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21 DE JUNHO DE 1989 4619

um ao outro. O Sr. Deputado António Guterres disse há pouco tempo que quem ganha afirma e quem perde explica.
O Partido Socialista queria 30% e, depois destas eleições, amareleceu as suas expectativas, apesar de querer mostrar o cartão amarelo ao Governo. Direi que, se quem perde explica, o Sr. Deputado João Cravinho explicou tudo suficientemente bem.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Deputado João Cravinho, sou testemunha e todos o ouvimos na noite do dia das eleições, assim como ao secretário-geral do PS e agora nas suas saudações ao PRD (aliás, ouvi a reportagem do vosso comício no Porto em que, aparentemente; os senhores nem sequer convidaram o PRD a participar na mesa, visto que o deputado Hermínio Martinho estava entre o público, mas não interessa). Refiro-me apenas a esta questão a propósito da lição de moral, de ética e de regras acerca da democracia que o Sr. Deputado nos veio dar; o que é excessivo e o Sr. Deputado tem de compreender que roça quase a provocação. Com os defeitos terrenos que todos temos e o Sr. Deputado e o seu partido também os têm tendo alguns ficado evidentes ontem e anteontem agora vem dar-nos uma lição de moral sobre a ética e, sobre as regras sagradas da democracia?

Sr. Deputado, é evidente que houve uma grande abstenção e que o PSD, relativamente a uma parte do seu eleitorado, não recebeu o seu voto. É, pois, o problema de uma imensa abstenção e não sigo as preocupações estritamente portuguesas do Sr. Deputado Adriano Moreira, uma vez que a nossa abstenção é uma das mais pequenas da Europa, à parte dos países com voto obrigatório. A minha reflexão sobre esta questão seria acerca do futuro da Europa e não acerca do Governo português. De facto, aparentemente, os povos da Europa não estão a correr atrás dessa unidade europeia expressa num voto pretensamente soberano, mas essa é outra matéria.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Quanto à arrogância e à humildade que o Sr. Deputado também veio afirmar-nos, devo dizer que a humildade não é uma palavra mas um comportamento e não basta esconjurar a arrogância para que ela não nos tome. Repare, Sr. Deputado: se, o PSD perdeu e se o PS ganhou, se queremos ter algum apego, o mínimo que seja, às regras sagradas da democracia, por que não está hoje aqui o PS, como fez na Inglaterra o líder da oposição trabalhista, a reclamar a dissolução do Parlamento? Por que é que não está, se os senhores ganharam e se nós perdemos? Por que é que não está, se os senhores são tão fiéis e tão respeitadores das regras da democracia?

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Deputado, vir aqui, em nome da bancada da oposição socialista, dizer «Vocês perderam e nós ganhámos» e, a seguir, não pedir a dissolução
do Parlamento, é não estar a respeitar as regras sagradas da democracia.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Mas desejo-lhe boa viagem para a Europa, porque, decerto, continuará a sua aprendizagem sobre essa matéria.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Delerue.

0 Sr. Nuno Delerue (PSD): - Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Cravinho: Está praticamente tudo dito, apenas queria fazer um raciocínio e pedir-lhe um comentário.
V. Ex.ª, como de resto outros dirigentes do Partido Socialista, tem feito comparações entre os resultados eleitorais de domingo passado e os de 1987. Compreendo perfeitamente e talvez eu também as fizesse se estivesse no lugar de V. Ex.ª, só que tem azar num aspecto, que é significativo: é que já, em 1987, o Partido Social-Democrata teve 37% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu, no mesmo dia em que houve eleições para a Assembleia da- República.
Pergunto-lhe, Sr. Deputado João Cravinho, se o seguinte raciocínio que vou fazer é correcto ou incorrecto: o PSD desceu - e nós reconhecêmo-lo! - 5 pontos percentuais nestas eleições. Se estivessem em causa eleições para a Assembleia da República, o PSD teria 45% dos votos e isso ainda é maioria!

Vozes do PSD:- Muito bem!

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Natália Correia.

A Sr.ª Natália Correia (PRD): - Sr" Presidente, Sr. Deputado João Cravinho: Tem-se falado muito da abstenção portuguesa, o que, sem dúvida, tem o seu significado penalizador quanto à política governamental, mas não é tudo. Verificou-se, de facto, uma grande abstenção ao nível europeu e; deste fenómeno, parece-me indicado tirar a conclusão de que os que votaram são pessoas motivadas por interesses empresariais, industriais, comerciais, económicos na Europa do Mercado único.
Quanto à Europa dos cidadãos, estes, que não se conformam em ser valores de mercado, desinteressaram-se dessas eleições, pois falta-lhes o atractivo de uma cidadania cultural. É esta a conclusão que tiro da grande abstenção que caracterizou estas eleições europeias, não excluindo, bem entendido, interferências penalizadoras, como em Inglaterra, Portugal, França, etc. Mas a grande razão da abstenção, na sua amplitude, é, quanto a mim, aquela que apontei.
Pergunto-lhe: que futuro para esta Europa pela qual se desinteressam metade dos seus cidadãos?
Resta-me endereçar-lhe os meus votos para que a sua visão cultural,- que frequentemente manifestou acerca da Europa, seja uma bandeira de um combate na sua carreira de deputado europeu por essa Europa civilizacional.

A Sr.ª Presidente: - Srs. Deputados, atingimos já a hora prevista para o encerramento do período de