O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3848 I SÉRIE - NÚMERO 79

De todo o modo, o Sr. Deputado, com a emoção que lhe é conhecida e que respeitamos, com o empenho pessoal que é conhecido e que respeitamos, fez, mais uma vez, a história do seu percurso pessoal e da sua vivência pessoal ao longo dos anos conturbados desde o 25 de Abril. Disse, porém, uma coisa que não pode passar sem uma nossa observação e sem a nossa discordância muito firme. O Sr. Deputado disse, com o ar mais singelo e mais evidente do mundo, que o primeiro pacto visava apenas...
Quer falar, Sr. Deputado José Magalhães?

O Sr. José Magalhães (PCP): - Não, Sr. Deputado. Estou a acompanhá-lo com entusiasmo.

O Orador: - Gosto disso!

O Sr. Deputado Marques Júnior disse, com o ar mais ingénuo e mais inocente do mundo, que o primeiro pacto visava apenas garantir eleições e nada mais! O primeiro pacto tratava apenas de garantir eleições e só isto, concluiu o Sr. Deputado Marques Júnior,...

A Sr.ª Presidente: - Terminou o seu tempo, Sr. Deputado, queira terminar.

O Orador: - ... esquecendo que do que se tratava era de fazer eleições que não eram eleições, que do que se tratava era de escolher aquilo que não se podia escolher! Isto porque o primeiro pacto, como os senhores reconheceram quando acederam a negociar o segundo, não dava escolha nenhuma.
De que eleições se tratava? Tratava-se de eleições para a Assembleia Constituinte, tratava-se, portanto, de eleições para um órgão que havia de modelar a estrutura política, cultural e social de Portugal do futuro. Mas que hipóteses restavam aos partidos? Não restavam hipóteses nenhumas!... No pacto estava conformado tudo o que tinha a ver com a organização económica, tudo aquilo que tinha a ver com os modelos de sociedade. Todos os partidos unham que respeitar a ir reversibilidade das nacionalizações, todos tinham de ser socialistas, todos tinham que propor o caminho do avanço para o socialismo... Que eleições eram estas, Sr. Deputado?
Que o Sr. Deputado diga, como disse em parte da sua intervenção, que há que reconhecer os erros que todos cometemos - na verdade, todos cometemos erros, todos temos alguma coisa a ver com isso - é uma coisa. Agora vir aqui, com esse ar tão inocente, dizer que do que se tratava era apenas de garantir eleições, é outra coisa! O que o pacto garantia era eleições que não o eram!... O que ele garantia eram eleições que não eram escolha!...
Eleger significa escolher, o étimo é exactamente o mesmo e o Sr. Deputado, na medida em que ainda se louva do primeiro pacto, está a louvar-se de uma postura que imporia aos partidos, verdadeiros representantes de correntes de opinião e de correntes de projectos de organização social, que fossem eleitos para que todos escolhessem e votassem o mesmo. Era isso o que o MFA queria!... O primeiro pacto é isto, Sr. Deputado, o resto é mistificação! E a prova disso é a elaboração de um segundo pacto.
Vozes do PSD: - Muito bem!

A Sr.ª Presidente: - Sr. Deputado Marques Júnior pretende responder já ou responde no final dos pedidos de esclarecimento?

O Sr. Marques Júnior (PRD): - Respondo já, Sr.ª Presidente.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Responda no final, Sr. Deputado, pois vou pedir-lhe esclarecimentos sobre o mesmo assunto.

O Sr. Marques Júnior (PRD): - Está bem, mas desejo responder já ao Sr. Deputado Costa Andrade.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Marques Júnior (PRD): - O Sr. Deputado Costa Andrade, de uma forma sistemática, invoca esta questão de uma maneira que me parece desajustada. Isso começa a preocupar-me e gostaria de tentar eliminar este problema de uma vez por todas..
Voz inaudível do deputado Costa Andrade (PSD).

O Orador: - Não é verdade, Sr. Deputado Costa Andrade, mas deixe-me explicar.
Comecei por dizer que foi o Sr. Deputado Rui Machete que ontem, numa intervenção que produziu, resolveu fazer a historia deste período, não fui eu. Portanto, o Sr. Deputado Costa Andrade não me pode negar a legitimidade de fazer a minha história desse período, e devo dizer-lhe que não falei em termos pessoais, não falei no meu percurso. Deixe-me explicar isso.
O Sr. Deputado Rui Machete é uma das pessoas que mais respeito nesta Câmara, é uma pessoa intelectualmente honesta e, portanto, reconheço que o que ele disse não foi em termos negativos mas teve o objectivo de historiar, dando , naturalmente, um cunho pessoal à sua interpretação, com a qual, nalguns pontos, nem sequer é em todos, estou em desacordo, Sr. Deputado Costa Andrade.
Quando falei no primeiro pacto, não foi para me louvar nele; se assim pensou, penitencio-me, pois não foi essa a minha intenção, não foi isso que eu quis dizer.
Tal como o Sr. Deputado Costa Andrade, louvo-me no primeiro pacto, louvo-me no segundo e louvo-me depois por não haver pacto. É ou não verdade que o Sr. Deputado assinou o primeiro e o segundo pactos e que acabou com todos os pactos? Louvamo-nos todos, Sr. Deputado Costa Andrade!...
O que não pode ter é uma visão distorcida desta realidade. É só isso, Sr. Deputado! Sei que cambem defendeu o 25 de Abril e que lutou por ele. Defendemos os dois, provavelmente com pequenas diferenças entre um e outro. Não podemos fazer - e o Sr. Deputado Herculano Pombo encontrou uma expressão feliz, quando se referiu à avestruz - é, tal como a avestruz quando põe a cabeça na areia, esbracejar de uma tal maneira que nos faz ignorar outras realidades.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Muito bem!

O Orador: - É só isso, Sr. Deputado Costa Andrade.