucho.
Daí a minha surpresa, porque não entendia que tão-só por razões de Estado a delegação tivesse que cancelar o programa com o qual havia concordado. Tive-mos uma longa conversa, de cerca de hora e meia, procurando esclarecer os motivos pelos quais havia essa razão de Estado. E o que é verdadeiramente surpreendente, Srs. Deputados, é que o nosso Embaixador, a nossa Embaixada, que tem a obrigação de conhecer todo o relacionamento escondido, ou patente, a descoberto ou frontal, entre Portugal e a URSS, desconhecia totalmente a existência de qualquer reserva em relação às repúblicas do Báltico.
Mas como é isto possível, Sr. Embaixador? Perguntei eu. A Embaixada não conhece, não tem nenhum elemento, que possa esclarecer o Sr. Presidente acerca das razões que teriam levado o Ministro dos Negócios Estrangeiros a fazer esta recomendação por telex, respondeu-me o Sr. Embaixador.
Nesta ambiência do desconhecido e porque como Deputado não aceito facilmente o argumento "razão de Estado"sem que conheça os correspondentes fundamentos, sob pena de ser julgado um "pau mandado"...

Aplausos do PS, do PRD, do PCP, do CDS e do MDP/CDE.

... e eu não poderia aceitar a secura de tão directa como curta notícia. "Dê-me uma fotocópia desses telexes para poder conversar com os meus companheiros
acerca dessa posição", pedi eu. E com que mágoa, Srs. Deputados, e com que tristeza o digo, o Sr. Embaixador, invocando o secretismo dessas relações,
referindo que os telexes eram secretos e confidenciais, não me forneceu a cópia desses documentos.

Vozes do PS e do PCP: - Que vergonha!

O Orador: - É uma situação tão insólita perante o Presidente da Assembleia da República que não posso, sem um grave protesto, deixar de afirmar que, pelo menos, é estranho um comportamento de tal ordem, perante documentos que, ao fim e ao cabo, nos diziam ,directamente respeito.

Aplausos do PS, do PRD, do PCP, do CDS e do MDP/CDE.

Depois dessa longa conversa, o Sr. Conselheiro da Embaixada com uma riqueza de sugestões e de razões que se ficavam apenas e tão-só, na fantasia da inteligência dos factos, encontrou como solução a menos desairosa - é este o termo -, ou seja: a de ir dizer no dia seguinte que, por razões de Estado, me via colocado na necessidade de cancelar a última parte dá visita. "Não, Sr. Conselheiro, eu não actuo em posições desairosas; actuo frontalmente! Procure os argumentos, diga as razões, diga onde e como é que o Governo Português tornou posições, sobre esse problema. Mas também tem que me explicar por que é que a Embaixada, que tem especial obrigação - e este parece-me ser um princípio irrecusável e de tal modo evidente que será estultícia da minha parte continuar a repisá-lo - já que- está ali, precisamente, para providenciar, conhecer e saber do trato dos problemas entre Portugal e a URSS não foi capaz de dizer nada, na medida em que não conhecia nada, sobre tal matéria porque o Governo nunca lhe participara tal."