O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2 DE NOVEMBRO DE 1989 245

O Sr. Silva Marques (PSD): -E por que não?

O Orador: -No entanto, penso que vale a pena tomá-la a sério. Aliás, o Sr. Deputado teve a gentileza de dizer que a minha intervenção sobre a moção de censura unha, pelo menos, a vantagem de uma boa sistematização.

O Sr. Silva Marques (PSD): - É verdade!

O Orador: - Vou recordar-lha. Se ler a minha intervenção, encontrará logo na primeira página a referência aos quatro aspectos fundamentais em que criticamos o Governo: a ausência de uma estratégia de desenvolvimento, o agravamento das injustiças e das desigualdades, o centralismo e vocação autoritária, a falta de transparência da Administração e do próprio Governo.
O Sr. Deputado não respondeu a duas delas -as injustiças e as desigualdades e o centralismo e a vocação autoritária-, pelo que presumo que as aceita, que está de acordo comigo e que considera que este governo agravou as injustiças e as desigualdades, é um governo centralista e tem uma vocação autoritária.
À falta de transparência convenhamos que não respondeu de forma muito convincente. Mas em relação a isso conta pouco o que eu diga ou a sua resposta, pois aí está o dia-a-dia da vida da Administração e do Governo, aí estão os sucessivos escândalos sobre os quais, infelizmente, temos tido de nos debruçar na Assembleia, para provar que quem tem razão sou eu.
Quanto à estratégia de desenvolvimento, fico a saber pela sua intervenção que aquilo de que o País precisa para resolver o círculo vicioso de um país que tem nos baixos salários a sua única vantagem comparativa não é de uma estratégia que articule política educativa com política de formação profissional, com política de apoio ao investimento, de investigação científica ou tecnológica, que aposte numa transformação a prazo dos nossos recursos humanos, na criação de uma capacidade tecnológica, mas de uma estratégia que, afinal de contas, passa apenas, como o Sr. Deputado diz a página 14 da sua intervenção, justificando o Governo, pelo combate da integração europeia, pelo empenho na aproximação dos países de língua oficial portuguesa, pela defesa dos direitos do povo de Timor Leste, pela abertura do diálogo com os países da América Hispânica e pelo lançamento das comemorações dos SOO anos dos Descobrimentos Portugueses (aspecto que tem sido mais caricato que real).
Ora, das quatro acusações que dirigimos à bancada do Governo, duas são dadas como provadas por falta de resposta, uma é irrelevante por aquilo que aqui possa ser dito, pois os factos aí estão para o comprovar, e a resposta que me dá à quarta mais não faz que confirmar as nossas preocupações.

Vozes do PS: - Muito bem!

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Hermínio Martinho.

O Sr. Hermínio Martinho (PRD): - Sr. Deputado Luís Filipe Meneses, ouvi a sua intervenção atentamente, aliás na linha de outras intervenções de colegas seus de bancada, e gostaria de colocar-lhe uma questão.
Sr. Deputado, se tiver dúvidas, talvez me atreva a convidá-lo para um dia destes estar dois ou três dias comigo, como estive agora, em zonas do interior, para
verificar que o descontentamento e a desilusão em relação ao Governo não é só nas áreas dos votantes do CDS, do PRD, do PS, do PCP ou dos independentes, pois verifica-se também em áreas do PSD. Com a sua intervenção, tentando mostrar aqui o que é evidentemente contrário perante os olhos do País, o Sr. Deputado, desculpe a graça, mas acho que o humor também nos faz bem, fez-me lembrar a história do pai que foi ver o juramento de bandeira em que o filho ia com o passo trocado, mas que voltou à aldeia muito orgulhoso, porque em todo aquele desfile a que tinha assistido só o filho é que levava o passo certo.
Bem, é altura de reflectirmos também sobre outras coisas, porque o País espera que o PSD utilize as condições que tem havido em benefício do País e, se o PSD não for capaz de reflectir e de passar a olhar as coisas de outra forma, talvez não seja possível aproveitar convenientemente em benefício dos Portugueses estas condições.
Gostaria de, apesar de tudo, referir-lhe que registei com satisfação que o Sr. Deputado, que já me vai conhecendo, tenha afirmado daquela tribuna -e isso é uma certeza que eu lhe posso dar- que eu e as pessoas que estão no PRD acreditamos no PRD, no seu projecto, e em circunstância alguma voltaremos a cara ou deixaremos de abdicar das forças necessárias para tentar concretizar o projecto do PRD. Mas não pense, no caso concreto da minha candidatura em Lisboa, que ela é feita para servir o PSD ou para servir a direita ...

O Sr. Duarte Lima (PSD): -Não, não...

O Orador:- Não pense nisso. Pode concluir-se ...

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Não pensamos nisso!

O Orador: - Iremos ver os resultados!

Vozes do PSD: - Não, é para servir a esquerda!

O Orador: - Não, Srs. Deputados. A minha candidatura tem dois objectivos ...

O Sr. Duarte Lima (PSD): - É para servir o PRD! No fim não vai servir ninguém, mas de qualquer maneira ...

O Orador: - Podem dizer o que quiserem!

O Sr. Duarte Lima (PSD):- Está a contar o seu tempo!

O Orador: - Não se preocupe com o tempo, Sr. Deputado Duarte Lima. "O tempo não perdoa aquilo que se faz sem ele." É uma máxima sobre a qual todos devíamos reflectir.
De qualquer forma, gostaria de dizer que a minha candidatura em Lisboa tem dois objectivos exclusivos: servir o projecto do meu partido e servir Lisboa, tanto quanto formos capazes. Já agora aproveitava para lhe dizer que, relativamente a essa questão, porque já há quem utilize isso com outras intenções, não há, obviamente, qualquer acordo com alguém, muito menos com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
Não estou à espera que o PSD me envie dinheiro nem nunca me disseram que o fariam ...