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3648 I SÉRIE- NÚMERO 76

Portanto, penso que tem de haver uma enorme sensibilidade, até porque, digo-lhe sinceramente, com isto não quero que Portugal aceite que a sua língua, que ainda tem potencialidades muito grandes desenvolvimento, seja transformada numa língua de museu. Devo dizer-lhe que, em relação à política cultural dos últimos anos, muito do dinheiro gasto com actividades ditas de promoção da língua e para utilizar uma expressão que usávamos quando éramos pequeninos «quando eu for grande», portanto, se eu fosse grande e tivesse muito dinheiro, mandava fazer um dicionário de português «a sério» coisa que não temos. É mais importante um verdadeiro dicionário de português do que dezenas de acções disparatas, díspares, aleatórias que se vão fazendo em prol da língua portuguesa. Há duzentos anos começou a fazer-se um dicionário da língua portuguesa que ficou na letra «A»; há quinze anos recomeçou-se e ficou-se na letra «A», não se chegou ao «B»!...

O Sr. Pacheco Pereira (PSD):- Ficou em «A»/«Azurate».

O Orador: - ..., nem sequer se deve ter acabado a letra «A» toda, deve faltar qualquer coisa.
Ora bem, isso é indispensável. Nós não temos um verdadeiro vocabulário científico português como uma série de línguas têm.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Não temos um dicionário técnico!

O Orador: - ..., não temos sequer um dicionário...
Veja-se o que aconteceu agora em Inglaterra, embora não queira comparar o que não deve ser comparável, com o Dicionário Oxford inglês, cuja segunda edição acaba de sair, que é de facto uma obra sensacional em vinte volumes. Esta obra, nos próximos 30 anos, vai fazer pela língua inglesa o que dezenas de acordos ortográficos e o que dezenas de «dinheiros» gastos com a promoção disto, daquilo e daqueloutro não conseguem fazer...
O indispensável para a língua, a meu ver são as obras de fundo, as obras de estrutura, nomeadamente um grande dicionário de português, com o qual se podiam gastar centenas de milhares de contos - e sublinho, centenas de milhares de contos - que não havia um tostão perdido, com uma grande equipa formada pelas Academias e Universidades, durante 5 ou 10 anos, a fim de preparar o grande dicionário da língua portuguesa. Isto é mil vezes mais importante do que as polémicas sobre o acordo ortográfico, que nos entretiveram tanto durante os últimos 4 ou 5 anos, mas que foram o entretenimento dos pobres. Entretivemo-nos com o acordo ortográfico porque não tínhamos um dicionário a sério, porque se o tivéssemos o acordo ortográfico não era sequer um problema, não era sequer uma questão.
Vamos gastar fundos com um grande vocabulário, vamos defender a língua portuguesa; agora, não vamos é levar o exagero até ao provincianismo, até ao paroquianismo, porque, de facto, quem perde com isso somos nós. Isto porque depois aquelas teses aqueles trabalhos científicos que se deviam fazer não se farão, de maneira alguma. Se lhes for imposto o português, não só não se farão como, pior ainda, alguns dos bons investigadores portugueses terão de se ir embora.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário Estado da Integração Europeia.

O Sr. Secretário de Estado da Integração Europeia: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quanto ao essencial, a convergência parece ser total e essencial é que a adesão de Portugal ao Instituto Europeu Universitário de Florença é uma coisa boa para o nosso país, é bom para a Europa e para Portugal. Como de resto, muito bem disse o Sr. Deputado Gomes da Silva, é mais uma oportunidade para fazermos vingar a diversidade, da cultura europeia numa instituição que se preocupa com a dimensão europeia dá cultura.
Temos os nossos valores que serão tanto mais afirmados - como todos, de resto, reconheceram de uma forma ou de outra -, quanto mais participarmos activamente nas entidades e instituições que lutam pelo progresso da construção europeia.
E o essencial é também, como foi dito unanimemente, participação activa das Universidades, da comunidade científica nacional neste instituto em que vamos participar, pela primeira vez. Também aí, naturalmente, se existe um desafio para a Universidade em geral, o Governo não se demitirá do papel que lhe cabe e que é importante, como aqui foi referido, em termos de divulgação, de dinamização, de chamar a atenção para essa nova realidade, para essas novas oportunidades que são abertas por este instituto. De resto, a prova também já aqui foi mencionada pelo Sr. Deputado Narana Coissoró, quando afirmou que já há vários portugueses, vários investigadores a participar activamente, mesmo antes, da adesão, neste instituto. Esta é a demonstração de que procurámos, por todos os meios ao nosso alcance, fazer a divulgação necessária nesta matéria.
E o essencial é também, finalmente, que desta iniciativa da adesão do nosso país ao Instituto de Florença surjam, por inércia, novas iniciativas, novas apostas, já que foram levantadas algumas. Julgo que isso é positivo e é bom que aconteça, pois, não cabe apenas ao Governo, como é evidente, lançar novas iniciativas num projecto que, ao fim ao cabo, é de todos.
Quanto ao essencial, Sr. Presidente e Srs. Deputados, creio que podemos dizer que estamos todos de acordo.
Quanto ao acessório, ao secundário, apenas uma referência final, que me parece a mais importante, dado que algumas dúvidas surgiram relativamente ao facto de aderirmos, só nesta altura e, aparentemente, com algum atraso.
A este propósito, eu gostaria de chamar a atenção para a circunstância de que, em anteriores casos, foi sempre normal haver um intervalo de tempo entre a adesão às Comunidades Europeias e a adesão ao Instituto. Assim aconteceu com o Reino Unido, com a Dinamarca, com a Irlanda, com a Grécia, com a Espanha e com Portugal.
Mas a razão deste atraso radica essencialmente no facto de em 1985 o Governo ter optado, talvez bem, por dar início a um processo de cooperação em vez de dar início, desde logo, às iniciativas para uma adesão formal do País ao Instituto de Florença.