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23 DE NOVEMBRO DE 1989 643

para a apreciação específica das matérias. Será evidente que não quereríamos retirar o aspecto político, já que Opções do Plano e Orçamento do Estado são sempre documentos altamente influenciados por um sentido político. Mas esperávamos que, a par dele, nos tivessem dito onde recaem os erros que, numa generalidade confrangedora, as oposições nos vêm apontando.
Quero daqui tirar a conclusão de que às oposições se deve ter levantado o problema da dificuldade em atacar os documentos em causa na sua essência, assim habilidosamente se fugindo para campos onde é mais fácil uma discussão em Plenário.
Será sinal de que o Governo não terá errado nas Opções que propõe, como não terá errado também no Orçamento das contas do Estado.
É claro que não receamos discutir em qualquer dos campos. E fizemos quanto nos foi possível, que muito de produtivo foi.
Dizia há pouco um Sr. Ministro deste Governo que uma estabilidade política democrática e contas do Estado em ordem são bases essenciais para que se alcance o progresso, que -estou convicto- todos nós queremos e vamos conseguindo em passos agigantados. Só quem for cego ou, de má fé, não queira ver é que pode negar que o País atravessa uma onda de crescimento e progresso. Somos os primeiros a dizer que queremos mais e melhor, mas também nos assiste o direito de exigir que se reconheça o muito que já fizemos.
1990 será, sem sombra de dúvida, o quinto ano consecutivo de crescimento acentuado da economia portuguesa. Durante estes anos, a linha de desenvolvimento e progresso foi sempre ascendente, sem altos e baixos que em outras épocas se verificaram, o que - haveremos de convir- é sinal evidente de uma política séria, realista e correcta.
Por isso nos sentimos calmos, serenos, conscientes de que o nosso trabalho é produtivo e, mais do que isso, visivelmente compreendidos pelo povo português.
No que respeita às Grandes Opções do Plano, o Governo privilegiou a educação, a saúde e o investimento público em estruturas básicas. Ninguém porá em dúvida o magno interesse destes sectores na vida nacional. Somos criticados por estas escolhas - por estas preferências, se assim quisermos -, mas estamos conscientes de que, se outras tivéssemos escolhido, nem por isso deixaríamos de ser contrariados, contrariedade que adviria não propriamente da escolha, mas, antes e tão-só, da necessidade que as oposições sentem, embora mal, de dizer errado tudo quanto o Governo faz.
Estamos certos de que as Opções estão correctas. Os sectores preferenciais respeitam a problemas que se nos colocam como essenciais. Sem educação não há' preparação para a vida, não há qualidade para o trabalho, não há quadros e trabalhadores especializados para o combate em que estamos empenhados e que queremos e vamos ganhar. Sem saúde não há vitalidade, não há sociedade fisicamente capaz de enfrentar o mundo duro com que hoje deparamos. Sem investimento público não há satisfação das necessidades do País e do povo, para que este se desenvolva por forma a emparceirar com os concorrentes que, a nosso lado, combatem pela sobrevivência na Europa das comunidades e do mercado.
É evidente que aceitamos que outros sectores da vida nacional têm de merecer a nossa atenção. Estamos inteiramente convictos disso. Não os abandonamos. Só que
não é possível, todos os anos, preferenciar todos os sectores. A nossa capacidade de riqueza, de criação de bens de riqueza, não chega para que todos sejam privilegiados permanentemente. Mas nem por isso abandonamos qualquer deles. Ao dar especial preferência a um, isso não significa o esquecimento de outros. Significa, apenas, que num programa de Governo para um ano se sente a necessidade de cuidar mais de uns do que de outros.
Ao longo dos anos, o Governo - e nós com ele - já mostrou que é capaz de escolher o que mais convém. No futuro -e este futuro será muito longo para nós -saberemos escolher onde deve situar-se a nossa melhor ou maior atenção.
Não estamos esquecidos, antes, especialmente lembrados, da evolução rapidíssima que, sob o aspecto político, se vem verificando na Europa e até no mundo. Ao contrário do Partido Comunista Português, que parou de raciocinar politicamente a partir de 1919 ou, se quisermos, bondosamente, a partir do estalinismo russo, estamos atentos a uma coisa que saudamos com toda a capacidade da nossa alma: a luta pela liberdade e pela democracia pluralista dos povos do Leste Europeu.

Aplausos do PSD.

Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, esta explosão dos povos ditos socialistas, mas apenas submetidos à mais feroz ditadura, não deixaria de ocorrer. A liberdade pode estar oprimida durante uns tempos, mais ou menos longos, o que nós conhecemos até por experiência própria, mas sempre chega o dia em que as ditaduras rebentam pelas costuras e o grito de alma dos homens clama pela liberdade e, por isso, a consegue. Para nós, chegou com a revolução de 25 de Abril, não obstante alguns interregnos posteriores que os ditos amantes da liberdade a quiseram roubar para implantar outra ditadura de sinal contrário. Para os povos do Leste Europeu está a chegar agora.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Todo o mundo reconhece, todos os povos se engrandecem aplaudindo a libertação. Só o Partido Comunista Português e, ao que parece, para já, a Roménia e a Albânia se vão recusando a saudar a conquista da liberdade.

Aplausos do PSD.

Sem tom jocoso, sem propósito de ofender - até porque em democracia aprendemos a respeitar a vontade dos outros, mesmo quando com ela não concordamos -, será caso para dizer que qualquer dia, quando quisermos captar turistas para o nosso sol, as nossas praias, os nossos campos, a nossa gente, teremos o direito de dizer aos nossos eventuais visitantes que também aqui podem ver ainda uma espécie em extinção: os comunistas com pensamento anterior à era de Gorbachov.

Aplausos do PSD.

O Sr. João Amaral (PCP): - Ou os únicos sociais-democratas que o não querem ser!

O Orador: - Não seremos grandemente beneficiados, já que serão poucos os que desejam tal visão.