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2292 I SÉRIE-NÚMERO 68

O Sr. Carlos Coelho (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Não obstante a violência dos factos, a direcção do PS mantém-se em silêncio.
Não falo do PCP porque o PCP deixou de existir politicamente, pois de futuro não tem nada a dizer ao mundo e ao País! Basta ter ouvido hoje aqui o seu porta-voz, o Sr. Deputado Lino de Carvalho. O prato forte da sua intervenção foi uma especulação sobre informações jornalísticas.
Falo do PS, que pretende fundir politicamente no seu projecto de poder o eleitorado comunista. Falo do PS porque o PS, não obstante - repito - a violência dos factos que falam e gritam por si, mantém-se em silêncio. Nem uma justificação, mesmo a mais simples, sobre as suas responsabilidades num passado tão recente que é ainda actual para todos nós e que tanto sofrimento e dano causou aos Portugueses e a Portugal!
A actual direcção do PS muda de palavras, mas sem credibilidade. Deveriam corar de vergonha, mas politicamente escondem a cara. A nobreza da política, Srs. Deputados, pressupõe a transparência do pensamento, a frontalidade dos comportamentos, a elevada humildade do reconhecimento dos erros e das vicissitudes do percurso humano.
Infelizmente, a direcção do PS, perante tão abaladores acontecimentos da nossa actualidade, limita-se a meter a cabeça na areia. Mais: numa pueril diversão, espécie de cortina de fumo que é sobretudo um muro de vergonha, lança-se num frenesim mimético, copiando, embora mal, o ideário social-democrata, que sempre rejeitou e tenazmente combateu.

Aplausos do PSD.

O comportamento oportunístico da actual direcção do PS constitui uma afronta a todos os portugueses, socialistas incluídos, que se bateram contra o assalto gonçalvista, contra a ditadura do modelo socialista, contra a perseguição moral, ideológica e política dos cidadãos; uma afronta a todos os que se bateram com coragem e com risco pela democracia, pelo Estado de direito, pela defesa dos interesses nacionais.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Quando o Sr. Deputado João Soares nos disse há pouco que o País pode contar com os socialistas, pode ser verdade, mas é verdade também que o País, num passado recentíssimo, não pôde contar com todos os socialistas ou, melhor dizendo, com todos aqueles que hoje pertencem ao PS.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Os que ainda ontem faziam da ideologia o seu estandarte, agitado freneticamente em nome da revolução e do humanismo, e o mito justificativo da postergação da democracia enterram hoje ideologia e ideias, atabalhoadamente, como quem enterra os vestígios do seu próprio delito. Ainda ontem, do cimo dessa montanha de cegueira e de sectarismo, faziam desabar sobre tudo e todos a sua pesporrência e a sua intolerância.
Tudo o que não fosse avançar para o socialismo era obra da reacção e de reaccionários. Tudo o que não postulava o primado do socialismo sobre a democracia era recuo histórico e avanço da reacção. Tudo o que constituísse denúncia e rejeição do campo socialista, liderado pela URSS, era marca segura de alinhamento com as forças internacionais da reacção. O próprio europeísmo surgia como uma negra manobra da hidra capitalista e incensava-se como tabu mítico o terceiro-mundismo.
A actual direcção do PS é uma direcção de arrependidos. Do sectarismo ideológico passou para o vazio ideológico, reduzindo o ideário do PS a uma mera avidez de poder, a todo o preço.
A direcção do PS está envergonhada e atordoada, nesta época vertiginosa de descalabro dos seus mitos e de libertação do pensamento político. Por isso corre desesperadamente atrás de ideários alheios, afivelando nervosamente uma máscara de renovação, de modernidade e de portugalidade.
Mas quanto maior é o vazio ideológico do PS maior é a sua apetência pelos puros mecanismos de aparelho partidário. O PS é hoje um partido amordaçado, onde imperam os comissários políticos.

Vozes do PSD:-Muito bem!

O Orador: - Que seria do País entregue a esta gula sectária? Que seria do futuro de Portugal entregue a esta incentivei avidez de poder? Que credibilidade merecem os que ontem pensavam tudo e hoje pensam nada? Que ideias tem hoje, de facto, o PS? Que pensa ele, de facto, sobre os recentes acontecimentos mundiais? Que propostas próprias, suas, tem o PS para Portugal? Nada!

Protestos do PS e do PCP.

A Sr.ª Presidente: - Queira terminar a sua intervenção, Sr. Deputado, uma vez que já ultrapassou o tempo de que dispunha em quase quatro minutos.

O Orador: - Termino já, Sr.ª Presidente. Se a sua tolerância fosse infindável, satisfaria o desejo destes senhores: ouvir-me-iam até à meia-noite, porque os senhores tem muito que ouvir.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente: - Sr. Deputado, a tolerância da Mesa, como é natural, não pode nunca ser infindável. Peço-lhe, pois, o favor de terminar a sua intervenção.

O Orador: - Vou terminar, Sr.ª Presidente.
Que pensa o PS, de facto, sobre as grandes questões nacionais? Quais são as suas propostas sobre o futuro de Portugal? Hoje, Srs. Deputados, o PS não pensa nada de seu. O PS, hoje, não é senão uma enorme febre de poder e uma promessa: saciar clientelas, as suas e as dos seus aliados.

Aplausos do PSD. Risos do PCP.

A Sr.ª Presidente: - Inscreveram-se para pedir esclarecimentos os Srs. Deputados José Lello e Alberto Martins. Saliento, porém, que o Sr. Deputado Silva Marques não dispõe de tempo para responder.

Vozes do PS e do PCP: - Não precisa!

A Sr.ª Presidente: - Porém, a Mesa conceder-lhe-á um minuto.
Tem, pois, a palavra o Sr. Deputado José Lello.