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4618 I SÉRIE - NÚMERO 93

Digo isto porque, efectivamente, o resultado não é para o Partido Socialista um desastre eleitoral mas apenas em termos percentuais. Repito e acentuo: apenas em termos percentuais.
O Partido Socialista, a partir de domingo à noite, e ainda hoje, na intervenção que o Sr. Deputado João Cr avinho aqui fez, apresenta-se festivo, engalanado, mesmo triunfalista, e eu creio que, em democracia, podemos não cultivar a humildade mas já não podemos manipular e esconder factos que são indispensáveis para uma análise política, factos esses que, creio, terão de ser lembrados neste momento.
Em primeiro lugar, até agora o Partido Socialista (só há pouco desfez isso) quis esconder o acordo que fez com o PRD e apresentou-se como se todos os votos lhe pertencessem. Ora, Sr. Deputado João Cravinho, penso que não é bonito esconder alianças e aliados e penso que é mesmo feio apresentar, como votos próprios, aqueles que são de um conjunto. Creio que mesmo - e não quero falar em ética política - que há princípios a respeitar e, neste momento, alguns deles foram esquecidos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Em segundo lugar, Sr. Deputado João Cravinho, o Partido Socialista quis dar a ideia de que tinha ganho votos e quer difundir essa ilusão. Ora, os números são impiedosos: em 1976, para o Parlamento Europeu, sozinho, o Partido Socialista teve l milhão e 260 mil votos; em 1989, com o PRD teve apenas l milhão e 160 mil votos. Ó Partido Socialista perdeu, não ganhou eleitores. Esconder esse facto, Sr. Deputado João Cravinho, é que é atirar areia para os nossos olhos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Em terceiro lugar, Sr. Deputado João Cravinho, sabemos que, em todos os estados comunitários, a abstenção para o Parlamento Europeu foi enorme, muito grande, muito acentuada. Será que a grande abstenção, em Portugal, foi uma penalização para o Governo? Creio que é uma pergunta legítima. Mas para a fazer, e principalmente para responder-lhe com seriedade, é preciso acrescentar que essa abstenção exagerada ocorreu em iodos os países da Comunidade e que, em todos esses países, os partidos dos respectivos governos foram prejudicados com a abstenção. Ora, não ouvi os deputados do Partido Socialista, nas suas intervenções, nomeadamente o Sr. Deputado João Cravinho, na intervenção feita há pouco, referir o caso, entre outros, do Governo socialista francês em que o próprio Partido Socialista teve uma percentagem a baixo do nível da oposição, como o Sr. Deputado sabe.
Creio que há um facto irrefutável - e só ficaria bem ao Partido Socialista falar nele - que o PSD continua a ser a primeira força política, continua a ser o primeiro partido, e, portanto, não perdeu as eleições. Pode não as ter ganho, mas não as perdeu.
A Sr.ª Presidente: - Sr. Deputado, peço-lhe o favor de terminar, uma vez que já excedeu o tempo de que dispõe.

O Orador: - Termino já, Sr. Presidente.
Sr. Deputado João Cravinho quis dar uma visão simplista de uma questão muito complexa, que exige uma análise aprofundada, e eu, entre muitos outros factos, vou só indicar dois, como contribuição para essa análise mais aprofundada.
Primeiro, todos os partidos portugueses perderam eleitores nas eleições realizadas há dois dias. Repito: todos os partidos perderam eleitores. Pergunto ao Sr. Deputado: pode dizer-se que algum partido ganhou?
Segundo, em todos os países da Comunidade Económica Europeia, a abstenção foi elevadíssima, foi, aliás, um fenómeno geral da Comunidade Económica Europeia. Pergunto: tendo ocorrido também em Portugal esse fenómeno, pode dar-se um sentido próprio e específico de penalização do Governo?
Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Encarnação.

O Sr. Carlos Encarnação (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado João Cravinho, gostaria, em primeiro lugar de dirigir-lhe uma palavra especial porque, depois da sua brilhante reconversão ao novo paradigma económico, vê abrirem-se-lhe as portas de Estrasburgo, e não somos nós, com certeza, que deixamos de dar-lhe os nossos parabéns por isso. V. Ex.ª merece-o bem, quanto mais não seja pelo seu esforço da actualização.
Sob a forma de um brevíssimo comentário em relação ao resultado destas eleições, gostaria de dizer-lhe que as oposições parecem felizes. Com metade dos portugueses em casa e entuasiasmando as oposições a massa eleitoral, como entusiasmaram, a sua interpretação foi esta: o Partido Socialista e a CDU cresceram dois pontos percentuais e isso foi brilhante, foi obra. É evidente que aqui o Sr. Deputado Adriano Moreira não acompanha - e muito bem! - este entusiasmado das oposições. Isto porque o Sr. Deputado Adriano Moreira tem o sentido de Estado e, na verdade, aquilo que preocupa esse Sr. Deputado também a mim preocupa, que é a enormíssima taxa de abstenção que o eleitorado, nesta altura, demonstrou. Penso que VV. Ex.ª, das restantes oposições, deveriam ter começado as suas intervenções com uma referência a este facto. Não vos ficaria nada mal!...
Gostaria de dizer que, do ponto de vista do Partido Socialista, o que mais me preocupa é aquilo que pode se recuperar num velho euforismo popular: «O pior cego é aquele que não quer ver.» O que acontece é que o Partido Social-Democrata, sendo governo há mais de quatro anos, em três consultas eleitorais de nível nacional vem sendo sucessivamente o partido mais votado, o que nunca aconteceu ao Partido Socialista. O Partido Socialista foi penalizado pelo eleitorado, que mudou o seu sentido de voto, não se absteve, não ficou em casa VV. Ex.ª podem estar preocupados com isto, porque, na verdade, ainda não foi desta que o povo deu razão a outros nem que se demonstra que os outros tiveram razão nesta consulta eleitoral.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Por último, gostaria de dizer que os Srs. Deputados António Guterres e João Cravinho fazem uma dupla extraordinária, porque se completam